FNAC tem apostado nos salários, benefícios e oportunidades à disposição dos trabalhadores, mas sente alguma dificuldade na retenção de talento, sobretudo mais jovem, diz responsável de recrutamento.
Há duas décadas e meia em Portugal, a francesa FNAC é hoje considerada “uma marca atrativa para trabalhar“, ainda que a responsável de recrutamento e desenvolvimento, Rita Mingatos, admita ao ECO que, “por vezes”, há dificuldades na retenção do talento. Isto, sobretudo, entre os trabalhadores mais jovens, pois “tendem a valorizar a diversidade de experiências” no mercado de trabalho.
Em entrevista ao ECO, Rita Mingatos adianta que, no que diz respeito aos vencimentos, a FNAC está a apontar para uma remuneração mínima garantida de 1.020 euros em 2024, bem acima dos 820 euros em que se fixará o salário mínimo nacional. E os demais salários vão também subir: o aumento da massa salarial deverá rondar os 6%, afirma a responsável.
Mas já não basta oferecer salários competitivos para reter trabalhadores, salienta a mesma. Destaca, por isso, a aposta que a FNAC tem feito na formação — em 2022, todos os trabalhadores da FNAC frequentaram programas de formação, com uma média de 25 horas, adianta — e na mobilidade interna. Atualmente, mais de metade das oportunidades que surgem no seio da FNAC é preenchida internamente, assinala a responsável.

A FNAC está há 25 anos em Portugal. Hoje considera-se uma “porta de entrada” para o mercado de trabalho ou dá preferência à estabilidade das equipas, apostando em contratos sem prazo com os trabalhadores?
A FNAC é uma love brand [uma marca amada pelos consumidores] em Portugal. Por isso, tem-se revelado ao longo dos anos uma marca atrativa para trabalhar, para as mais diversas áreas e também níveis funcionais. Para o talento jovem, somos por vezes uma empresa-escola pela proximidade e parceria que temos com as mais diversas instituições de ensino, promovendo experiências de primeiro contacto com o mercado de trabalho (estágios curriculares, bem como estágios profissionais e integração de jovens recém-licenciados nos quadros da empresa).
Ou seja, apostam na contratação permanente?
A FNAC tem uma política de contratação permanente, tendo um pico de contratação sazonal apenas no período de Natal. Pelo contrário, a nossa dificuldade está por vezes na retenção, sobretudo, de talento jovem, que hoje em dia tende a valorizar a diversidade de experiências de mercado, tornando o papel das empresas mais desafiante.
Mais do que nunca, estamos conscientes de que cada pessoa tem de estar no lugar certo e onde se sinta verdadeiramente realizada, caso contrário abandona a empresa e ambas as partes perdem com isso.
Muitos trabalhadores indicam que valorizam o chamado plano de carreira. Como é que essa necessidade dos trabalhadores é abordada na FNAC?
A nossa visão passa por promover uma cultura de corresponsabilidade pelo crescimento das pessoas. Os líderes têm o papel de acompanhar e avaliar as expectativas e motivações dos seus colaboradores. Hoje, mais do que nunca, estamos conscientes de que cada pessoa tem de estar no lugar certo e onde se sinta verdadeiramente realizada, caso contrário abandona a empresa e ambas as partes perdem com isso. Por outro lado, também o colaborador tem o dever de refletir sobre o seu percurso, procurar explorar as oportunidades e expressar claramente as suas ambições.
Mas fomentam a mobilidade interna?
Hoje divulgamos todas as oportunidades, interna e externamente. Desde 2022 que temos um site de recrutamento interno para dinamização de carreiras. À data, mais de 50% das nossas posições de estrutura central e de funções de liderança de loja são preenchidas via da mobilidade ou promoção interna.
Dizem que as pessoas são o vosso “maior ativo”. Que impacto tem isso nas políticas de desenvolvimento contínuo de competências? Que aposta tem feito a FNAC a este nível?
Tem sido feito um investimento significativo e progressivo na aprendizagem inicial e contínua. Além disso, nos últimos anos, tem havido um grande foco na digitalização de formatos e conteúdos, com recurso a parceiros estratégicos e especializados nas mais diversas áreas, tornando as oportunidades de aprendizagem simples e acessíveis a todos, fomentando assim uma cultura de self-learning, algo que consideramos fundamental num setor tão dinâmico como o retalho. De salientar que, em 2022, 100% dos nossos colaboradores frequentaram programas de formação e com uma média de 25 horas por ano. Temos ainda um programa de desenvolvimento de talento, em parceria com uma universidade de referência e ainda um programa de bolsas académicas, entre outras medidas e incentivos.
Para 2024, apontamos para ter um rendimento mínimo garantido FNAC que garanta um rendimento médio mensal superior a 1.020 euros.
Num país que compara mal com a União Europeia, é inevitável falar de salários. O salário mínimo nacional vai chegar aos 820 euros em 2024. Qual será o “salário mínimo” praticado na FNAC no próximo ano?
Ao longo dos últimos anos temos vindo a implementar ações e políticas que visam, por um lado, a subida progressiva dos salários –- principalmente das funções com menor remuneração –- e, por outro, uma valorização e remuneração de acordo com a meritocracia. Praticamos o rendimento mínimo garantido FNAC, que leva em conta a remuneração fixa, a variável e o subsídio de alimentação. Para 2024, embora ainda não tenhamos as contas fechadas, apontamos para ter um RMGF, que garanta um rendimento médio mensal superior a 1.020 euros.
E os demais ordenados, vão subir?
Sim, claro. No total, apontamos para um aumento da massa salarial a rondar os 6%.
Para promover a valorização dos salários, o Governo tem preparado várias medidas, incluindo incentivos fiscais. Que impacto tem o enquadramento fiscal nas escolhas que têm feito ao nível do salário?
De momento, não há impacto previsto.
A FNAC garante já igualdade salarial entre géneros? É algo que avaliem internamente?
A igualdade de género é um dos compromissos que faz parte do nosso programa de responsabilidade empresarial, pelo que estamos a atuar em vários indicadores que nos permitam promover políticas justas e, assim, maior equilíbrio de géneros em posições de liderança e tomada de decisão. A nossa política salarial é baseada essencialmente no nível de responsabilidade, no conteúdo funcional e na área de atuação e respetivo alinhamento com o mercado. Desta forma, conseguimos garantir que a nossa política salarial garante igualdade de géneros.
É verdade que o salário é um fator decisivo no momento de contratação, mas não é o único fator no momento de retenção. Por isso, o nosso foco é ter uma boa proposta de valor.
Já referimos a atração e retenção de talento. A FNAC utiliza o salário como forma de o fazer, num momento em que se fala tanto em escassez de talento?
Fazemos todos os anos vários estudos salariais para garantir alinhamento com as práticas de mercado. Mas a nossa proposta de valor enquanto marca empregadora vai muito para além do salário. É verdade que é um fator decisivo no momento de contratação, mas não é o único fator no momento de retenção. Por isso, o nosso foco é ter uma boa proposta de valor, que garanta benefícios atrativos, medidas de flexibilidade e equilíbrio trabalho-família, oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, uma liderança mais transformacional e claro, uma cultura forte de valores, à qual as pessoas sentem que pertencem. A nossa cultura é um pilar bastante forte e, por isso, reforçamos amplamente iniciativas de engagement que aproximam as pessoas, como festas, jantares, clubes de talento.
Disse que o Natal é um período em que têm de fazer muitas contratações. Como correu o recrutamento este ano?
Em 2022 e em 2023, lançámos uma campanha interna, a Fnactico recomenda um amigo, que se tem revelado uma excelente surpresa. Apesar de os colaboradores terem passado por um processo de recrutamento e seleção normal, os números revelam que estes candidatos (que vêm recomendados por colaboradores) são mais comprometidos e responsáveis com o papel que desempenham. Por isso, esta campanha revelou-se uma excelente fonte de recrutamento. Em 2023, tivemos mais 60% de candidaturas face a 2022 e uma taxa de conversão em integração de 52%, o que representou um enorme apoio.
Preparar e requalificar as pessoas para esta “loja do futuro” será também o nosso grande desafio.
Como imagina a FNAC do futuro?
Uma FNAC mais inclusiva naquilo que é a sua proposta de soluções para o cliente. Com um leque muito mais abrangente de produtos e, sobretudo, de serviços, que respondem a esta nova era de inteligência artificial, mas onde o fator humano continuará a marcar a diferenciação da marca. Uma FNAC capaz de liderar um caminho de responsabilidade ambiental, social e cultural, tendo uma voz ativa na sociedade. Um lugar de felicidade, onde a diferença é desejada e valorizada por todos.
E como será trabalhar nessa FNAC do futuro?
Provavelmente um local onde a tecnologia e a inteligência artificial vão revolucionar quer as necessidades do consumidor, quer nas dinâmicas de trabalho. Esta nova era pode vir a contribuir para diminuirmos o nível de esforço humano, tirando mais partido das relações humanas. Contudo, preparar e requalificar as pessoas para esta “loja do futuro” será também o nosso grande desafio.
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FNAC aponta para “aumento da massa salarial a rondar os 6%” em 2024
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