António Pires de Lima está prestes a fechar o maior aquisição desde que é CEO da Brisa. O negócio de compra da operadora Axxès "é gigante". "Nas concessões, somos mais prudentes", atira.
António Pires de Lima é CEO do grupo Brisa desde outubro de 2020 e está prestes a fechar o maior negócio desde que está em funções, a aquisição da operadora francesa de portagens de veículos pesados, presente em 14 países. Com a aquisição da Axxès — ainda pendente da autorização dos trabalhadores e dos reguladores locais — “a Via Verde passará de uma dimensão de cerca de 60 milhões de euros de faturação [ano] para mais de 100 milhões nos próximos dois anos“, revela o gestor. O plano estratégico do grupo até 2028 está a meio caminho, e está a ser cumprido relativamente aos negócios da Via Verde e da Controlauto. Já em relação às concessões rodoviárias internacionais, o gestor é mais cauteloso: “Nas concessões, os saltos são mais one-off, portanto não é tão fácil de prever quando é que estaremos exatamente no cumprimento desse objetivo visionário que traçámos para 2028“.
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António Pires Lima, bem-vindo ao Estúdio ECO. A Brisa acaba de anunciar negociações exclusivas para a compra de um operador de portagens de veículos pesados em França. A concretizar-se, o que é significa para o grupo Brisa a aquisição da operadora francesa Axxès?
Essa operação, quando se concretizar, porque como disse o António e bem, ainda está pendente em termos de closing da autorização dos representantes dos trabalhadores, o que acontece em qualquer empresa em França, e das entidades regulatórias, significa um passo gigante na afirmação da Via Verde do ponto de vista internacional, e também um ganho de competências e de peso no negócio B2B [Business to Business], portanto na atividade de ‘Electronic Tool Collection‘ de veículos pesados…
É a maior operação que fez desde que é CEO da Brisa?
Sim, sem dúvida. Repara, a Axxès faz mais de um milhão de transações eletrónicas por ano. Está presente em 14 países, isto é, os seus clientes estão presentes em 14 países e têm acesso a serviços em 14 países na Europa Ocidental, e a França é o mais importante. Tem escritórios nestes países, presta serviços nestes países e, portanto, representa do ponto de vista de dimensão, de especialização no setor B2B e de expansão geográfica, um passo muito importante e uma aposta muito significativa dos acionistas da Brisa, e da Brisa enquanto acionista da Via Verde. E foi um passo que foi sendo preparado, porque ao longo dos últimos cinco anos, além de termos aumentado substancialmente a dimensão da nossa atividade em Portugal, adquirimos as duas participações dos sócios que tínhamos na Via Verde, primeiro a SIBS, no ano de 2021, e recentemente a Ascendi, embora no caso da Ascendi ainda sujeita à aprovação do Banco de Portugal, de forma a termos, do ponto de vista acionista, a coerência e a consistência que nos permitisse dar este salto sem que houvesse qualquer desalinhamento de interesses. Depois, também ao longo dos últimos dois anos, a Via Verde ganhou dois contratos, muito importantes em concorrência aberta com operadores de outros países, nomeadamente germânicos. Num país muito exigente, que são os Países Baixos, primeiro para a instalação de um sistema de portagens num túnel que serve o Porto de Roterdão, Blackenburg, e mais recentemente, num projeto que ainda está em desenvolvimento, para a instalação de um sistema de portagens, através de geolocalização, de todos os veículos pesados que frequentem todas as autoestradas e estradas nos Países Baixos. Os ganhos destes contratos, muito importantes, deram-nos também o lastro e a confiança para agora avançarmos para esta aquisição, transformando a Via Verde num dos grandes players europeus na área de serviços de mobilidade, nomeadamente a ‘Electronic Tool Collection‘.
Qual é o valor de aquisição da Axxès?
Não estou autorizado…
…vamos, então perceber a dimensão deste negócio. Acaba de afirmar que é “gigante” para a Via Verde. Qual é a faturação desta empresa francesa?
Aquilo que estou autorizado a dizer, porque o closing ainda não está feito, é que com esta aquisição, a Via Verde passará de uma dimensão de cerca de 60 milhões de euros de faturação [ano] para mais de 100 milhões nos próximos dois anos. Portanto, há a expectativa, com um negócio que é completamente complementar ao da Via Verde em termos de especialização, e que acrescenta 14 geografias ao nosso processo de internacionalização num só movimento, de, numa primeira fase, praticamente dobrarmos a dimensão da Via Verde.

À data da apresentação do Plano Estratégico da Brisa até 2028, dizia: “A sustentabilidade e o futuro da Brisa não podem estar dependentes de um só país ou de um só decisor político”. Os 14 mercados onde está a Axxès passam a ser críticos para a expansão do grupo Brisa ou apenas para a Via Verde, tendo em conta a complementaridade dos negócios?
Com certeza, para a Via Verde e também na Controlauto, temos dado passos significativos na concretização e na execução do plano estratégico que foi definido de forma mais precisa há dois anos, em 2023. Diria até que esta aquisição da Via Verde acelera o processo de desenvolvimento que tinha sido previsto para a empresa e é uma prova enorme, se quiser, de confiança nas competências de gestão e tecnológicas que a Via Verde tem demonstrado. De facto, tanto com a Via Verde como, também gosto de insistir neste ponto, porque também temos dado passos importantes, e ainda ontem [23 de julho] fizemos o closing de uma operação de compra de centros de inspeção técnica em Espanha, que tinha sido anunciada há uns meses… Estamos a apontar para ter uma dimensão de cada um destes negócios superior a 100 milhões de euros em 2028, e substancialmente multiplicada relativamente à realidade que tínhamos em 2020 e 2021.
E diversificada do ponto de vista internacional…
E diversificada do ponto de vista internacional, e também, no caso da Via Verde, com uma vida própria que vai muito para além do serviço que faz às autoestradas nacionais, nomeadamente ao Grupo Brisa.
Há espaço para a Via Verde entrar noutros negócios na mesma fileira, complementares ou não, que possam dar mais escala à companhia?
Eu gosto muito de ter uma agenda focada e que as nossas equipas estejam focadas naquilo que têm de executar. E quando estiver concretizada esta operação, penso que a prioridade, nomeadamente durante o próximo ano, é garantir que ao nível da execução, fazemos o delivery, fazemos a entrega daquilo que justificou esta operação. É um salto muito importante no processo de crescimento, de desenvolvimento de competências, de internacionalização, que vai também beneficiar a nossa atividade em Portugal porque, com certeza, vamos adquirir competências que nos serão úteis também no negócio B2B em Portugal e que vai, obviamente, concentrar aquilo que é o esforço da equipa de gestão da Via Verde, liderada pelo meu colega Eduardo Ramos.
O anúncio do plano estratégico comporta valores, a expressão é minha, no mínimo ambiciosos, tendo em conta o ponto de partida, quando se fixa, nomeadamente, a internacionalização. À data foram definidos vários objetivos, mas dois particulares: Dobrar o valor da empresa Brisa até 2028 e ter um terço da atividade gerada fora do país. Estamos mais ou menos a meio do caminho do período de vigência do plano. Está a meio do caminho no cumprimento daquelas metas?
Diria que estamos acima do caminho naquilo que diz respeito à Via Verde e à Controlauto, que tem evoluído em termos de execução de uma forma muito significativa. Nas concessões, os saltos são mais one-off, portanto não é tão fácil de prever quando é que estaremos exatamente no cumprimento desse objetivo visionário que traçámos para 2028. Foi uma linha que foi traçada, temos feito alguns esforços importantes, a constituição de uma equipa que está a trabalhar no México e que funciona como uma antena do grupo Brisa para a América do Norte e para alguns países da América Central. Há uns anos concorremos, não ganhámos, a um concurso na Grécia. Aquilo que é normal é que continuemos com este esforço de internacionalização das concessões Mas aí, eu diria, temos que ser mais prudentes nas nossas abordagens…
…Porquê? Pela dimensão do negócio…
Olhe, primeiro pelo conjunto de oportunidades que há, segundo porque o mundo e muitas geografias, no último ano e meio, tornaram-se mais imprevisíveis, mais incertas. Não vou, obviamente, fazer qualificações políticas, mas o mundo em 2025 está um pouco mais incerto e imprevisível, do ponto de vista político, às vezes do ponto de vista regulatório, do que aquele que tínhamos em 2023. Portanto, é um caminho que está definido, cuja concretização depende muito de oportunidades, depende também de encontrarmos conforto do ponto de vista regulatório nos mercados para os quais dirigimos a nossa atenção. Há uma linha que está definida mas não é possível ser nas concessões tão preciso como estamos a ser na Via Verde e na Controlauto.
Tendo em conta o objetivo tão ambicioso, e mesmo tendo em conta o perfil de acionistas que a Brisa tem hoje — fundos e a família –, o cumprimento desses objetivo pode levar a gestão da Brisa a ser mais ousada, a ter mais capacidade de risco?
Não é uma questão só de capacidade de risco da equipa de gestão, é uma questão de, entre todos, acionistas, equipa de gestão, estarmos convencidos que as oportunidades que existem justificam o nosso investimento. Às vezes, dizemos isto muitas vezes nas nossas autoestradas, “devagar se vai longe” e, por isso, em matéria de concessões, a linha estratégica está definida, a visão foi assumida, estamos a trabalhar em vários projetos, e quando houver novidades, comunicaremos. Não é um tema que se possa antecipar numa entrevista, embora eu perceba perfeitamente o seu interesse.
Acho que é importante as empresas terem uma visão que possam quantificar, é uma linha que está definida e que todos os anos procuramos rever em função das oportunidades que existem. O caminho, de facto, está definido com os acionistas em termos de maior exposição à internacionalização do grupo. Na Via Verde e na Controlauto, a evolução fala por si. Nas concessões, somos mais prudentes, até porque os riscos políticos do mundo de hoje não são exatamente aqueles que vivíamos em 2022, 2023 e 2024.
Os objetivos da Brisa, de qualquer forma, são chegar a um terço de atividade com origem noutras geografias em 5 anos, até 2028. Está obviamente muito dependente das concessões. Mantém esse objetivo?
É uma linha de atuação, não é uma obsessão. Acho que é importante as empresas terem uma visão que possam quantificar, é uma linha que está definida e que todos os anos procuramos rever em função das oportunidades que existem. O caminho, de facto, está definido com os acionistas em termos de maior exposição à internacionalização do grupo. Na Via Verde e na Controlauto, a evolução fala por si. Nas concessões, somos mais prudentes, até porque os riscos políticos do mundo de hoje não são exatamente aqueles que vivíamos em 2022, 2023 e 2024. A seu tempo, e quando houver alguma operação que esteja em condição de ser anunciada, teremos todo o gosto em partilhar com a comunicação social.
Falemos, então, das concessões da Brisa em Portugal. Como está a comportar-se o tráfego em 2025? Permitirá consolidar os resultados de 2024, que revelaram receitas operacionais superiores a mil milhões de euros?
É verdade. Este ano, em 2025, no conjunto de todo o grupo, não só as concessões, mas também o contributo crescente que têm dado as outras unidades de negócio. Também vale a pena aqui destacar a evolução positiva da A-to-B e da Colibri, embora sejam unidades mais pequenas. No conjunto, a nossa previsão é superar os 1.100 milhões de euros de faturação este ano. O tráfego continua a ter uma evolução positiva, está muito relacionado com o crescimento da economia e, nomeadamente, com o aumento da população em Portugal pós período de Covid. Nós, em 2024, terminámos o ano com um tráfego já 15% superior àquele que tínhamos em 2019…
…Antes da pandemia?
Antes da pandemia e, de facto, tem havido uma dimensão acrescida de tráfico pelo crescimento da população. É muito significativo que a população portuguesa, nomeadamente ao nível da imigração, tenha mais do que dobrado nos últimos cinco anos. Por outro lado, há outras dimensões da nossa atividade, para além do tráfego e do volume de negócios, que têm evoluído de uma forma muito positiva e eu permitia-me destacar duas, que fazem parte, aliás, do nosso propósito.
Quais?
O propósito do Grupo Brisa é transformar a qualidade de vida das comunidades que servimos, ligando as pessoas, através de uma mobilidade simples, isto é Via Verde, segura e sustentável. E ao nível da segurança e da sustentabilidade, não podemos deixar de sentir algum orgulho e sentimento do dever cumprido através do registo que sistematicamente mantemos de trabalho em grande parceria com as autoridades, a ANSR, a GNR, com quem, por exemplo, ainda nas últimas semanas estivemos, termos diminuído o número de sinistralidades graves, nomeadamente mortalidade nas nossas autostradas, de uma forma muito significativa desde 2019.
O que é que contribuiu para garantir ou para permitir essa diminuição de sinistralidade grave?
Em 2019 tivemos 33 fatalidades, 33 mortes na rede de autoestradas total da Brisa. No ano passado tivemos 15. Este ano é certo que terminaremos com um registo, em termos de segurança, muito superior àquele que tínhamos há quatro ou cinco anos e perfeitamente alinhado com a meta que estabelecemos em 2021 de reduzir a sinistralidade grave e, nomeadamente, a mortalidade nas nossas autoestradas para metade até 2030. A Brisa, o grupo Brisa, foi a única concessionária de autoestradas em Portugal que assinou com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, a ANSR, um compromisso de zero mortes e zero acidentes graves até 2050 e com metas, estas que estabeleci, até 2030. O que é que contribuiu ou está a contribuir todos os dias, todos os meses, todos os anos para estes resultados? Em primeiro lugar, o investimento que o Grupo Brisa faz, permanente, na segurança das suas autoestradas. Exploração de novos pavimentos com o Isel, com o Técnico, em parceria com o mundo da investigação e universitário em Portugal, um cuidado extremo na operação, na gestão das nossas autoestradas, ainda ontem [dia 23 de julho] visitei com a GNR e com as autoridades da Proteção Civil, o Centro Operacional de Leiria, por exemplo. O trabalho em registo de parceria, o investimento de mais de 60 milhões de euros por ano na manutenção das condições das nossas autostradas.
Mais radares também?
A colaboração com as entidades reguladoras, nomeadamente com a ANSR, é fundamental para moderar a velocidade com que as pessoas utilizam as autoestradas. Eu sei que não é agradável, enquanto utilizador das autoestradas, sermos confrontados com controlos de velocidade que muitas vezes nos parecem supérfluos.
E sobretudo quando há investimento na qualidade da autoestrada que permite andar em segurança a uma velocidade superior…
…é uma ilusão, António, porque à medida que aumenta a velocidade, e nomeadamente que passamos as barreiras dos limites de velocidade que estão estabelecidos por alguma razão e são mais ou menos equivalentes em todos os países da União Europeia, mais exigentes até, como se sabe, muito mais exigentes para as Unidas da América, a probabilidade dos acidentes se verificarem com consequências graves aumenta exponencialmente. Ainda recentemente, a ANSR demonstrou que em pontos negros de autoestradas ou estradas onde tinha colocado controladores de velocidade, o número de mortes tinha diminuído, por exemplo, num caso de 5 para 0. Eu sei que não é a experiência mais agradável ser controlado do ponto de vista de velocidade, mas é determinante para a diminuição da sinistralidade grave, com consequências muito graves, na vida das pessoas. E nós continuamos a ter uma taxa de sinistralidade e de mortalidade nas autoestradas ou nas estradas portuguesas, melhor dizendo, que é uma das piores da Europa.
Aliás, a Brisa tem evoluído, positivamente, em contraciclo com aquilo que se passa nas estradas nacionais. Portanto, esta cooperação com as autoridades, este registo de trabalho em parceria com a NSR e com a GNR, nomeadamente, com as autoridades também de proteção civil, tem sido determinante em paralelo com o investimento que fazemos nas autoestradas. Gostava de lhe dar um dado. Mesmo sem muitas vezes as pessoas terem tempo ou oportunidade para falarem para os serviços de assistência rodoviária da Brisa, nós orgulhamo-nos de, em média, em menos de seis minutos, estarmos no local dos acidentes, ou quando alguém tem algum problema e tem de parar nas nossas autoestradas. Isto devido ao serviço de vigilância, de controlo operacional que é exercido nas nossas autoestradas pelos nossos centros operacionais. Finalmente, há uma última vertente, se me permite ser extensivo, que é a comunicação. A comunicação é determinante no sentido de sensibilizar as pessoas, nomeadamente nestas alturas críticas do ano, para uma condução mais responsável.
Está a falar de comunicação nas autoestradas?
Comunicação nas autoestradas e comunicação pelos nossos meios, sem nada que nos exigisse, em campanhas de comunicação, como aquela que está neste momento no ar, nos vários meios de comunicação social, nomeadamente na televisão. “Conduza como se houvesse amanhã”. É o leitmotif da nossa campanha deste ano. E apela, nomeadamente nestas alturas em que saímos para férias e temos pressa de chegar ao destino, precisamente a esta noção de que devagar se vai longe e se garante que chegamos ao destino.
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Axxès vai “praticamente dobrar faturação da Via Verde” em dois anos
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