Exclusivo Portuguesa Sotecnisol Power & Water arranca internacionalização em 2023

Depois do "acelerar enorme" potenciado pela guerra na Ucrânia, a Sotecnisol Power & Water antecipa fechar o ano com faturação de 8,5 milhões de euros e, em 2023, quer internacionalizar a operação.

A Sotecnisol Power & Water, área de negócio da cinquentenária portuguesa Sotecnisol voltada para as energias “verdes”, sentiu um “acelerar enorme” com a guerra na Ucrânia, conflito que resultou num apressar da descarbonização na União Europeia e de um crescimento na aposta das renováveis. O CEO Filipe Bello Morais garante, em declarações ao ECO/Capital Verde, que a atividade da Sotecnisol Power & Water em Portugal, onde esta área de negócio nasceu há 15 anos, segue a uma evolução positiva e que, por isso, os próximos passos são a internacionalização do negócio.

“Estamos a retomar o nosso processo de internacionalização. Para 2023, já teremos novidades. Temos duas ou três possibilidades de mercado que estamos ainda a avaliar. Estávamos a olhar para os países do Leste mas a guerra fez-nos reavaliar. Entendemos que o negócio em Portugal, apesar de ser interessante, começa a ser pequeno para as nossas ambições. Sabemos fazer bem cá dentro. Queremos fazer bem lá fora”, afirma Filipe Bello Morais.

A guerra na Ucrânia teve algum impacto no crescimento da Sotecnisol Power & Water? Aproveitaram o boom das renováveis e os esforços para acelerar a descarbonização na União Europeia para se posicionarem melhor no mercado e reforçarem a oferta?

Sim. Existe neste momento um acelerar enorme das [energias] renováveis e a guerra na Ucrânia acaba por ser o expoente máximo. Tem um impacto direto no panorama energético a nível europeu e até mundial, diria. Numa fase inicial, houve um impacto na economia por via da Covid-19 que levou ao desenvolvimento da chamada “bazuca” europeia. Esta permitiu criar mecanismos bastante potentes para ajudar a acelerar a transição energética e a descarbonização da economia.

Diria que a guerra na Ucrânia é o boost máximo nas renováveis por razões muito infelizes, mas aqui na Sotecnisol Power & Water sentimos um acelerar enorme. Tanto a nível da procura — porque se assiste a uma aumento tremendo nos custos energéticos, o que leva as empresas a procurarem formas de mitigar esse aumento dos custos, que afeta, muitas vezes, a atividade económica — mas também pelo papel do Estado, ao querer eliminar as barreiras legislativas de licenciamento, que têm sido uma grande dificuldade para as empresas.

De que maneira o Simplex para o licenciamento ambiental e energético pode influenciar a vossa atividade?

Pode ter um impacto significativo. O governo estabeleceu para 2023 a eliminação de um conjunto de barreiras.

Há três aspetos muito importantes. O aspeto ambiental, que tem vindo a ser trabalhado, e onde já sentimos algumas melhorias apesar de serem muitas lentas. Por exemplo, já foram anunciadas integrações das plataformas e dos portais quer da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), com as das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) e com a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) para haver um único ponto em que todas as entidades possam consultar informações, agilizando muito esse processo que, por vezes, é muito estanque. Neste aspeto, passa a haver uma integração maior mas vai demorar bastante tempo. O presidente da APA, Nuno Lacasta, e a engenheira da DGEG, Maria José Espírito Santo, referiram que talvez demoraria ano e meio a fazer essa integração.

Depois, temos os licenciamentos camarários, com foco sobre o poder local, e que neste momento têm um programa de aceleração muito intenso. E, por fim, os licenciamentos energéticos dentro da DGEG, sendo alimentados com informação que vem da Agência para a Energia (ADENE) e da E-Redes, ao nível da distribuição e dos transportes. E, aí sim, nós vamos sentir uma enorme aceleração, porque de facto, até ao momento, são os grandes obstáculos.

Enquanto player no mercado, queremos fazer mais, mas muitas vezes não conseguimos porque os licenciamentos são muito complexos. Esta simplificação vai ser um gatilho enorme que vai fazer com que esta atividade acelere muito rapidamente.

Como esperam fechar este ano?

A nossa expectativa para este ano era ter um crescimento de 25% a 30% na faturação. Vamos ultrapassar essa margem, já é claro para nós. Iremos faturar cerca de 8,5 milhões este ano.

Existe algum fator que pode influenciar ou comprometer essa perspetiva?

Uma das grandes dificuldades que as empresas hoje em dia enfrentam tem a ver com a cadeia de fornecimento dos equipamentos e materiais, e a componente logística associada. Temos uma empresa bem estruturada, internacionalizada ao nível do público, e portanto dominamos bem a componente logística e de fornecimento. No entanto, muitas vezes há situações que ultrapassam aquilo que seria o expectável. A Sotecnisol tem uma capacidade muito grande de armazenagem de materiais e equipamento, cerca de 10 mil metros quadrados, e isso permite-nos fazer stocks atempadamente. Esses armazéns estão distribuídos pelo país e essa é uma grande vantagem nossa. Nós tentamos com isso ultrapassar os constrangimentos nas cadeias de abastecimento e temos conseguido fazê-lo até ao momento. Os nossos clientes podem ficar descansados nesse aspeto.

No entanto, diria, ainda assim, que esse é o maior desafio: as disrupções nas cadeias de fornecimento e nas cadeias logísticas; as dificuldades nos portos, o trânsito marítimo. Felizmente, temos conseguido mitigar isso. Temos capacidade para armazenar com alguma antecipação, e portanto acho que estamos bem preparados para fazer face a estas variações que sentimos.

À semelhança do que já acontece com a internacionalização da Sotecnisol, ambicionam expandir a área de negócio voltada para as renováveis também para o estrangeiro?

Sim, temos essa ambição. A Sotecnisol Power & Water tinha um plano muito bem traçado para internacionalizar o seu negócio. Temos estado a olhar para alguns países no leste da Europa. Somos uma empresa que quer ter os pés bem assentes no chão. A covid-19 alterou muito a forma como nós vimos o mundo… os confinamentos em cada país — quer ao nível da circulação de pessoas a nível interno como externo — as entradas e saídas de mercadorias… vieram alterar muito a nossa realidade, o que acabou por travar a fundo as nossas ambições de internacionalizar o negócio. A partir daí, focamo-nos muito em otimizar o mercado interno.

Mas, no final de 2021, face ao ritmo de recuperação económica, começámos novamente a olhar para esta questão com uma vontade de fazer bem lá fora o que já fazemos bem cá dentro. Estamos a retomar o nosso processo de internacionalização. Para 2023, já teremos novidades. Temos duas ou três possibilidades de mercado que estamos ainda a avaliar. As circunstâncias macroeconómicas fazem-nos repensar, constantemente, a nossa estratégia. Estávamos a olhar para os países do Leste mas a guerra fez-nos reavaliar. Entendemos que o negócio em Portugal, apesar de ser interessante, começa a ser pequeno para as nossas ambições. Sabemos fazer bem cá dentro. Queremos fazer bem lá fora.

Estamos a retomar o nosso processo de internacionalização. Para 2023, já teremos novidades. Temos duas ou três possibilidades de mercado que estamos ainda a avaliar.

Filipe Bello Morais, CEO Sotecnisol Power & Water

Como tem sido o crescimento da Sotecnisol Power & Water nos últimos anos? Os investimentos e o ritmo de crescimento têm correspondido às expectativas?

Somos uma empresa que já está na atividade há bastante tempo, há quase 20 anos. Temos acompanhado, desde o início, a atividade das renováveis e a sua evolução e conseguimos posicionar-nos bem no mercado.

Além de apostarmos na nossa oferta para o mercado, apostámos, também, na nossa equipa. Numa fase inicial, procurámos investir em pessoas, no know how, em matéria cinzenta e em recursos para dar resposta aos nossos clientes, quer em termos negociais, quer em termos de execução. Temos uma equipa de alto nível.

Depois de ter estabilizado a componente da equipa, procurámos fazer uma avaliação do que podemos fazer mais pelo mercado, e percebemos que a resposta estava na tecnologia, na experiência com o cliente e na forma como se relaciona com ela [a tecnologia]. Desde o início de 2020, logo no início da pandemia, que investimos muito em desenvolver uma plataforma tecnológica de experiência de utilização para os clientes das nossas centrais. Neste momento, a Remote Operating and Maintenence Aplication (ROMA) é candidata a um apoio a inovação do Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e ao Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE).

Quanto foi investido para fazer nascer esta plataforma?

Investimos 120 mil euros e candidatamo-nos ao SIFIDE para receber uma comparticipação de 65 mil euros. Cerca de 60% do investimento foi apoiado pelos programas de inovação.

Como têm sido os resultados? O feedback dos clientes é positivo?

Sim. No ROMA, uma das informações prestadas é o comparativo permanente com as projeções. Quer seja o horário, quer seja de uma base semanal ou mensal. O cliente consegue ver, perceber e comparar imediatamente, no intervalo de tempo definido, qual foi a produção real daquela central e o que é expectável num modelo económico inicial. É um aspeto muito importante, porque o cliente consegue entender o resultado do seu investimento. Era algo que sentíamos que não acontecia com outros comercializadores. Os clientes faziam um investimento mas não tinham a certeza do real desempenho da sua central, e, muitas vezes, quando questionavam as empresas, as respostas eram sempre muito vagas. É muito interessante porque o cliente pode avaliar impactos e solicitar compensações por essas falhas.

Que expectativas têm ao nível de expansão do portefólio de instalações e de clientes?

Nós queremos atrair novos clientes. Queremos mostrar ao mercado aquilo que somos e o que temos para oferecer para ajudar a ultrapassar os desafios do ambiente macroeconómico. As nossas instalações permitem reduzir ­­custos em eletricidade na ordem dos 30 a 50% na fatura. É uma mensagem que queremos que passe com muita intensidade. Com isto, chegam-nos muitos clientes de todos os tipos, setores e nacionalidades. Nós queremos captar o maior número de clientes que queiram e que estejam interessados na oportunidade que é trabalhar com uma empresa como a nossa, que consegue proporcionar melhorias e ajudar a ultrapassar as dificuldades das circunstâncias atuais.

Temos um leque variado no setor do turismo, agroalimentar, hoteleiro, industrial. Empresas a nível nacional, multinacionais. Por exemplo, no setor turístico, estamos, neste momento, a fazer a quinta central para o complexo turístico The Oitavos, na Quinta da Marinha, em Cascais, com quase 1 megawatt por hora (MWh) de potência instalada. Atrevemo-nos a dizer que é um dos complexos turísticos com a maior potência instalada em Portugal. Isto se não foi mesmo o maior. Temos tido, também, mais instalações no grupo Delta e Agriloja, por exemplo.

Complexo turístico Os Oitvados, na Quinta da Marinha, em Cascais
Complexo turístico Os Oitvados, na Quinta da Marinha, em Cascais/Foto cedida

A nível das multinacionais, tivemos o grupo Monliz, que é detida pela multinacional Ardo, de origem belga, que fez no ano passado uma instalação connosco de 1 MWh e adjudicou-nos a ampliação de mais de 2.200 painéis, de 1,2 MWh, tornando-se também numa das maiores agroindústrias alimentadas por parques fotovoltaicos. Tivemos também, em julho, a adjudicação de uma central de cerca de 900 killowatts por hora (KWh) para a multinacional internacional italiana, a FassaBortolo. A obra está avaliada em 600 mil euros. Esta é a primeira central que vão instalar nas fábricas do grupo que estão presentes em mais de sete países, e escolheram a SotecnisolPower & Water para essa transição energética. Fica concluída até ao final do ano.

A nossa aposta é também repetir instalações junto dos clientes que já vieram ter connosco, que já nos reconhecem como uma mais-valia e um apoio. Nós temos tido nesses clientes uma grande vontade em voltar a fazer e fazer mais. Aquilo que há uns anos era uma experiência, neste momento é uma certeza. É isso que temos passado para os clientes, que têm reconhecido.

Instalação para a multinacional belga Crop’s, com uma potência de 1MWp, que irá produzir anualmente 1545 MWh de eletricidade e reduzir o consumo da empresa em cerca de 10%. Obra irá estar concluída até ao final do ano 2022, atingirá uma potência instalada de 2,2MWp, o que significa substituir perto de 16% do atual consumo de eletricidade da rede pública./ Foto cedida

O Governo tem frisado várias vezes as intenções de reforçar a capacidade de produção de energia “verde”. Pode Portugal liderar a transição energética na União Europeia?

Sim. Temos tudo para isso. Temos uma vontade política grande de sermos um player de referência. Essa está muito vincada desde sempre e é um aspeto muito positivo da política nacional e internacional. E temos também a vantagem de Portugal não ser rico em combustíveis fósseis mas sim em recursos endógenos, energéticos e renováveis, nomeadamente a solar, eólica e a hídrica. A ideia é claramente posicionar Portugal na primeira linha dos países mais apetecíveis para investir em tecnologias verdes, até para exportação.

Existe essa capacidade de exportação?

Eu acho que sim. A nível da energia solar, temos uma radiação enorme para podermos alimentar as necessidades internas e conseguirmos exportar muita energia para os nossos países vizinhos, como Espanha. Onde estão as limitações? É notória a rede elétrica dessa capacidade de transporte. A rede, neste momento, desenvolve-se pela zona litoral e tem que ser estruturada para reforçar toda a zona interior que é onde produzimos energia. Eliminada essa primeira barreira, conseguimos colocar energia em quantidade do lado de Espanha.

Depois, temos uma situação que já não está nas nossas mãos, está nas mãos da política europeia e da vontade de uma abordagem mais integrada, que é eliminar barreira a nível dos Pirinéus. Os Pirinéus têm uma capacidade muito limitada ao nível de interligação elétrica entre Espanha e França. Podemos produzir muito, mas se não houver a capacidade para transportar para França, estaremos sempre muito limitados. A ideia é essa. Caminharmos nesse sentido, criar condições em Portugal para produzirmos muita energia renovável e solar, reforçarmos a capacidade de transporte interno como externo, e, depois, com os espanhóis, termos a força suficiente para baixar as barreiras à capacidade de transporte para o mercado europeu central. Podemos ser um exportador de grande dimensão.

A ideia é claramente posicionar Portugal na primeira linha dos países mais apetecíveis para investir em tecnologias verdes, até para exportação.

Filipe Bello Morais, CEO Sotecnisol Power & Water

Além de reforçar o desenvolvimento da ROMA e apostar internamente, que outros projetos têm marcados na agenda? Vão apostar na diversificação da oferta?

A Sotecnisol Power and Water está a investir muito em várias vertentes. Reforçar as competências e a sua equipa, em recursos para dar resposta à procura, reforçar e investir numa melhoria da experiência que os clientes têm quando trabalham connosco, e depois agregar à nossa oferta um conjunto de tecnologias que serão mais costumizáveis em função de cada cliente.

A nossa preocupação neste momento é que, face àquilo que é o aumento enorme de solicitações que vamos sentir neste mercado, queremos dotar a nossa empresa e a nossa equipa com capacidade de resposta ainda mais intensa, mais eficaz, mais precisa. Nós dividimos esta segunda ou terceira fase de crescimento na componente de recursos. No prazo de dois anos, queremos ter o dobro das pessoas e portanto conseguir acompanhar com uma excelente resposta aquilo que serão as solicitações dos nossos clientes, quer a nível comercial quer a nível da produção. Além disso, queremos elevar ainda mais a experiência do cliente. Queremos que o cliente perceba verdadeiramente o resultado do seu investimento. Nós queremos dar mais informação. Temos um segundo pacote de investimento para o ROMA para dotar essa ferramenta com informação ainda mais ampla, mais densa.

Também queremos desenvolver, nos próximos anos, um departamento de inovação que nos permita juntar à nossa oferta projetos inovadores e que complementem aquilo que já fazemos, nomeadamente, ao nível das baterias. Estamos a desenvolver uma resposta e agregar às nossas ofertas baterias que sejam suficientemente eficazes economicamente e tecnicamente para chegarmos a outro tipo de clientes — clientes com menos consumo durante o dia mas com mais consumo à noite e que possam beneficiar da tecnologia desta forma e que consigam ter um desempenho e um resultado muito idêntico às empresas que consomem durante o dia.

Estamos também a trabalhar numa oferta a nível das comunidades energéticas. É um tema que vemos com muito interesse. Queremos afiná-la para os próximos anos.

A nível da mobilidade elétrica, temos algum interesse em agregar às nossas centrais uma experiência de mobilidade e de veículos elétricos, acoplados àquilo que é a energia solar e à eletrificação dos consumos e da forma como nos movimentamos.

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