Quais são as consequências do petróleo abaixo de 65 dólares?

- ECO
- 1 Junho 2025
Com a guerra comercial, o apelo de Trump para “perfurar como um louco” e o aumento das quotas da OPEP+, o petróleo estagnou no nível mais baixo desde a pandemia.
Quais são as consequências do petróleo abaixo de 65 dólares?

- ECO
- 1 Junho 2025
-
Um aliado contra a inflação?
A queda dos preços do petróleo está a ajudar a abrandar a inflação e a impulsionar o crescimento nos países importadores de petróleo, como a Europa. “Os consumidores vão ser os vencedores” desta queda, disse Pushpin Singh, economista da Cebr, uma empresa britânica de consultoria e análise económica.
Em 2024, por esta altura, o petróleo Brent estava a ser negociado entre 75 e 80 dólares por barril.
A perda de mais de 10 dólares tem impacto nos cálculos da inflação, que incluem as despesas energéticas, muito dependentes do petróleo a nível mundial, nomeadamente com a utilização de combustíveis e outros produtos derivados diretamente do petróleo.
Em abril, o índice de preços no consumidor (IPC) abrandou ligeiramente nos Estados Unidos graças à descida dos preços dos combustíveis (menos 11,8% desde abril de 2024).
Em termos concretos, o petróleo mais barato “aumenta o nível de rendimento disponível que os consumidores podem gastar em artigos” como a alimentação, o vestuário, o lazer ou o turismo, disse o economista.
Ou seja, o poder de compra dos consumidores.
A médio prazo, a descida dos custos de transporte e de produção dos bens de consumo pode também ter um impacto nos preços dos produtos acabados.
“É provável que, no futuro, as vendas a retalho sofram uma certa pressão no sentido da baixa, devido à diminuição dos custos dos fatores de produção”, afirmou Singh.
Uma vez que a queda do preço do “ouro negro” é, em parte, uma consequência da política comercial do Presidente Donald Trump, o resultado líquido sobre a inflação continua a ser difícil de prever.
No entanto, o economista mostrou-se moderado, uma vez que a guerra aduaneira “representa intrinsecamente um enorme custo adicional” sobre as importações.
Proxima Pergunta: Inimigo das companhias petrolíferas?
-
Inimigo das companhias petrolíferas?
Os produtores de energia são os claros perdedores da queda dos preços do petróleo.
“Sobretudo os produtores de alto custo que, aos preços atuais e aos preços mais baixos, são obrigados a fazer cortes nos próximos meses”, explicou o analista do Saxo Bank Ole Hansen.
“Um preço do petróleo abaixo ou próximo dos 60 dólares não será, obviamente, o ideal para os produtores de xisto”, confirmou Jorge Leon, analista da Rystad Energy.
Algumas empresas de xisto já anunciaram que estão a reduzir os investimentos na Bacia do Permiano, uma região produtora de gás natural situada entre o Texas e o Novo México.
“O petróleo mais barato também torna as fontes de energia renováveis menos competitivas e pode abrandar o investimento em tecnologias verdes”, alertou Pushpin Singh.
Para os países da OPEP+, que têm vindo a abrir as comportas desde abril e a fazer baixar os preços do petróleo, a tolerância aos preços baixos é muito variável.
Proxima Pergunta: Quem ganha e quem perde?
-
Quem ganha e quem perde?
A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait dispõem de reservas de divisas e podem facilmente contrair dívidas para financiar projetos de desenvolvimento e de diversificação económica, segundo Leon.
Estes países serão mesmo “vencedores a longo prazo”, porque estão a “recuperar a quota de mercado perdida desde 2022, quando começaram a reduzir voluntariamente a produção”, segundo Ole Hansen.
No sábado, Riade, Moscovo e seis outros membros da OPEP+ decidiram aumentar a produção em mais 411 mil barris por dia em julho.
A situação parece mais delicada para países como o Irão e a Venezuela, cujas economias menos diversificadas dependem fortemente das receitas do petróleo, ou a Nigéria, cuja capacidade de endividamento é menor.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’ da Guiana, que disparou nos últimos anos graças à descoberta de grandes reservas de petróleo, poderá também abrandar fortemente.
“A descida dos preços do petróleo será prejudicial para o seu desenvolvimento”, confirmou Singh.