Aversão de Trump às energias renováveis pode beneficiar a Europa nos preços e por isso é preciso evitar conflito com a China, diz CEO da Greenvolt. KKR trouxe 'poder de fogo', afirma Manso Neto.
João Manso Neto concorda com Mario Draghi, a Europa já perdeu o comboio da produção de painéis solares e não vale a pena ir por aí. “É muito importante que nós não criemos ‘monstrozinhos’ subsidiados de produção e que entremos numa guerra com a China, isso seria dramático, isso seria risco”, alerta.
O CEO da Greenvolt diz que a posição de Donald Trump sobre as energias renováveis deverá atrasar os Estados Unidos e até pode beneficiar a Europa através de preços mais baixos dos painéis solares e das baterias produzidas pela China, daí a necessidade de manter a relação com o gigante asiático.
A compra da Greenvolt pelo fundo americano KKR no ano passado trouxe o ‘poder de fogo’ esperado em termos de financiamento, com 600 milhões de euros em capital e 400 milhões em apoio a uma emissão sindicada. A empresa vai investir mil milhões este ano, principalmente nos grandes projetos nos 15 países em que está presente e não tem planos para entrar em novas geografias de momento, afirma o gestor, que é um dos nomeados para o prémio de melhor CEO na 37ª edição dos Investor Relations and Governance Awards, uma iniciativa da consultora Deloitte e que tem o ECO como parceiro.
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Está de volta à Casa Branca um presidente que é contra as renováveis. O João esteve na liderança da EDP Renováveis durante um período de crescimento nos EUA. Como é que vê o impacto de Trump 2.0 nas renováveis?
Eu gostaria aqui de dizer, até para não dizer a mesma coisa que toda a gente diz, o seguinte. As renováveis, hoje em dia, as renováveis, o vento onshore, o solar, não precisam de subsídios. Portanto, temos que reconhecer, na minha opinião, que alguns subsídios do IRA, o Inflation Reduction Act, eram desnecessários. E às vezes as coisas desnecessárias criam irritação. E depois vai ver que alguém está contra. E alguém pensa, mas para que é que vou gastar este dinheiro todo de impostos nisto, que não é preciso para nada? Porque uma das razões para as renováveis serem bem vistas é serem baratas. Há um encargo nos Estados Unidos, não na Europa, mas nos Estados Unidos, sobre o contribuinte. Não é fantástico. Dito isto, tentar produzir e criar uma indústria nacional à custa de tarifas ou subsídios, eu não acredito. Eu não acredito que isso seja sustentável. O que é que vai acontecer? Eu não gosto de vento, proíbo o vento nas terras federais, ou seja, afeta diretamente o offshore e poderá afetar algumas zonas do onshore. É uma coisa que não é muito racional, porque obviamente o vento tem de se encaixar nas questões ambientais e tudo mais, mas há muitos estados federais onde de facto não tem nada, estão desertos em que o vento é até melhor. Mas o solar ele diz que gosta, mas vai defender o solar contra os chineses com tarifas. O que vai acontecer é que a política dele a curto prazo vai travar também o solar. Porquê? Primeiro porque a oferta não está lá. Tem algumas fábricas, mas não tem assim tantas. E é discutível até que ponto uma política tarifária vai permitir dar os sinais suficientes para fazer uma fábrica. Dou-lhe um exemplo, veja o seguinte, uma pessoa para investir tem que ter segurança. Quem é que me garante a mim, investidor, que daqui a quatro anos não vá lá um e diga acabou esta história dos subsídios. Portanto, isto vai ter um efeito negativo nos Estados Unidos, não só no vento, mas também no solar. Ou seja, vai atrasar os Estados Unidos, vai atrasar o desenvolvimento da indústria.
Continuará mais dependente do carvão?
E do gás. Agora, no carvão, vai dar início a novas centrais de carvão? Não vai. Como já não deu da outra vez. Em 2016 eu estava lá, na EDP Renováveis. Estava muito exposto, muitíssimo exposto aos Estados Unidos. No princípio, as teses eram que vão existir novas centrais a carvão. Nada. Quem é que ia investir em carvão sabendo que passados quatro anos, podia sair o Trump. E tanto podia que saiu. Ninguém. Portanto, eu diria que isto vai atrasar os Estados Unidos, o vento, seguramente, mas também o solar, o que não é bom. E que não é bom para a própria economia americana, na medida em que o solar exclua os subsídios, mas mesmo sem subsídios, o solar com baterias e o vento são mais eficientes em alguns sítios.
Acredita que as grandes empresas americanas, as tecnológicas que querem fazer data centers e os consumidores que estão interessados em ter energia renovável são suficientes para contrariar ou minimizar a vontade do presidente?
Desde que não sejam em terras federais, pode, e isso vai acontecer não só com a vontade de algumas empresas, como também de alguns estados. Aqueles estados mais democráticos, na costa leste, vão manter procura. Agora, falando em detalhe na costa leste, não é fácil expandir as renováveis ali, porque as pessoas são muito verdes, mas não querem ter no seu backyard. Portanto, ali a grande solução com renováveis será no futuro o offshore, que é muito mais barato.
Terá que ser bem no futuro, agora não?
Uns quatro anos, mas isso também não é nada. Veja o seguinte, é muito mais barato trazer um offshore para Boston do que trazer a energia hídrica do Canadá ou não sei de onde. Portanto, isto vai provocar algum atraso, embora projetos mais pequenos tenham condições para continuar. Ou seja, não vai parar. Agora, isto é muito mais caro. Um projeto solar com baterias, que é um tipo de produto interessante na medida em que permite durante o dia estabilizar, fica muito mais caro. E esses projetos, é preciso que o consumidor queira mesmo e esteja disposto a pagar. Ou seja, a procura por parte dos estados democratas vai continuar, quanto mais estão dispostos a pagar. Um exemplo. Um estado democrata na costa Oeste, o Novo México. Condições solares impressionantes em termos de sol, de recursos, mas que se o custo das baterias e o custo dos painéis for muito mais caro, não sei até que ponto é que um governante vai vender isso como solução? Eu não estou a dizer que acabe, mas isto vai travar. Agora, o facto de travar, isto, em si, não trava a Europa.
No vento, os Estados Unidos vão ter uma redução da procura de turbinas, portanto essas turbinas vão ter que ir para algum lado. Ou seja, é possível que o preço baixe alguma coisa nas turbinas
Sim, essa é a minha pergunta. Qual é o impacto na Europa?
O impacto na Europa, a curto prazo, se nada mais acontecer, e já vou dizer o que é que eu tenho medo que aconteça, se meramente isto se mantiver uma questão dos Estados Unidos e da Europa, eu diria que até pode ter algum efeito positivo. Marginal. Eu vou dizer qual é. É que, no vento, os Estados Unidos vão ter uma redução da procura de turbinas. Portanto, essas turbinas vão ter que ir para algum lado. Ou seja, é possível que o preço baixe alguma coisa nas turbinas.
Tem sido um fator importante.
Porque as turbinas estavam muito caras, até porque tínhamos uma produção um bocadinho oligopolista, um mercado um bocado fechado.
Um mercado de vendedor?
De oligopólio, se quiser. Não quer dizer que seja formal, mas isso vai aumentar a oferta na Europa. Portanto, eu diria que, por questões de ambiente, por questões de segurança energética, por questões de preço, a Europa continua com o seu ritmo. Mais uma vez, renováveis não chega, é preciso baterias, também não chega, é preciso também os térmicos. Mas a Europa cria o seu caminho. Qual é o risco que nós podemos ter? Se a Europa entrar numa guerra tarifária com a China. Aí sim. Se a Europa entrar numa guerra tarifária com a China, eu lhe digo, isto vai afetar a Europa. Ficamos isolados.
Não temos produto.
Não temos produto, ou se temos é muito mais caro. Se duplicar o preço dos painéis ou das baterias com tudo chinês, isso aumenta. E as renováveis passam ser mais caras. E então aí vai pôr em causa. Isso não é só uma questão de tarifas, mas também coisas que é preciso ter cuidado. Políticas de preferência pelo material europeu também são negativas.
É a defesa dos campeões europeus, esse tipo de coisa?
Porque o próprio Mario Draghi diz isso, que nos painéis já perdemos. Não vale a pena. Portanto, é muito importante que nós não criemos ‘monstrozinhos’ subsidiados de produção e que entremos numa guerra com a China. Isso seria dramático. Isso sim seria risco. Com os Estados Unidos na componente energética, a Europa e o resto do mundo seguirão o seu caminho. Os Estados Unidos, pela razão que expliquei, vão ter algum atraso, no vento seguramente, mas também na parte dos painéis, mas quatro anos não é muito tempo. E a força da economia é muito forte. Como digo, eu estive à frente da EDPR na altura. É verdade que o Congresso não era o mesmo que é hoje, os republicanos eram outros. Agora, um dos grandes pontos para o qual temos de estar muito atentos é que havia o tal da IRA em que havia coisas um bocadinho exageradas. Temos que perceber bem o que é que vai ficar. Vão fazer um repúdio global ou vão manter algumas coisas? Aquilo não tinha limite, praticamente, ou se tinha, era muito longo prazo. Ou se vão fazer um phase out. Isso vai ser importantíssimo. Se fizerem um phase out, o efeito vai ser muito menor. Porque poderá haver algum incentivo para que as pessoas avancem.
Como é que isso vai a afetar os projetos na Europa? Várias grandes renováveis estão a deixar de olhar para os EUA com tanta pressa. Já vemos as EDP a cortarem algumas previsões e vão focar projetos noutros mercados, mas também na Europa. Isso é positivo ou é negativo para este processo?
Para as empresas, perdem um mercado. Mas vai continuar a haver procura na Europa. Já havia muito aí de projetos. O que é preciso é ter pessoas no terreno que saibam chegar a projetos permitted, que respeitem o ambiente, que entendam onde é que as redes podem evoluir e tudo mais. E um aspecto que é muito importante, não me canso de dizer, que é a parte da geração distribuída, cujo potencial não está ainda aproveitado. E aí, Portugal tem uma boa legislação, a implementação está a melhorar, neste momento. Mas é uma questão social, quase sociopolítica, porque é preciso a vontade.
Na Ásia há imenso, em Singapura, por exemplo, onde é um Estado muito forte.
Mas nós, neste momento, no nosso caso, já temos mais de 60 comunidades de energia totalmente legalizadas. As coisas estão a andar. Há um ano, se me perguntasse, devia ter por aí uma ou duas. Se tivesse, tinha em autoconsumo individual, mas não tinha coletivo. Portanto, as coisas estão a andar. Passa muito por máquinas não burocráticas, passa por conhecimentos técnicos e passa por mentalidade pública e privada. Todos os dias, não todos os dias, mas todas as semanas começam a aparecer novos concursos públicos. Coisas que há um ano não existiam.
Autarquias, por exemplo, comunidades, etc. Há uma espécie de literacia energética a crescer?
E vão-se habituando, começam a ver, passam de uns para os outros. Clubes de futebol. Nós fomos os primeiros a fazer. Investimentos na província, em Lisboa… As pessoas entendem.

O outro impacto deste mandato de Trump, com a questão das tarifas, já está a causar turbulência, volatilidade nos mercados financeiros e cortes nas perspetivas económicas. Isso pode resfriar o apetite dos financiadores e dos governantes pelas renováveis?
Eu diria que não. Os governantes, pelas razões óbvias, há estas condições, é mais barato, ambientalmente e contribuir para a segurança energética, Mais uma vez, juntando aquilo que falámos há bocadinho, ligado à melhor gestão da rede, mais preventiva e tudo mais. Esse mantém-se. Os bancos, porque, veja, as taxas de juros estão mais baixas, estão mais baixas.
E vão baixar mais ainda, em princípio.
Já baixaram muito, mas, bom, admito sim que baixem mais qualquer coisa, mas também não vão ser negativas, para o bem todos nós. Mas os bancos têm taxas mais baixas, desde que o modelo de negócio seja bem feito. Hoje em dia, num projeto solar, sem baterias, é um projeto perigoso, quer para o acionista, quer também para os bancos. Porquê? Porque produz mais a horas em que aquilo é praticamente zero. Mas, por exemplo, a bateria já consegue equilibrar aquilo muito mais. Os bancos já também têm conhecimentos, percebem isso, portanto os bancos não estarão dispostos a financiar projetos, nós dizemos merchant, de solares, mas se tiverem baterias ou um projeto de vento, aí estão. Agora não vão é financiar um projeto que quando aquilo produz não gera rendimento. Não funciona. Mas se não funcionar para o banco, muito menos funciona para o acionista.
Deste lado do Atlântico, o REpowerEU faz agora mais ou menos três anos. No ano passado esteve neste mesmo sítio e criticou a implementação, que as ideias são boas, a implementação tinha ficado abaixo do esperado. Mantém esta posição? Houve alguma evolução nestes últimos 12 meses, ou podemos dizer que estamos um ano mais perto de ver as metas?
Há razões estruturais que empurram as renováveis. Se olharmos para o permitting, as autorizações, sinceramente não vejo grandes modificações. É muito difícil. Não é a parte do normal, do correto, ou seja, é preciso ter cuidado com o ambiente. Isso não está em discussão. Agora, a parte burocrática na maior parte dos países não se vê uma maior celeridade na parte do operador de sistema, ou do operador de rede. Sinceramente, não vejo um progresso por aí além. Simplesmente, isto é uma ideia muito grande e vai-se fazendo. Portanto, em termos relativos, na parte do descentralizado sente-se algum progresso. Sente-se, é verdade, mas não temos casos límpidos como o português, no máximo, tantos como isso. Ou seja, há progresso, mas naquilo que eu acho que seria exequível, devia-se fazer melhor.
No caso de Portugal, tem sido crítico.
O caso de Portugal não é um dos melhores no caso do permitting, temos atrasos significativos. Nos grandes, sim. Nos pequenos está-se a melhorar. Neste momento já existe uma aplicação informática da DGE que já permite agilizar. Na parte do descentralizado evoluiu-se bastante. No descentralizado, mais uma vez, nós temos de distinguir entre aquilo que é correto, que a pessoa estude aquilo que é um bocadinho a burocracia. E é preciso distinguir isto. Onde nós temos que ser implacáveis é dizer assim, na burocracia isto tem que andar mais pressa, se não têm meios, façam outsourcing.
Sem abdicar da análise.
Sem abdicar da análise. Ali ainda havia alguém que queria fazer um projeto gigante, para aí 200 megawatts, na Serra do Algarve. Se calhar pode, mas entra pelos olhos dentro. Vai haver algum obstáculo? Não seria surpreendente que houvesse, mas não sei, não conheço o projeto, mas fiquei assim um bocadinho… Isto é grande, mais olhos que barriguei, eventualmente.
A KKR tem realmente cumprido com as suas expectativas. Cabe-nos a nós, ‘management’, entregar.
No ano passado, o fundo americano KKR completou a compra da Greenvolt. Que poder de fogo é que isto deu à empresa? Consegue concorrer com maior força nos 15 mercados em que está presente? Pode ou ajuda a pensar em novos mercados neste contexto novo?
Permite um poder de fogo diferente, aliás, o objetivo era esse. Nós, management, apoiámos, demos o Conselho de Administração na altura um parecer favorável porque permitiria, fundamentalmente, reforçar o plano de negócios e com outros meios financeiros. Veja, eles desde que chegaram aqui já aumentaram o capital em 400 milhões por conversão de obrigações e 200 milhões de capital novo. Viabilizaram um crédito sindicado, não garantiram, mas viabilizaram, pela sua patronagem, de 400 milhões de euros, portanto permitiu-nos um acesso a outro tipo de financiamentos mantendo o próprio negócio. Agora cabe-nos a nós entregar. Nós não podíamos manter este ritmo de crescimento se não tivéssemos estas injeções adicionais de capital. Queiramos quer não, o mercado português, não tinha… não é só uma questão do mercado de capitais, que tem o tamanho que tem, mas também o próprio mercado bancário. Tudo isso. Nós tínhamos sido muitíssimo apoiados pela banca portuguesa e pelos espanhóis cá existentes, já em mais de 400 milhões, e pedir a duplicação da exposição é impossível. Portanto, a KKR tem realmente cumprido com as suas expectativas, cabe-nos a nós, management, entregar.
Nessa entrega, têm um plano para acelerar o crescimento a três anos e só este ano vão existir mil milhões de euros. Quais são as grandes apostas? Como é que vai ser a atribuição destes mil milhões?
A maior parte vai para os projetos de maior dimensão, vento e solares. Nas outras, onde os montantes não são os mesmos, não quer dizer que não dê mais trabalho, em termos de esforço, mas em termos de montantes, é sobretudo nos grandes. E aqui os nossos grandes investimentos este ano são duas baterias de 200 megawatts cada uma na Polónia, que já começámos, e dois projetos de 250 megawatts cada de vento na Roménia, com contratos de longo prazo estabelecidos.
Ou seja, a grande aposta é essa área?
Estes são as maiores. Há noutros países, inclusive em Portugal, mesmo no utility scale, nós estamos a construir um parque em Águeda, solar, que ficará em meados do ano e com baterias. Portanto, vamos também instalar baterias.
Em Portugal está à espera de uma publicação de uma portaria de uma nova central de biomassa.
Essa estamos a avançar, estamos à espera da portaria, mas…
Mas vai ser para o próximo Governo. Como é que vê o impacto desta instabilidade política que temos tido recentemente e que eventualmente poderá prolongar-se, dependendo dos resultados das eleições?
No caso de energia, os dois partidos têm visões muito comuns. Portanto, os nossos projetos em si, eu diria que não, não vejo obstáculos. O que é importante, sabe, que em Portugal, aquilo que eu disse há bocado, que é preciso que nós ponhamos, numa perpectiva de médio prazo, ponhamos as renováveis, as baterias e alguma potência térmica na equação. E esse debate, que é estruturante, e como também dotar a REN de meios adequados. Agora, completar o desenho do mercado e da estrutura produtiva, que esse debate ocorresse de uma forma séria e objetiva. E não é dizer, “ah, o hidrogénio é que é ótimo, pronto, estamos todos por hidrogénio. Ah, eu não gosto de hidrogénio, é muito caro”. Acho que é importante que nessa componente, nem tem a ver diretamente com o nosso negócio na Greenvolt, mas tem a ver com todo aquele edifício, era importante que os partidos fundamentais o discutissem. Mas mais uma vez, não é sentarem-se num gabinete ali um dia e dizer vamos chegar a acordo sobre isto. Não, é fazermos tudo, como deve ser, com entidades independentes e chegar à melhor conclusão e avançar. Isto não é clubismo, isto é objetivo. Uma análise séria, com pessoas sérias, todos chegam à mesma conclusão. Porque aqui não há divergências ideológicas.
Falámos dos Estados Unidos, já falámos da Europa, da Europa de leste, especialmente a aposta da Greenvolt. Estão a ir para a Ásia também. Japão, Indonésia, são terrenos mais difíceis para vocês. Qual é o ímpeto da KKR nisto? Eles estão a dirigir-vos a isso?
Não, não. Aliás, uma coisa que há bocado não respondi. Nós não vamos investir, não tencionamos ir para mais países. O que pretendemos é reforçar e criar valor nos países onde estamos. Portanto, o Japão é um país que tem muito potencial. É preciso a pessoa saber gerir lá. Tínhamos um sócio local, europeu, mas que estava lá há uns anos. E, portanto, permitiu-nos começar a trabalhar pequenos projetos. E as coisas não estão a andar mal. A Indonésia é um dos maiores países do mundo em população. Não tem nada, praticamente nada. E aí vamos para o descentralizado. Este é um sistema um bocadinho burocrático, mas em vez de ser cada pessoa que quer fazer um projeto descentralizado, que se candidate, eles aí são muito disciplinados e de seis meses definem quotas. Portanto, o senhor apresenta os projetos, os que cabem na quota entram, os que não cabem não entram. E nós já entramos na primeira, entramos na segunda, vamos entrar na terceira.
Sabem com o que contam?
Sabemos com o que contar, as coisas têm o seu tempo. Há um caderno que há de entregar. Mais uma vez, também temos consórcios locais, por acaso são ocidentais, mas estão lá inseridos há muitos anos. No Japão vimos que têm as coisas arrumadas, mas na Indonésia… Uma surpresa agradável, quase. Sim. Diziam, que é burocrático, tem que se pôr os papéis duas vezes por ano. Mas está bem, é duas vezes por ano, já sabemos o que é. Em cada semestre temos que preparar o leilão seguinte. É assim. Não é cada vez que tem um projeto pronto que apresente. Não. Tem que esperar para aquele momento para apresentar. Digo-lhe, até agora, as coisas têm sido feitas com bastante transparência. Tem um potencial de crescimento. Não não estamos a gastar muito dinheiro, com deve calcular, mas, digo-lhe, até agora, as coisas vão andando.
Voltando à KKR, qual é que é a ligação? Como é que tem funcionado o relacionamento? Têm independência em termos de países de reforço?
Como digo, não tenciono investir em mais países, mas se amanhã quiser investir noutro país, obviamente tenho que falar com eles. Se eu tiver um investimento a partir de determinado momento, tenho que falar com eles. O Conselho de Administração, neste momento, só tem três membros. É o presidente que é da KKR, o vice-presidente é da KKR e eu sou o administrador delegado. E, obviamente, que investimentos de maior dimensão eu não mando um papel de investimento para o Conselho, sem ter visto com eles. Submeto as propostas, os dossiers de investimentos, vemos isso e tal, estamos de acordo, e depois vai a Conselho formalizar. Portanto, eles não estão a intervir no dia-a-dia, mas obviamente têm poder de ter alguma decisão, claro.
Compraram por alguma razão, claro.
O capital é deles, têm a maioria do Conselho, mas a iniciativa é nossa. E nós é que temos de expor, obviamente, temos de ter o acordo deles para as decisões de grande dimensão, às pequenas não, nem se pensa nisso.
Última pergunta. Voltando um bocadinho ao início e à sua experiência de liderança. Como é que tem visto a evolução do papel do CEO, seja na sua área ou em geral, num contexto de abraçar a evolução num mundo em alteração, onde tem que demonstrar que está a mudar para contar essa história? É mais difícil ser CEO hoje do que há 20 anos?
Não sei se as coisas antigamente andavam devagar, também não tenho a certeza. Nós temos de ter uma estratégia. E a estratégia não se muda todos os dias. Mas temos de ter inteligência suficiente para ir ajustando essa estratégia e isso é um trabalho de reflexão diária. E para isso é muito importante a pessoa estar aberta a ouvir opiniões diferentes. Quando se estava cotada eram uns canais, agora são outros canais. Mas temos de estar abertos, ou seja, temos de ter uma estratégia, que não podemos andar a mudar todos os dias para que ninguém perceba nada, mas temos de ser capazes de fazer. Por exemplo, nós, se calhar nunca lhe falei assim – e venho cá há uns anos – tanto em baterias como falo hoje, porque as baterias são fundamentais para os desequilíbrios. Portanto, nós temos de estar a todo momento preparados para ir introduzindo as alterações necessárias na estratégia. E depois, não é só definir a estratégia e fazer a modulação da mesma. Depois tem que acompanhar a implementação. Se um CEO não acompanhar a implementação, está noutro mundo. Muitas vezes uma estratégia parece uma coisa muito bonita, mas se depois não a implementar bem, se não tiver as pessoas adequadas… é fundamental. E aí, é preciso pessoas e é preciso dinheiro.
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