Sem uma melhoria do rating é difícil abdicar de uma almofada de liquidez tão grande. Mas também é preciso ter mais certezas de que os riscos de interrupção súbita do financiamento estão dissipados.
A presidente do IGCP, Cristina Casalinho, explica que o risco das operações no mercado de dívida está a recair cada vez mais sobre os Tesouros nacionais. Por um lado, porque os bancos têm balanços mais curtos; por outro porque os investidores estão a concentrar-se em grupos financeiros cada vez maiores. Daí que diminuir a almofada de liquidez não faça, para já, parte dos planos. É preciso esperar por uma subida de rating e por menos incertezas nos mercados.
Por quanto tempo faz sentido manter uma almofada de liquidez tão robusta? Estamos à espera do quê para diminuí-la?
Estamos à espera, por um lado, do grau de investimento. Por outro, de sinais do mercado sobre fenómenos de interrupção súbita sejam menos prováveis. Temos tido alguns acontecimentos de encerramento súbito dos mercados. No ano passado isso foi significativo. Este ano, felizmente, ainda não houve nenhum. Não é obrigatório que haja todos os anos um, mas o mercado está a mudar. Por várias razões. Por causa dos programas de compra, da regulação, do comportamento da indústria financeira. Normalmente, a primeira linha de defesa do risco eram os bancos que a garantiam. Hoje em dia são cada vez menos.
Porque é que diz isso?
Vemos que preparam os leilões. Em quase todos os países, quando há um leilão na semana seguinte, começamos a ver o mercado a ter um comportamento mais fraco porque os bancos estão a vender de maneira a conseguirem repor as suas carteiras, preparando o leilão. Não só os bancos, mas também os investidores. Mas nos bancos isso é mais óbvio porque hoje em dia têm muito menos balanço para acomodarem títulos. Como a capacidade dos bancos diminuiu, os riscos ficam cada vez mais nos extremos, ou seja, no emitente e no investidor.
Assistimos a uma concentração nas sociedades gestoras de fundos. (…) Isto significa que o equilíbrio de poder entre o emitente e o investidor começa a ser um bocadinho enviesado.
Por outro lado, assistimos a uma concentração nas sociedades gestoras de fundos. As grandes crescem cada vez mais à custa das pequenas. Isto significa que o equilíbrio de poder entre o emitente e o investidor começa a ser um bocadinho enviesado. Cada vez mais o emitente é chamado a desempenhar o papel de mitigante do risco, que não é de todo uma função que os emitentes estejam habituados. Cria desafios.
Portanto, tão cedo não é de esperar ver a almofada de liquidez reduzir?
Não. E essa almofada, de facto, é um dos instrumentos de amortecimento de risco que os emitentes têm. O que temos vindo a observar nos últimos anos é que países que não tinham tradição, ou que tinham tradição de stocks mais baixos, têm aumentado a almofada. Também tem aumentado o número de países que têm almofada. E os que têm pelo menos gerem-na com mais atenção. É um tema que cada vez mais atrai o interesse.
Há mais reembolsos ao FMI previstos até ao final do ano, além dos planeados até agosto?
São 2,1 mil milhões até ao final do ano. O de agosto acontecerá brevemente.
E este será o último reembolso?
Programado, sim. Dependendo das condições de mercado, iremos avaliar se se justifica ou não. Entroncando com a pergunta anterior, também não faz sentido ter uma almofada de liquidez considerada demasiado generosa. É preciso encontrar um equilíbrio novamente a esse respeito.
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“Estamos à espera do grau de investimento para diminuir a almofada de liquidez”
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