Das causas aos próximos passos. Tudo o que já se sabe sobre o apagão
A partir das 11h30 desta segunda-feira, Portugal e Espanha ficaram sem eletricidade. Perceba melhor o que aconteceu, com base nas explicações dadas pela operadora das redes elétricas nacionais, a REN.
Das causas aos próximos passos. Tudo o que já se sabe sobre o apagão
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O que levou ao apagão?
A única certeza é que o apagão resultou de um desequilíbrio na rede elétrica, embora a causa para esse desequilíbrio ainda não tenha sido apurada (ver próxima questão).
No entanto, é certo que, momentos antes das 11h33, verificou-se uma grande oscilação na tensão da rede espanhola, explicou João Conceição, administrador da REN com o pelouro das operações, ao fim da tarde, em declarações aos jornalistas. Naquele momento, o sistema elétrico português estava a importar eletricidade do país vizinho, algo que “tem sido normal nestes últimos dias”. Portugal importa eletricidade para que possa usufruir de energia mais barata produzida em Espanha, já que existe uma elevada penetração de centrais solares do outro lado da fronteira.
No entanto, a oscilação no nível de tensão da rede elétrica ditou que os sistemas de controlo e proteção de centrais elétricas disparassem, “algo equivalente ao que acontece nas nossas casas com os disjuntores de um quadro”, ilustrou João Conceição. No sistema elétrico, “quando há qualquer desequilíbrio, o sistema vem todo o abaixo“.
Nas casas, se o disjuntor dispara, e só for ligado de novo, é provável que volte a disparar. É necessário desligar um eletrodoméstico antes de ligar o disjuntor — isto é, procurar de novo o equilíbrio. “Está a ser feita a mesma coisa à escala de todo o país“, explicou o responsável.
Proxima Pergunta: Qual foi a causa do apagão desta segunda-feira?
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Qual foi a causa do apagão desta segunda-feira?
“Ainda não conseguimos, com toda a certeza, apontar para nenhuma causa concreta”, indicou o responsável com o pelouro das operações na REN. Para Conceição, a prioridade é a recuperação da estabilidade do sistema elétrico. O apuramento das causas “vai demorar tempo”, pois a REN não quer “tirar conclusões precipitadas”. No entanto, adiantou que não possuía “qualquer informação” sobre um eventual ataque cibernético, uma das hipóteses levantadas ao longo da tarde, mas que não foi confirmada oficialmente por nenhuma entidade.
Proxima Pergunta: O que fizeram a REN e a E-Redes para resolver o problema?
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O que fizeram a REN e a E-Redes para resolver o problema?
De acordo com o administrador da REN, a operadora da rede esteve em “estreito contacto” com a congénere espanhola, a Red Eléctrica, e com os produtores de eletricidade, para estes últimos irem ligando centrais de produção de forma controlada, “cuidada e progressiva”.
As equipas da REN foram todas convocadas quer para o centro de despacho nacional (onde se cruzam os consumos e a oferta de eletricidade, de forma a existir o desejado equilíbrio), quer para o terreno, onde foram desencadeadas operações manuais ao comando do centro de despacho.
Por seu lado, a E-Redes, empresa responsável pelas redes de distribuição de eletricidade em Portugal, fez saber, através de um comunicado, que colocou em ação o Plano Operacional de Atuação em Crise, no estado máximo de emergência, logo às 11h30 da manhã. Foi mobilizado todo o dispositivo operacional dedicado à execução deste plano, para se poder restabelecer a distribuição de energia, sempre em coordenação com a REN.
Proxima Pergunta: Há o risco de recuos na recuperação?
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Há o risco de recuos na recuperação?
Sim.
O administrador da REN aponta que a retoma tem sido feita de forma cautelosa e “progressiva”, de forma a garantir que a resposta vai sendo sustentada e que “não corremos o risco de criar um novo desequilíbrio e voltar tudo atrás”.
“Numa situação desta natureza, é crucial não dar um passo em falso, ou podemos deitar fora a recuperação“, indicou João Conceição.
Na intervenção que fez pelas 21h20 de segunda-feira, o primeiro-ministro também referiu a possibilidade de novos constrangimentos no fornecimento de eletricidade.
Já em declarações à CNN, o ex-presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, Jorge Vasconcelos, esclareceu que podem existir “avanços e retrocessos”, que consistam na necessidade de cortar o abastecimento numa determinada zona, de forma a criar o equilíbrio que permite avançar. Interrupções estas que seriam “relativamente curtas” e com o objetivo de estabilizar oferta e consumo a determinada hora.
Proxima Pergunta: Quais são os próximos passos?
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Quais são os próximos passos?
Depois de ultrapassar a situação de apagão, será necessário avaliar os mecanismos de recuperação, de forma a perceber se se devem fazer “alterações ou algumas melhorias”, indicou João Conceição.
Tem de ser avaliado, por exemplo, se os níveis de redundância e de recuperação do sistema são adequados e suficientes, à luz de uma “circunstância extrema” como a desta segunda-feira. No entanto, há que estar consciente que “mais sistemas de recuperação significam mais custos”. Olhando a esta dicotomia, é importante perceber se faz sentido aumentar capacidade de resposta ou se o custo que isso acarreta não se justifica. “Hoje, todos vão dizer que é mais que justificado. Mas daqui a uns tempos, estaremos mais preocupados com o custo da conta de eletricidade”, indica.