Desastres naturais vão “ser mais regulares”, convém apostar na proteção

Ana Paulo, Head of Life da Zurich Portugal, revela que seguros de vida mais se destacaram este ano, avalia o perfil dos clientes e realça as soluções do mercado para fenómenos climáticos extremos.

Ana Paulo, Head of Life da Zurich Portugal, alerta que a perceção que muitos portugueses têm sobre o custo dos seguros de proteção patrimonial pode deixá-los vulneráveis perante fenómenos naturais extremos, como as chuvas torrenciais que assolaram a vizinha Espanha. Segundo Ana Paulo, a pressão económica leva muitos consumidores a optar apenas pelas coberturas obrigatórias, sem considerar proteções adicionais que poderiam ampará-los em casos de sinistros inesperados.

Em conversa com o Ecoseguros, a especialista aborda ainda o impacto da inflação na capacidade de poupança dos portugueses, a crescente importância dos seguros de vida e as ações da Zurich para promover a literacia financeira.

A inflação e as incertezas económicas que as famílias enfrentam têm afetado a atratividade dos seguros de vida em Portugal?

Os seguros de vida continuam a ser atrativos. Obviamente que a crise económica e a inflação afetam a capacidade dos clientes de fazer poupanças ou investir. Em momentos de crise económica, todas as famílias acabam por decidir os seus gastos e o seu orçamento em função do que é prioritário.

Independentemente da enorme importância que é poupar, investir e proteger-se de eventos mais críticos, a atividade de seguros por vezes fica prejudicada pela incapacidade económica.

Entretanto, as taxas de juro começaram a descer, o que também tem vindo a permitir que as famílias tenham alguma folga orçamental, nomeadamente no crédito habitação, que foi o que durante 2022 e 2023 mais impactou as famílias. Também a inflação não tem aumentado de forma significativa. O que acaba por trazer alguma estabilidade económica às famílias, que ficam com um bocadinho de mais liberdade para pensar em proteger o seu futuro.

[Desastres naturais] hão-de começar a ser mais regulares (…) e as pessoas têm que começar a pensar que a sua proteção tem de aumentar.

Para proteger o seu futuro, os consumidores precisam de saber com o que podem contar. Se Portugal for afetado pelas chuvas extremas, como as que inundaram as cidades espanholas, existem produtos de seguro que cubram os danos?

Sim, existem. No caso concreto de cheias, agora em Espanha, que afetaram mais o património, quer no seguro automóvel, quer no seguro do lar, existem coberturas e existem condições para cobrir, ou não, intempéries, eventos climáticos, etc.

Por vezes, quando um cliente está a subscrever um seguro, olha muito para o preço, e no caso do automóvel, por exemplo, há muitos clientes que compram só a cobertura obrigatória, que é a responsabilidade civil sobre terceiros. Ora, nesse caso, obviamente que se o carro ficar danificado por uma cheia, não está coberto. Mas existe essa cobertura. Obviamente que essas coberturas têm um preço, porque, como vemos, os prejuízos são de milhões.

Muitas vezes, o cliente opta por comprar o seguro obrigatório – compra só o mínimo que necessita – porque estes eventos até agora têm sido pontuais. Mas [os desastres naturais] hão-de começar a ser mais regulares, pelo menos é isso que os cientistas indicam, e as pessoas têm que começar a pensar que a sua proteção tem de aumentar.

Que produtos de seguro de vida têm tido mais força este ano?

Este ano estamos a crescer nos produtos financeiros e o mercado também cresce nos produtos Vida Risco.

As pessoas estão muito atentas [aos produtos de proteção do património] quando compram uma casa. O contrato de seguro é sempre um fator que os bancos privilegiam para suportar o contrato de crédito, o que trouxe uma mentalidade ao cliente da importância de ter o seguro de vida, porque se houver alguma coisa, tem o património da casa salvaguardado.

Portanto, o nosso mercado de proteção tem crescido sempre. Mas há um longo caminho a fazer e tudo depende da capacidade financeira das famílias portuguesas

Como avalia a evolução da cultura de poupança em Portugal e quais os principais fatores que influenciaram mudanças? Qual é o peso da literacia financeira na tomada de decisões dos consumidores?

Não ponho tanto a questão de iliteracia financeira [como fator imperativo para contratar seguros]. Ponho mais na questão da capacidade económica.

Se recuarmos 50 anos, havia uma expressão muito portuguesa que era “temos de constituir um pé de meia”. Ou seja, as pessoas tinham consciência que não existiam tantos serviços sociais, não havia tanto suporte de Estado. Portanto, as pessoas sabiam que tinham que constituir uma poupança, porque se tivessem uma doença precisavam de suporte adicional ou quando deixassem de trabalhar também precisavam de ter dinheiro para fazer face aos últimos anos de vida.

À medida que em Portugal o sistema social melhorou, particularmente após 1974 e mais em especial após os anos 80, o foco das pessoas passou a ser muito mais direcionado para o [consumo] imediato. Todos nós vivemos muito mais o imediato e cultura é um fator importante, seja ela uma de viagens ou noutras despesas.

Temos imensas exigências de consumo importantíssimas para o nosso dia a dia, o que nos retira depois a capacidade para poupar, em particular num país como Portugal, que tem um nível salarial baixo comparativamente a outros países da Europa.

Evoluímos bastante nos últimos 30 anos em termos de consumo, de qualidade de vida, de hábitos, das nossas casas que, apesar de ainda haver muita pobreza energética, são muito melhores do que eram há 50 anos. Obviamente que isso teve um preço e sobra menos para a proteção e para a poupança. Esse é, na minha opinião, o fator preponderante.

Agora, quando há essa folga orçamental por parte das famílias, acho que os portugueses estão muito atentos e crescemos nos Planos Poupança Reforma (PPR).

Quais são as diferenças entre os produtos PPR disponíveis no mercado?

No caso da Zurich, nós temos produtos PPR de capital garantido, para clientes que são completamente avessos ao risco, ou seja, são pessoas que não querem correr nenhum risco de perca do valor investido.

Mas temos também um produto PPR ligado a fundos de investimento, portanto é um produto já com um risco de investimento, o valor do produto oscila diariamente e existe uma maior probabilidade de ter uma rentabilidade maior, porque a carteira de ativos afeta tem uma componente de ações e outro tipo de investimentos que permitem uma maior rentabilidade, mas também, obviamente, é mais sensível a oscilações do mercado financeiro.

Estes dois produtos respondem à globalidade, ou pelo menos à maioria, do perfil dos clientes Zurich.

A Zurich aposta na literacia para os seguros junto dos consumidores?

Temos sempre muito foco na formação e no treino que damos aos nossos canais distribuição. Por outro lado, a nível do nosso website temos também informação de literacia financeira, nomeadamente no que diz respeito PPR, que é algo que os clientes procuram muito.

Dessa forma tentamos chegar aos nossos clientes, quer seja por via das nossas funcionalidades digitais, quer seja através dos distribuidores.

Ao longo da entrevista, aponta para as condições financeiras como sendo o motor do comportamento dos consumidores. Quais são as diferenças entre os investimentos dos portugueses e das famílias de países com salários médios mais elevados?

Se falarmos com alguém que vive na Suíça ou que é suíço, a questão da proteção está muito presente e as pessoas olham para o seu rendimento e decidem: isto é para os gastos familiares, isto é para proteção, e este valor é para eu me divertir. Já na maioria das famílias [portuguesas] sobra pouco para as pessoas se preocuparem com proteção.

Mas muitas vezes pode haver também uma questão do cliente ter uma perceção que é muito caro fazer essa proteção e, na realidade, pode não ser muito caro fazer. Se optar por um produto poupança de 25 euros por mês, é o mesmo valor de jantar que às vezes até é mais caro. Por isso, a título de exemplo, ao invés de ir jantar quatro vezes por mês fora, pode ir três e investir no produto.

Temos de passar mais esta informação para que os clientes tenham a perceção que não é nenhum “bicho de sete cabeças”, que não é assim tão caro fazer uma pequena poupança, ou fazer uma proteção para eventos mais críticos.

Mas, de facto, nós somos um país com um salário médio baixo. Hoje em dia as despesas da casa ocupam uma grande parte do orçamento familiar. E vimos, durante o ano passado, um aumento das taxas de juro e tivemos situações de pessoas em situação bastante crítica, porque de repente já deixaram de ter capacidade para pagar o empréstimo ao banco e portanto acabam por todos esses fatores estarem interligados, mas também de alguma perceção que pode ser menos correta por parte dos consumidores.

Cada um de nós tem de fazer alguma coisa por si e não estarmos eternamente à espera da proteção do Estado ou da proteção dos outros cidadãos

Qual é a importância da autoproteção financeira, mesmo em países com sistemas sociais robustos?

É importante que cada um de nós faça a sua própria proteção. Volto a repetir, independentemente de Portugal até ser dos países que têm um sistema social robusto e com muitos benefícios para os cidadãos, há aqui um fator que é parte privada, que é a nossa parte, e nós temos também fazer alguma coisa por nós e pelo país.

Portanto, pouparmos para reforma, para eventos mais críticos, ou para um seguro automóvel mais alargado e não ser só a cobertura de responsabilidade civil, termos um seguro de vida são tudo coisas fundamentais.

Cada um de nós tem de fazer alguma coisa por si e não estarmos eternamente à espera da proteção do Estado ou da proteção dos outros cidadãos (resultado dos impostos que todos nós pagamos).

Esse é um fator importante: as pessoas terem consciência que ‘se eu não fizer por mim, não posso estar à espera que seja o outro a fazer’. Convém criar essa mentalidade quando as pessoas entram na vida ativa, depois torna-se muito mais fácil continuar e não o fazer só quando está a meia dúzia de anos de reforma, aí pode ser tarde.

Temos hoje muitos clientes jovens que nos procuram e perguntam: ‘O que é que eu posso fazer? Se eu fizer uma poupança 25 ou 50 euros por mês, o que é que significa ao fim de dez anos? Ou de 15 anos? Ou de 20 anos?’ As pessoas estão mais atentas a essa preocupação. [Segundo a Zurich, com investimento mensal de 25 euros, ao longo de 20 anos com uma taxa de rentabilidade estimada de 1,5%, o saldo acumulado será de 6.993,54 euros].

Temos de continuar a fazer este caminho, continuar a fazer esta comunicação, continuar a mostrar aos consumidores que é possível poupar. É possível ter uma vida de acordo com os padrões que cada um decidir que seja melhor para si.

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