“Não há dinheiro para tudo”. Preocupação repentina com a Defesa vai prejudicar a transição energética, avisa diretor do Center for Sustainable Business da Católica

António Baldaque da Silva, diretor executivo do Center for Sustainable Business da Católica, diz ao ECO que apesar da sigla ESG já ser tabu, o capital continua a fluir para a transição energética.

“A Europa não tem hipótese”. A frase de António Baldaque da Silva, diretor executivo do Center for Sustainable Business da Católica Lisbon School of Economics and Business, pode parecer dramática, mas é explicada pela conjuntura atual da economia da sustentabilidade. O Velho Continente encontra-se entre dois barcos que se estão a separar – os Estados Unidos e a China – “e a Europa está com uma perna em cada barco”.

Baldaque da Silva, que foi managing director da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, em Nova Iorque e Londres, e fundador e diretor do Sustainability Lab da empresa, explica ao ECO que a Europa tem um big brother, “que é a China maior, que já tomou conta do espaço e, portanto, nós vamos ter que arranjar uma maneira de a transição não ser apenas comprar coisas da China, mas a transição ser uma oportunidade estratégica”.

Em entrevista, no contexto da primeira edição do Lisbon Sustainability Week, organizada pela Católica em parceria com a Fundação Santander, Baldaque da Silva reconhece que as grandes gestoras de ativos “foram totalmente condicionadas também por posições políticas”, nomeadamente uma administração Trump que “está contra” a transição energética, e rejeitaram a sigla ESG, mas sublinha que continuam a investir na transição.

Houve um boom de ESG, a partir de 2016. As primeiras emissões de dívida verde, a carta de Larry Fink a comprometer a BlackRock, muito influxo de capital, depois houve uma estagnação. Agora os dados mostram um retrocesso. O primeiro trimestre, segundo a Morningstar, foi o pior de sempre em termos de saldos negativos a nível global. O que explica esta fuga?

É um bocado a maturação do mercado. Na primeira vaga que mencionou havia muita boa vontade, mas a verdade é que havia, mesmo para quem queria trabalhar na direção de finanças sustentáveis, pouca informação e pouca informação objetiva. Havia muitos dados, mas eram dados que não eram comparáveis, eram dados que eram facilmente manipuláveis, eram dados que eram mais de reporte voluntário, e portanto houve alguma confusão. Agora pode haver algum retrocesso, mas eu também diria que seria mais conjuntural. Não há dúvida nenhuma que atrás disto tudo vem um problema grave que nós temos. E este problema não tem nada a ver com o ESG, não tem nada a ver com mercados financeiros, tem a ver com a maneira como nós estamos a lidar com o nosso crescimento e desenvolvimento económico, que não é sustentável. E, portanto, nós podemos dizer o que quisermos, mas o problema está lá, é uma parede para a qual nós estamos a caminhar a velocidades altas e agora, se calhar, pusemos o pé um bocadinho mais no acelerador, mas o problema está lá e não há dúvida nenhuma que os mercados financeiros vão ser parte da solução. Portanto, eu acho que as coisas se estão a reimaginar um bocado e estão-se a moldar um bocado. Se olhar não para o que se diz, mas para o que se faz, por exemplo, os grandes asset managers, as maiores companhias do mundo, estão muito viradas para infraestrutura, para a adaptação às mudanças climáticas. Muito do capital mais privado está focado em diferentes partes da transição. O investimento em energias verdes duplicou em dois anos. Portanto, o dinheiro continua a estar lá, mas em termos da maneira como nós quantificamos isso, houve alguma necessidade de assentar o pó e perceber bem o que é que é credível, o que é que não é, o que é que é indicativo e o que é que não é.

Há uma questão política e estamos a falar das grandes ‘asset managers’ do mundo que estão totalmente condicionadas também por posições políticas, porque são empresas muito grandes, e, portanto, a ESG deixou de se falar, não há dúvida nenhuma

Houve uma série de promessas, como a da BlackRock e de outras gestoras de ativos, que iam manter uma série de regras autoimpostas, que não iriam apostar em empresas que dependiam muito do carvão. Mas algumas, incluindo a BlackRock, já recuaram. Que sinal é que isto dá? Que não se deve tocar na sigla ESG mas continuar a investir nela?

Sim, eu acho que isso é claro. Há uma questão política e estamos a falar das grandes asset managers do mundo que estão totalmente condicionadas também por posições políticas, porque são empresas muito grandes, e, portanto, a ESG deixou de se falar, não há dúvida nenhuma. Mas eu acho que isso não é a parte relevante. A parte relevante é seguir o dinheiro e onde é que as coisas estão a ser expostas. Houve algum retrocesso, sem dúvida nenhuma, mas como eu disse, às vezes tem que se dar um passo atrás para se caminhar com mais integridade e com mais certeza para a frente. Agora, acho que também houve outro retrocesso, há um sonho muito grande no net zero, há um sonho muito grande nos 1,5 graus [no âmbito do Acordo de Paris], “e esses 1,5 graus, provavelmente, ou muito provavelmente, já lá estamos. E, portanto, também há uma necessidade das pessoas pensarem, calma, o que é que eu prometi realmente e o que é que faz sentido? O que é que neste novo retrocesso, ou nesta nova conjuntura, que se calhar vai demorar três, quatro, cinco anos, não se sabe, o que é que faz sentido eu comprometer-me ou não.

É um esperar para ver?

É um bocado um retrocesso, um bocado voltar às bases, mas eu não diria, por exemplo, que o facto de os grandes asset managers saírem daquelas alianças e essas promessas muda o facto de eles saberem onde é que estão os bons investimentos e eles continuam a investir em muitas áreas, nomeadamente nas energias verdes. O investimento global tem subido significativamente. Mas, sim, há algum cuidado da maneira como eles falam e como é que pensam nestas coisas.

Como disse, parcialmente em reação a uma mudança de contexto político. Estamos com uma nova administração Trump, com mais poder do que a primeira, e que é vocalmente contra, ou menos a favor, das energias renováveis.

Pode ser contra. Não é menos a favor, é contra. É contra, sim.

Por exemplo, nas eólicas offshore já disse que não. No IRA [Inflation Reduction Act] vamos ver o que é que vai fazer, mas disse sempre mal do IRA de Joe Biden.

Está a tentar fazer com que as empresas sejam proibidas de usar ESG, de reportar.

Na diversidade, por exemplo

É claramente contra, não é só neutro.

Não há dúvidas nenhumas para quem estaria a trabalhar com base nos subsídios que os Estados Unidos davam, esses vão desaparecer. E, portanto, aí é uma coisa binária. Havia? Deixou de haver. Era produtivo ou era lucrativo? Se calhar deixou de ser

E o que é que isso significa em termos de projetos em dois níveis. Primeiro, projetos nos Estados Unidos e o papel dos Estados Unidos, maior economia do mundo, na transição energética. E segundo, que sinal é que isso dá aos counterparts, sejam as grandes gestoras de ativos, como está a dizer, ou as grandes empresas, como a EDP, que está à espera para ver o que é que acontece ali.

Tem que se dividir as coisas. Não há dúvidas nenhumas para quem estaria a trabalhar com base nos subsídios que os Estados Unidos davam, esses vão desaparecer. E, portanto, aí é uma coisa binária. Havia, deixou de haver. Era produtivo ou era lucrativo? Se calhar deixou de ser. E, portanto, o que vai acontecer são estes projetos vão parar, vão ser abandonados, vão ser requalificados, o que quer que seja. Mas vamos pensar outra vez qual é o problema que nós temos e como é que o vamos resolver. A verdade é que os Estados Unidos são, provavelmente, das grandes potências mundiais, quando estou a falar da Europa, China e Estados Unidos, a única que tem petróleo e a única que tem gás. E, portanto, para eles até faz algum sentido, se nós tirarmos a parte da sustentabilidade, faz algum sentido quererem dirigir a sua hegemonia energética mundial através do que eles têm. A Europa e a China não têm. Portanto, a Europa e a China vão fazer uma transição mais rápida. O que vai acontecer, e acho que é um tiro no pé dos Estados Unidos, como em muitas outras áreas, o Trump está a ser, o que vai acontecer é que se deixa algum espaço para quem? Para a China. A China é, sem dúvida nenhuma, o país que mais polui, mas, sem dúvida nenhuma, é o país que está a investir mais em energias verdes e renováveis.

Em toda a cadeia de valor.

Exatamente. Tem toda a cadeia de valor e tem toda a manufatura lá. E o que vai acontecer é que os Estados Unidos vão inflingir uma perda neles próprios, vão deixar de ser competitivos nesta área que vai dominar o futuro, porque não são os combustíveis fósseis que vão dominar. Vão ser sempre necessários, mas não vão dominar o espaço energético futuro e, portanto, está a deixar os outros ocuparem esses espaços.

Mas, por outro lado, temos nos Estados Unidos uma economia muito dinâmica que, por exemplo, na área da tecnologia é de longe líder mundial e que precisa de data centers gigantescos para os projetos de inteligência artificial que requerem energia. Acha que essas empresas de Silicon Valley são stakeholders desta transição energética e poderão forçar alguma atenuação por parte da administração?

Sem dúvida nenhuma que para elas não são boas notícias. Algumas dessas tecnológicas são as que estão a aguentar o mercado voluntário de carbono. Portanto, de forma totalmente voluntária, estão a pagar preços acima do mercado para tecnologias que ainda estão incipientes. Estão claramente a ajudar já o mercado a fazer a transição. Agora, não se vão opor ao Trump, mas, por exemplo, estão a falar em coisas como energia atómica e outras energias que possam compensar. Não há volta a dar pelo facto de essas indústrias tecnológicas não vão, de repente, converter-se em utilizadoras de combustíveis fósseis, pelo menos em formas enormes. Portanto, eles vão com alguma ciência por causa do pendor político. Mas estava a dizer, são grandes organizações, são elefantes numa sala e têm que ter cuidado, mas aí se calhar vai ser um bocado menos percetível, mas absolutamente vão estar, se calhar, através do que fazem noutros países, continuar a apostar fortemente na transição energética, porque é como eu digo, a transição energética não é uma coisa ideológica, está a acontecer, e vai continuar a acontecer. E, portanto, é só perceber de que lado e com que vantagem competitiva é que se quer abordar essa transição.

Falamos aqui dos blocos globais e da oportunidade que a China tem e que está a aproveitar. Vamos falar da Europa. Também na Europa, no primeiro trimestre, houve um ligeiro retrocesso no saldo ESG. Foi o primeiro, desde que a Morningstar começou a contabilizar isto. Como é que vê o mercado de financiamento de sustentabilidade na Europa? Depois, uma segunda coisa, que é o Omnibus, que foi lançado em fevereiro deste ano, que vem fazer muitas mudanças nas regras de ESG, mas que tem elogios, quer por simplificação, mas também críticas de ser desregulação em vez de simplificação, excessivo foco nos custos em vez da criação de valor. Aqui, como em muitas coisas, é sempre bom avaliar como é que a Europa está-se a posicionar para aproveitar oportunidades.

Sim, sim. Primeiro é essa parte, a parte do posicionamento estratégico. A Europa não tem hipótese. A Europa tem que apostar-se na transição, sem dúvida nenhuma. A Europa está numa posição um bocado frágil, porque mesmo que aposte na transição, tem um Big Brother, que é a China maior, que já tomou conta do espaço e, portanto, nós vamos ter que arranjar uma maneira de a transição não ser apenas comprar coisas da China, mas a transição ser uma oportunidade estratégica para nós, que eu acho que isso ainda se está a pensar exatamente como é que isso vai acontecer. Agora, em relação ao Omnibus, acho que a Europa tentou dar um passo grande demais e, portanto, faz algum sentido algum retrocesso legislativo. Mas o problema é esse, o problema é tentar diferenciar o que é a simplificação de desregulamentação. Nós sempre fomos muito voluntariosos. Por exemplo, o target de 1,5% em 2050 é bastante normativo. Não é dizer, eu vou fazer estas coisas, eu tenho este fim e, portanto, agora vou ver como é que se chega lá, que é sempre mais complicado este tipo de planeamento, mas eu percebo, é um objetivo…

Comum?

E um objetivo de elogiar. Agora, demos um passo grande demais e estamos a recalibrar. Acho que ainda não vai ser a versão final, precisamente porque levou a desregulamentação demais. Mas, por exemplo, em termos competitivos, é importante perceber-se que a maior parte do mundo está muito focada na parte das mudanças climáticas e da transição por causa do impacto ou da materialidade financeira que pode ter. O que é que isso afeta às contas das empresas? Por exemplo, o Banco Central Europeu e outros estão muito atentos à exposição a esse tipo de riscos. A Europa vai muito mais longe e tem o conceito de dupla materialidade, ou seja, a Europa quer, e na minha opinião bem, tentar perceber como é que as empresas estão a influenciar as comunidades e o ambiente em que se inserem. Agora, tem que ser feito com cuidado e a medida era draconiana demais ao incluir pequenas e médias empresas que não têm qualquer capacidade de reporte. É preciso ter cuidado para que não seja uma americanização dos nossos princípios e dos nossos objetivos. Uma coisa é a regulação, outra coisa é a burocracia.

E na Europa temos estado cada vez mais a falar disso e segundo players na área das energias renováveis, Portugal é dado como mau exemplo.

Por exemplo, a taxonomia europeia tem uma precisão técnica tão grande que é muito difícil. É muito difícil as empresas perceberem, depois é muito difícil que os técnicos da Comissão Europeia estejam a atualizar esses aspetos técnicos que estão a evoluir todos os dias, novas tecnologias, nova maneira de produzir energia, cimento, isso tudo. É uma lei que vai ser muito difícil manter relevante e ótima ao longo do tempo, porque é tão específica que como o mundo avança depressa, essa especificidade vai ficar out of date.

Defini-la, depois implementá-la, executá-la.

E ter a certeza que ela evolui ao longo do tempo com a tecnologia. O que se pretende é que haja uma transição. A lei também tem que fazer uma transição. Em termos da burocracia pode haver boas intenções, mas depois a lei é tão complexa que se burocratiza muito rapidamente e deixa de fazer sentido, deixa de servir o propósito ao qual foi criado.

Duas perguntas em relação à Europa. A primeira é o que estamos aqui a falar de muitas oportunidades. Em que segmentos, em que tipo de áreas é que vê oportunidades que se adequam ao contexto que temos na Europa e que os chineses, por exemplo, não estão a fazer, ou que estão a fazer e nós podemos fazer melhor?

Essa é uma boa pergunta. Porque, como eu estava a dizer, a Europa está aqui um bocado, parece que está entre os dois barcos. E os barcos estão-se a separar e está com uma perna em cada barco. Há várias coisas. Há toda a parte virada para o mar. Há toda a parte virada para uma agricultura mais cuidada e para uma biodiversidade mais cuidada. Há, obviamente, a parte da energia, onde nós… com políticas regradas e com políticas, em que às vezes é muito mais fácil ser um fast follower do que ser um pioneer. Todas essas áreas, provavelmente em áreas que envolvem muita engenharia, são áreas em que Portugal poderia apostar. Temos boas condições para isso.

Há uma questão que está a ser discutida diariamente e que vai ter que ser decidida e implementada rapidamente e que afeta o investimento, afeta o uso de capital. A Europa parece estar a carregar no acelerador em duas coisas, principalmente na Alemanha, que é nas infraestruturas e na defesa. Isso pode prejudicar o fluxo de capital para a transição energética?

Absolutamente. Não há dinheiro para tudo. Embora algumas destas coisas tenham complementaridade, se nós temos um desígnio que é fazer uma transição, para a qual nós sabemos que precisamos mais ou menos, em termos globais, de 5%, 6%, 7% do PIB e de repente há uma preocupação – que eu acho que é legítima com a defesa – obviamente que em termos conjunturais isso vai ser prejudicial e portanto tem que se fazer trade-offs que são complicados. A conjuntura nos próximos cinco, dez anos é muito complicada, portanto, não há soluções fáceis, nem há muito dinheiro para distribuir. Acho que não se tem que parar uma para começar a outra, porque, aliás, estas duas são quase existenciais.

Dizer que não vamos fazer a transição agora, vamos parar porque temos que fazer defesa, não dá. Já não se consegue parar esse barco e ainda bem que é assim. Agora vai ter que haver trade-offs, claramente.

E há uma terceira que é o digital também.

Há mais. Há a demográfica, há a dívida pública, uma série de monocrises que levam a uma policrise. Todas elas são relevantes. São escolhas difíceis que vão fazer. Dizer que não vamos fazer a transição agora, vamos parar porque temos que fazer defesa, não dá. Já não se consegue parar esse barco e ainda bem que é assim. Agora vai ter que haver trade-offs, claramente. E se calhar o que vai acontecer é que os níveis de vida e a progressão dos níveis de vida que não estamos habituados a ter no mundo ocidental, se calhar vão estagnar. Porque há todas essas outras preocupações que não trazem benefícios no curto prazo.

Duas últimas perguntas, uma nacional e outra local, porque estamos aqui no evento. Primeiro, como é que vê o mercado de financiamento sustentável em Portugal? Vê as empresas a procurarem financiar projetos de sustentabilidade? E há investidores que estão interessados em olhar para isso? Como é que tem sido a evolução?

Dividiria as coisas em dois ou três pontos. Há muito investimento operacional que está a ser feito e é quase mundano hoje em dia. Estamos a falar em transportes das empresas, na parte energética e no uso de energia das empresas, isso tudo. Essas partes operacionais são super-importantes, para as quais há muito investimento, os bancos emprestam muito, os governos, o governo português tem também ajudado em termos de incentivos. Essa parte eu diria que é o low-hanging fruit, essa parte está a ser feita e é fácil. Quando estamos a falar numa mudança de paradigma de estratégia empresarial da empresa e de mudança completa da maneira como as empresas funcionam, aí eu acho que é mais complexo. Para já há menos empresas a tomarem esse caminho. A dimensão também restringe. A dimensão, esta incerteza do curto prazo, isso tudo. Não estou a dizer que não há. Há bons exemplos em Portugal de empresas a fazer essa transição. Mas essa parte é bastante mais difícil, tanto para as empresas como depois para os bancos. Porque na parte operacional é relativamente fácil perceber qual é o ganho operacional nos próximos dois, três, quatro, cinco anos. Mas na parte estratégica já envolve muito mais pensamento. Mas isso também, e esse ponto é interessante porque isso lembra-me outra parte da estratégia da União Europeia, que eu acho que está super acertada, que é tentar desenvolver os mercados de capitais na Europa. E esse tipo de mudança estratégica de plano, ou de plano estratégico da empresa, ou até de novas empresas com planos muito virados para a sustentabilidade, isso normalmente é feito nos mercados privados, com venture capital, com private equity, isso tudo que é muito muito incipiente ainda na Europa. Mais apoio nessas áreas, mais incentivos poderiam ser uma boa maneira de dar esse salto estratégico que temos que dar. Com um aviso. É que é muito fácil ter boas ideias, é muito difícil ter um plano estratégico que dê dinheiro a três ou a cinco anos. Sobretudo quando se está a pensar em dinheiro público, é muito relevante não se confundir uma coisa com outra.

António Baldaque, Diretor Executivo do Center for Sustainable Finance, em entrevista ao ECOHugo Amaral/ECO

Estamos no primeiro ‘Lisbon Sustainability Week’. Qual é o conceito e como que está a correr?

Primeiro, a responder à segunda pergunta, acho que está a correr muito bem. A qualidade do evento, a qualidade do conteúdo e a qualidade operacional, que também é importante, do evento está a correr muito bem. A ideia do Center for Sustainable Finance é relativamente simples: é pensar no papel das finanças como catalisador da transição. Não é transição energética, é transição mais global para um mundo mais sustentável. E para nós há três eixos que são fundamentais e são exatamente os três eixos da nossa atuação no nosso primeiro ano e os três eixos que se vê também nesta conferência. Primeiro, tudo tem que ser liderado por boa ciência. E, portanto, enquanto estamos aqui a falar [na quarta-feira], estão provavelmente 20 ou 30 professores universitários de todo o mundo, Harvard, MIT, Stanford, LSE, ali numa sala, a discutir papers académicos acerca de finanças da sustentabilidade. Estávamos a falar de ESG, é muito, muito relevante que a academia diga também um bocado o que é que se vê nos dados, o que é que é relevante, o que é que é informativo, o que é que é ruído. Para nós, desde o início, sempre foi muito importante esta parte de academia. A segunda parte era falar para as pessoas. A transição vai-se fazer porque nós, como cidadãos, queremos que ela continue a ser feita. Como cidadãos que somos consumidores, cidadãos que somos trabalhadores, cidadãos que vamos votar. E, portanto, para nós é muito simples: é abrir alguns destes conceitos para a sociedade em geral. Ontem tivemos masterclasses para principiantes, para quem não sabe nada do assunto em biodiversidade e em modelos climáticos. Hoje, enquanto estamos a falar, tivemos uma muito boa também sobre mercados de carbono e mercados de biodiversidade e agora estamos a ver uma sobre como incorporar as alterações climáticas e os modelos climáticos em análise financeira. Portanto, esta é a segunda componente virada muito para as pessoas comums. Nós, simples cidadãos, mas que é uma coisa muito importante para o Centro e muito importante também para os nossos fundadores que é a Fundação Santander.

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