Perguntas e respostas rápidas a Daniel Bessa

Daniel Bessa diz que há muitas coisas em Durão Barroso de que não gostou mas, sobre a ida deste para a Goldman Sachs, diz que "não sei o que verdadeiramente fez de errado".

 

António Guterres à frente da ONU?

António Guterres sempre teve a ambição de um cargo internacional, nunca tive evidência disso, não falo com ele há 20 anos. Mas pessoas que privaram com ele dizem que tinha a ambição de um cargo internacional. É uma coisa desejada desde há muito, perseguida de uma forma conseguida e muito eficaz. Há um trabalho fantástico, o trabalho a que se deu para visitar os 15 países que estavam no Conselho de Segurança. Portanto, tudo aquilo parece profundo e perseguido de forma muito consistente. Acabou com o resultado que conhecemos, com mérito indiscutível. Agora não sei se é bom para Portugal, não tenho opinião sobre se é bom ou não para o país.

Durão Barroso na presidência da Goldman Sachs?

Sobre Durão Barroso, tenho menos pudor em falar. Sobre Guterres tenho uma obrigação de reserva, digamos, e de não dizer mais de 5% do que penso. Agora, sobre Durão Barroso, há muitas coisas de que não gostei. Não gostei de ter deixado de ser primeiro-ministro em Portugal, Guterres não deixou e foi–lhe oferecido o lugar de presidente da Comissão Europeia, cargo que veio a ser assumido por Prodi. Durão Barroso não hesitou, há muitas coisas no percurso político de Durão de que não gosto. Há quem diga que Portugal ganhou muito com a presença dele em Bruxelas, eu não estou muito certo disso. Não tenho a certeza que Durão Barroso tenha beneficiado muito Portugal e nem sequer acho que o devesse ter feito. Isto, para dizer que, sobre Durão Barroso, não consigo exprimir uma opinião muito simpática, ele seguramente sobre mim diria pior. Não gostei da história dos Açores, não gostei que tenha ido para Bruxelas, agora dito isto não sei verdadeiramente o que fez de errado. O sr. Juncker talvez tenha feito coisas muito piores como primeiro-ministro do Luxemburgo e de forma muito mais ativa. Barroso foi presidente da Comissão Europeia — em matéria de ética, posso dizer o que quiser –, mas não sei se é nesse plano que se deve colocar uma Comissão Europeia. E eu, que não morro de amores pela “geringonça”, achei que o Governo fez bem ao assumir perante a Comissão Europeia uma postura de que havia lugar ao mínimo de explicação. Não sei se Durão não é transformado numa espécie de bode expiatório. O senhor acabou a missão que desempenhava e os passos seguintes estão condicionados por regras. E ele não infringiu nenhuma. Talvez até do ponto de vista de ética, pensasse duas vezes. Mas não tenha infringido nenhuma. Os pecados do sr. Juncker são bem maiores.

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal?

Sou amigo de Carlos Costa e tenho por ele uma consideração sem limites, sobretudo do ponto de vista da integridade. Carlos Costa esteve com Durão Barroso, com Pedro Passos Coelho e com Maria Luís Albuquerque no não a Ricardo Salgado, que é uma das coisas que, do meu ponto de vista, mudou Portugal para melhor. Era algo impensável e o dizer que sim a Ricardo Salgado provavelmente teria hoje metido a CGD no buraco do GES. Basicamente, disse-se que não a uma operação de financiamento pela CGD. Depois disto tudo, não sou eu quem vai atirar nem um pedregulho, nem uma pedrinha ao governador. O balanço que faço do mandato dele no BdP é positivo. Claro que há histórias muito mal contadas mas nem sei se a responsabilidade é dele, se é do BCE, se é do Governo. Por exemplo, a história do Banif é uma história muito mal explicada. Mesmo no caso do BES, fica-se com a sensação que se demorou muito tempo. Mas eu não sei de quem é a responsabilidade maior, e não será da minha boca que se ouvirá algo contra o governador.

Melhor decisão que tomou até hoje?

As coisas de que me orgulho têm a ver com a Escola de Gestão do Porto, agora Porto Business School. Sei que estava à espera que lhe falasse de política mas, na política, orgulho-me também de ter recusado a salvação da Abel Alves Figueiredo, uma têxtil em Santo Tirso. Como Carlos Costa fez bem a outra escala, quando disse o não a Ricardo Salgado.

E a sua pior decisão?

Aquilo de que me envergonho mais foi de ter fechado a barragem de Foz Côa, porque as gravuras não sabem nadar. Mas, quando aceitei o lugar de ministro da Economia sabia que tinha de fechar a barragem. E ia apanhando pancada: fui lá tentar explicar aos locais que aquilo era bom para eles e ainda tive de sair de lá em marcha acelerada porque eles, contrariamente ao António Guterres, não gostavam muito das gravuras.

Pensei que me ia dizer que o pior tinha sido a passagem pelo Governo?

Não, não, apanhei muita pancada mas aprendi mais nesse período do que no resto. Isso pode ter sido mau para o país inteiro (risos) mas, para mim foi uma festa. Nunca aprendi tanto em tão pouco tempo, se alguém perdeu não fui eu. Mudou-me por completo, aprendi muitas coisas, deixei de ser tão ingénuo.

Sabia que…

Dia Europeu da Estatística / Fonte: INE
Dia Europeu da Estatística / Fonte: INE

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