Portugal ainda pode posicionar-se “no pelotão da frente” da indústria de eólico offshore

A Ocean Winds, que celebra cinco anos de operação do primeiro projeto de eólico offshore em Portugal, mantém o interesse em reforçar o investimento em Portugal.

A Ocean Winds afirma que mantém o interesse em participar no leilão de eólico offshore em Portugal, com a ressalva de que, se este não avançar, a empresa pode virar-se para outras geografias. Para já, está tudo em aberto para a empresa, até que sejam conhecidas as regras do leilão.

Em relação aos atrasos que se têm vindo a verificar no leilão, o CEO da Ocean Winds (OW) para a Península Ibérica, José Pinheiro, considera que não ditarão um desinteresse por parte dos investidores. Aliás, considera que Portugal ainda se pode posicionar “no pelotão da frente” da indústria, na qual o Reino Unido e França se têm destacado, a nível europeu.

Numa altura em que a empresa, que é detida pela EDP e Engie em partes iguais, celebra cinco anos do projeto de eólico offshore flutuante que instalou ao largo de Viana do Castelo, o Windfloat Atlantic, o CEO ibérico da OW acredita que este “subsetor” das energias renováveis no qual a empresa se move deverá dar o salto pretendido em termos de escala nos próximos dez anos.

O Governo anunciou que o leilão para projetos de energia eólica offshore deverá ser lançado em seis meses. Já não é a primeira vez que temos uma mensagem do género. Tendo em conta a incerteza política com as eleições à porta, está confiante de que vai ser assim?

A perspetiva é que, de facto, o procedimento concorrencial venha a acontecer mais tarde ou mais cedo.

Mas o prazo de seis meses parece-lhe realista?

Se são seis meses ou se são oito ou nove, não sei precisar. Mas acredito que sim [que acabará por acontecer].

Quando o leilão foi falado pela primeira vez, havia um discurso dos vários intervenientes de que era importante acelerar, no sentido de captar a indústria em torno do eólico offshore. Portugal está a ficar para trás na captação desta indústria?

É justo dizer que, devido ao contexto dos últimos anos, o contexto macroeconómico e geopolítico, de facto atrasou-se a chegada do eólico offshore, num plano de mais de larga escala. Portugal, um pouco à imagem de outros países, também o atrasou.

Então não somos os únicos que estão atrasados neste caminho, ou estamos um pouco a perder terreno para outras geografias?

Há países, focando um pouco na Europa, que de facto continuam a apostar ou fizeram um caminho já mais assertivo neste campo da energia eólica flutuante, concretamente Reino Unido e França. Creio que são realmente os melhores exemplos de uma continuidade, através do lançamento de procedimentos concursais.

No entanto, acho que Portugal ainda poderá agarrar este pelotão da frente e a indústria ainda está expectante de que isto aconteça também em Portugal.

A Ocean Winds mantém o interesse em participar neste leilão quando ele abrir?

Sim, a perspetiva é essa. Se Portugal lançar o leilão no curto a médio prazo é ótimo. Se esperarem alguns anos mais, enquanto empresa global que somos, não é terrível.

No sentido em que podem investir noutras geografias?

Sim, claro. Porque a natureza do nosso negócio e da nossa forma de atuar no mercado, é global. Mas se houver oportunidade de competirmos em Portugal, aqui estaremos.

E tendo em conta a informação que já foi lançada, já têm uma área preferida? Que planos têm para Portugal, mais concretamente?

Não temos nenhuma área de preferência.

Analisarão quando chegar o momento do leilão?

Exatamente. Teremos esse momento de olhar e decidir. Dependerá muito do caderno de encargos e das regras desse leilão.

E poderiam [Ocean Winds] instalar mais do que um novo projeto em Portugal?

Tudo isso depende muito das regras do jogo, do leilão. Será prematuro dizer se é um, se são dois, e quantos megawatts. Seria mera especulação.

O que é que são para vocês as linhas vermelhas e as condições essenciais para que estejam de facto interessados?

Nunca há regulação perfeita nem procedimentos concursais perfeitos. Em geral, tendemos a adaptar-nos, mas é verdade que há determinados pilares que são essenciais para nós. Participamos aqui em Portugal, ou em qualquer outro país, numa lógica de que é possível criar valor com o projeto para os acionistas.

Há alguns exemplos de como, na incerteza e nas dificuldades contextuais que se vive hoje em dia, é possível trazer algum equilíbrio de risco.

Esse equilíbrio consiste em quê, por exemplo?

Coisas tão simples mas tão importantes como a indexação das tarifas de remuneração à eletricidade produzida a longo prazo, até porque existem prazos alargados entre o momento em que um promotor se apresenta num leilão e o momento em que fecha o caso económico e financeiro, e se decide finalmente investir.

Este é de facto um dos mecanismos que permite maior certeza e maior segurança do ponto de vista do investidor, dada a natureza do negócio em causa e o contexto macroeconómico em que nos movemos hoje em dia.

E para fechar esta questão do leilão: tem alguma sensibilidade sobre o número de interessados? Mudou significativamente desde o início, quando eram cerca de 50?

Se são três, ou quatro ou cinco, é um pouco irrelevante. Existe naturalmente o interesse. Tenho a perceção de que se Portugal se mobilizar para um primeiro procedimento concorrencial, o interesse da indústria voltará.

Foi noticiado que a EDP Renováveis estaria à procura de um comprador para a participação na Ocean Winds. Crê que a Ocean Winds poderá ter novos acionistas em breve?

Eu creio que o que o CEO [da EDP], Miguel Stilwell, deixou muito claro no anúncio dos resultados de 2024 que a Ocean Winds é um veículo estratégico para o grupo EDP.

Que balanço faz dos cinco anos do projeto Windfloat Atlantic? Que aprendizagens retiram e como é que elas se refletem nos vossos restantes projetos, que têm pelo mundo inteiro?

O projeto Windfloat Atlantic é mais do que um centro eletroprodutor. O grande objetivo do projeto assenta numa aposta em inovação. Desde o seu desenvolvimento, construção e agora também nestes primeiros cinco anos de operação, desde 2020, tem sido um laboratório que nos permitiu e permite aprender como é que a tecnologia flutuante se comporta em ambiente marítimo real. O Oceano Atlântico e a costa portuguesa apresentam, de facto, condições bastante desafiantes.

A tecnicidade à volta da operação e da otimização da produção, e também a forma como mantemos o parque e como vamos ao mar, tudo isso são lições extremamente importantes. E evoluções tecnológicas, seja da amarração, seja da forma como o binómio de turbina eólica e plataforma funciona.

Apesar de cada projeto ter as suas especificidades, porque vive um entorno meteorológico e ambiental específico, há muitas adições e muitas retroalimentações de conhecimento adquirido com o projeto Windfloat Atlantic.

Que impacto teve este projeto na indústria?

Apesar de ser um projeto relativamente pequeno, o projeto demonstrou claramente que consegue promover um certo arrastar de interesse da cadeia de fornecimento e é realmente um projeto pan-europeu. Temos fornecimentos [de materiais] de Portugal, de Espanha, de França, da Dinamarca e do Reino Unido.

As plataformas flutuantes foram feitas na Lisnave de Setúbal, a terceira plataforma foi fabricada nos estaleiros de Espanha, as turbinas eólicas vieram da Dinamarca e Reino Unido, os cabos vieram do Reino Unido, o instalador offshore é francês, embarcações nacionais que ajudam na manutenção do parque… É importante referir que esta é uma indústria que vive muito de sinergias.

[O eólico offshore] é um subsetor das energias renováveis que, para ver o seu caminho percorrido de uma forma mais completa, não pede muitos mais investimentos em protótipos. O que precisa é de escala.

E acredita que isso está para acontecer nos próximos anos, tendo em conta o número de leilões que estão em vista? Ou há aqui um risco da indústria não dar esse salto, pelo menos tão cedo?

Acredito que sim. Acredito que vai acabar por acontecer o mesmo que aconteceu com muitas outras tecnologias que hoje em dia são muito comuns, seja onshore, seja offshore. Acho que esta próxima década, de hoje a dez anos, vamos ver este pulsar acontecer.

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