Pedro Carreira, presidente da Continental Mabor, critica as mudanças na lei laboral e os atrasos do Estado no pagamento dos apoios contratualizados. O “descalabro” dos impostos afasta investidores.
Em entrevista ao ECO, o presidente da Continental Mabor, que em 2022 foi a quarta maior exportadora portuguesa (a seguir à Petrogal, Autoeuropa e Navigator), com um volume de faturação superior a 1,2 mil milhões de euros, assume que “é frustrante” continuar a sentir os governantes “surpreendidos com a dimensão daquilo que encontram” nas visitas à fábrica de pneus de Vila Nova de Famalicão, lamentando a postura do Estado português de que “as grandes empresas não precisam de nada e safam-se bem sozinhas”.
Crítico das mexidas na legislação laboral – “é quase preciso fazer um tratado para justificar uma posição [temporária] – e dos atrasos no pagamento dos apoios contratualizados com o Estado, que já teriam obrigado a empresa a “fechar portas” se deles dependesse para avançar com investimentos ou pedir dinheiro emprestado aos bancos, Pedro Carreira dramatiza a necessidade de um desagravamento fiscal no próximo Orçamento do Estado. O gestor descrever como “um descalabro” os impostos cobrados às empresas em Portugal, que estão a afastar mais investidores do país.
Nos últimos anos, a indústria atravessou momentos de stress ao nível das cadeias logísticas. Como é que a Continental Mabor está organizada na parte da distribuição?
Qualquer negócio precisa de ter uma cadeia de logística. Em Portugal, a ferrovia é para brincar. Não faz sentido. Não existe uma rede ferroviária que nos dê suporte, que seja capaz de funcionar. Ainda há muita discussão a nível europeu, andamos a sonhar com muitas coisas, mas quando o comboio chega à fronteira… E atravessar alguns países é um problema. Chegámos a mandar um comboio daqui para a Alemanha e levou três a quatro semanas. Chega ali a França e perde-se. É muito difícil, não funciona.
Por isso, os nossos principais meios de distribuição são por camião na Europa e para levar contentores até ao porto de Roterdão, por exemplo, a partir do qual é fácil de exportar. Depois temos contentores enviados para Leixões ou para Sines para despacho por navio. São os dois grandes meios para despachar pneus e para receber matérias-primas também. Mas tudo tem de chegar de camião aqui à fábrica.
Depois entramos em questões muito antigas como a dos novos acessos da N14 para chegar à fábrica, que um dia hão de vir a sair [do papel]. Vem nos Orçamentos do Estado, foram feitos anúncios. Um dia espero vir a ver a tal variante, mas só acredito quando a vir construída.
E como está atualmente a situação do fornecimento à fábrica – custo e acesso a matérias-primas e outros componentes – e que impacto tem na atividade operacional?
Todas as nossas matérias-primas são complicadas porque a nível nacional não temos capacidade para nos abastecer. Estamos sempre dependentes de uma cadeia de logística exterior, está sempre longe. Grande parte das borrachas naturais e sintéticas está em sítios remotos e isso obriga-nos a grandes previsões e grandes stocks. Um navio da Malásia demora seis a oito semanas a chegar cá – se chegar. Depois Portugal não é um país apetecível para as rotas dos grandes navios. Fogem todos e é mais fácil irmos buscar as matérias-primas a Roterdão ou a Hamburgo.
A Covid-19 obrigou-nos a fazer outra ginástica, a tentar perceber quais os países que iam fechar e foi uma aprendizagem de todo o tamanho, que nos obrigou a aumentar stocks.
A guerra na Ucrânia obrigou-nos a mudar a estratégia de fornecedores [russos]. Mas depois de estar feita, funciona. Temos é de nos habituar que não é para a semana que se manda vir o camião, mas daqui a sete semanas. Obriga a uma gestão de stocks brutal, num ambiente mundial que é incerto. A nossa indústria funciona muito como no vestuário: no inverno estamos a produzir pneus de verão. Temos de ter capacidade em armazém e isso obriga a ter uma cadeia logística brutal.
Nunca tiveram de parar a produção por falta de materiais?
Só parámos a produção na época da Covid-19, por questões óbvias de saúde. Fora isso, não. Temos é stocks e fazemos previsão.
A Autoeuropa vai parar a produção durante nove semanas a fábrica de Palmela devido às dificuldades de um fornecedor da Eslovénia.
Aí funciona num modo diferente. Eles trabalham com just in time. Têm um stock de horas nas fábricas e os subcontratados que estão à volta. É assim que funciona na maior parte das construtoras automóveis. A paragem [da fábrica de Palmela] não tem impacto para a Continental Mabor, que só vende uma coisinha pequenina para a Autoeuropa. Só 1% da nossa produção fica em Portugal.
Que leitura faz do atual momento da indústria automóvel no que toca a ameaças, riscos e oportunidades?
É uma ameaça brutal não saber muito bem o que é que as pessoas vão decidir fazer nos próximos anos. Está a haver uma eletrificação mais massiva, que foi uma das coisas que de repente apareceu em cima da mesa. Até determinada altura achávamos que os carros a gasolina aguentavam mais uns anos e que os elétricos eram uma brincadeira. A Tesla veio mostrar que era possível aparecer do nada e de repente fazer uma fábrica e vender carros 100% elétricos.
Que impacto é que isso está a ter na indústria dos pneus?
É um impacto brutal. Há marcas que vendem performance e não estão preocupadas com o ruído e com os consumos. Os elétricos trouxeram não só performance, como o potencial de poder ir a ouvir música, confortável e sem barulho, e a questão da bateria. Se o pneu pesar 37 quilos não serve para o meu carro [elétrico] porque senão não chego a Lisboa por causa do consumo.
E não é só ser pesado. É ser leve e ter um comportamento que permita baixar a resistência ao rolamento a um ponto tal que baixa ainda mais o consumo da bateria. Não é só o peso que baixa, é a forma como agarra o solo. Ora, se vou daqui para Lisboa e fico em Coimbra sem bateria é uma chatice.
Os requisitos dos clientes são muito diferentes nos carros elétricos?
Claramente. Os pneus são feitos todos dentro da mesma fábrica; a nível de produto é que têm requisitos diferentes. São pneus de maior valor acrescentado, são os pneus de gama alta. Por isso é que os resultados de EBIT e VAB são o que são, face a isto. Há muitas empresas que fazem números muito grandes, mas aquilo que pagamos em impostos é muitas vezes dez vezes maior do que aquilo que algumas empresas em Portugal apresentam como lucros. Isto é valor acrescentado para a economia portuguesa.
É a sobrevivência desta empresa [que está em questão]. É nesta gama que temos de estar se queremos continuar a investir e a crescer. Porque com os pneus de jante 14 e 15, a margem que teríamos seria muito pequenina. Não dava para fazer isto que temos aqui à volta [investimentos].
Olhando no horizonte externo, a economia alemã vai contrair 0,4% em 2023. Que riscos é que acarreta para a Continental Mabor?
Aguardo pacientemente para ver o que é que vai acontecer. Os sinais estão aí, há dados concretos e por vezes temos tendência a não olhar para as coisas. Como todas as empresas, estamos a fazer previsões e a olhar para o final do ano para ver como vamos fechar e como nos vamos preparar para o budget.
Mas este cenário não se refletiu nas decisões orçamentais do grupo? Não sentiu o ambiente mais pesado na última viagem a Hannover?
Já estivemos em momentos mais otimistas do que estamos agora. O cenário para a empresa em Portugal é relativamente otimista porque estamos protegidos. Somos a fábrica mais eficiente e, com isto, ficamos numa espécie de bolha. Estamos protegidos por uma bolha de eficiência e pelos resultados operacionais ao longo dos últimos anos. Isso dá-nos uma espécie de barreiras de proteção. E é muito difícil estar a fazer prognósticos para os meus colegas das outras fábricas, quando sei que há outras fábricas que estão a receber menos fundos do que no ano passado. Mas nós vamos continuar praticamente iguais, até vamos crescer mais um bocadinho.
Houve cortes nos investimentos noutras geografias, mas não chegaram aqui?
Sim. Esta fábrica está protegida, há outras que não. Estamos a trabalhar para o mundo inteiro: onde os outros não estão, estamos nós. Como Portugal está na cauda da Europa, porque fornecer a Europa tem sido sempre o nosso problema, há muitos anos começámos a dizer aos americanos e aos asiáticos: ‘nós fazemos os vossos pneus’. Enquanto esses mercados estiverem bem, a Europa pode estar mal, mas mantemos os outros dois.
Como temos pneus de verão e de inverno, temos os pneus para os carros elétricos, pela flexibilidade e por nos termos adaptado nos últimos anos, dentro do que podemos escolher e suportar, a estratégia tem sido mantermo-nos à tona da água em todos os lados. Dá-nos chatices internas porque temos de obedecer a requisitos de várias regiões, que têm necessidades diferentes.
Temos vivido relativamente calmos e serenos entre as três áreas (Europa, EUA, Ásia). Mas é preciso olhar para a movimentação dos portos e perceber o que está a acontecer. Estamos a ver movimentações menores e quando isto acontece é sinal que temos de começar a olhar para o que está a acontecer no mundo inteiro. É porque alguma coisa não está bem.
A fábrica portuguesa está protegida [[dos cortes orçamentais no grupo] por uma bolha de eficiência e pelos resultados operacionais quem tem apresentado ao longo dos últimos anos.
Quais são os principais constrangimentos à atividade da empresa em Portugal e como poderiam ser resolvidos?
O que nos atrapalha são mesmo as cargas fiscais e a irracionalidade da distribuição das mesmas. E a [pouca] preocupação do Estado com empresas como a nossa. É frustrante termos alguns governantes a visitarem-nos e a ficarem surpreendidos com a dimensão daquilo que encontram. Nós estamos cá há décadas, demonstramos resultados todos os anos, pagamos os nossos impostos.
Não somos uma empresa com ações, não estamos muito centrados ali na zona [de Lisboa]. Portanto, chego à conclusão de que, para eles, não somos uma fábrica interessante. O Estado acha que as grandes empresas não precisam de nada e safam-se bem sozinhas. Mas são as grandes empresas que estão a injetar dinheiro de volta. Nós injetamos, de certeza.
Por outro lado – e isto devia ser a primeira preocupação do Estado –, só as grandes empresas em Portugal é que conseguem ir buscar incentivos do Estado para o desenvolvimento e crescimento. Porque o processo é tão complexo, tão demorado e burocrático, que passados anos de os processos estarem aprovados ainda estamos à espera de receber os incentivos. Portanto, se estivéssemos à espera dos incentivos, como algumas empresas, para avançar com os investimentos, já tínhamos fechado as portas. Isto não pode acontecer.
Em Portugal não há prazos. Os prazos são para nós quando chega o dia do pagamento fiscal. O Estado há de pagar. Olhe, o Covid-19 [apoios ao lay-off simplificado] acho que ainda não está resolvido. Foi em 2020, não foi? E de um projeto de incentivos que temos desde 2017, estamos à espera de não sei de quê. Dizem-nos que não há gente para fazer os estudos e garantir que devíamos receber o dinheiro.
Há um conjunto de coisas que funcionam muito mal em Portugal. Porque as empresas são grandes, estão bem, acham que não é preciso chatearem-se com isso. Nós estamos protegidos porque temos recursos para não ter de pedir dinheiro emprestado aos bancos. Como não pedimos, as coisas funcionam.
Se tivesse de pedir dinheiro emprestado ao banco, com base em empréstimos que vou receber do Estado, já tínhamos fechado as portas. Porque o Estado é difícil. Assinam, vão pagando, mas arrasta-se por décadas. Pergunto: e nas pequenas empresas, como funciona? Essas têm ainda mais dificuldades. Se o Estado tem dificuldade em entender o que é uma empresa como a nossa, como é que conhece as outras empresas?
Como é que explica esses atrasos à sede da Continental?
Essa é a minha dificuldade, que tenho grande dificuldade em expressar a todos os governantes que nos visitam e sabem que somos uma empresa alemã. E para os alemães, o dia 1 é o dia 1. Ou está ou não está. Como é que conseguimos garantir investimentos e que somos um país sério para continuar a investir se, depois, quando chegamos à realização das coisas é mais um mês e depois vem para o ano… É complicado.
E quando comparamos os impostos que pagamos em Portugal com os outros países, em termos de IRC, é um descalabro. Com a Roménia, por exemplo, onde estive a trabalhar durante quatro anos. Como funcionário e como empresa paga-se metade dos impostos que se pagam cá. Mas o Estado cobra [sobre os] lucros. Ora, se a empresa apresenta resultados, o Estado vai buscar ainda mais dinheiro.
Em Portugal temos uma ótica completamente inversa: é taxar, taxar, taxar. Pagamos a eletricidade e a gasolina mais cara, os impostos são mais altos, e estamos a concorrer com outros países da Europa onde isto não existe. É certo que outros países não têm os incentivos como nós temos, mas isto é uma vez. E o resto? E o dia-a-dia? Como se resolvem as questões? A quem é que a gente bate à porta? Leva algum tempo.
A taxa de IRC está a afastar mais investidores de virem para Portugal?
Claro. O que nos tem salvaguardado é a performance que esta fábrica tem e vamos conseguindo ganhar [novos investimentos] e arrastar isto. Mas isto tem um prazo, tem um limite. Acho que o Estado português gosta mais quando aparece nos jornais que as empresas vão falir e despedir 5.000 pessoas. Nessa altura, pensa que tem de fazer alguma coisa e garantir que não se vão embora. Mas normalmente já foram.
Considera que as grandes empresas são maltratadas pelas autoridades portuguesas?
Não há a postura mais assertiva. É bonito aparecerem [os políticos] quando vamos para eleições, quando foi da Covid-19, aí tudo impecável. Depois desaparecemos. Não estou no mercado de capitais, os resultados operacionais no final do mês chegam lá e, portanto, o IRC e todos os impostos são pagos no momento certo, então está tudo bem. É preciso dar mais atenção às empresas grandes.
Dizem-nos que somos aqui um porta-aviões. É verdade. Se olharmos para os resultados da nossa empresa e compararmos com outras em Portugal, chegamos à conclusão que se calhar alguma atenção devia ser dada às grandes empresas, que apresentam resultados e são importantes para o país. Essas empresas seriam ainda maiores e iriam pagar ainda mais impostos se o Estado tivesse uma perspetiva diferente [da política fiscal].
É frustrante termos alguns governantes a visitarem-nos e a ficarem surpreendidos com a dimensão daquilo que encontram. Nós estamos cá há décadas, demonstramos resultados todos os anos, pagamos os nossos impostos. (…) O Estado acha que as grandes empresas não precisam de nada e safam-se bem sozinhas.
Além da burocracia e dos impostos, a legislação laboral é um tema de preocupação?
A legislação laboral é outro problema que está em cima da mesa, pois torna difícil trabalhar em grandes empresas em que temos variações de mercado a que temos de responder. Até hoje temos conseguido trabalhar, mas tenho algum receio sobre a utilização de mão-de-obra flexível. A lei tem vindo a apertar e a dificultar. É quase preciso fazer um tratado para justificar uma posição [temporária].
Vamos sobrevivendo, mas é algo que estamos a ver crescer. Não sei dizer onde vai parar. Temos vindo a contratar, as coisas vão-se resolvendo, mas começa a ser complicado fazermos alguns projetos. É cada vez mais difícil perceber quem é que nos está a entrar dentro de casa e se são as pessoas corretas para fazer esse trabalho.
Na base da Agenda do Trabalho Digno está o combate à precariedade. É sensível a esse tema?
Certo. Acabei de ir a Lisboa assinar a parte dos engenheiros, para garantir os salários dignos para os jovens quadros que estão a entrar. Não houve discussão. Há décadas que o fazemos e que estamos acima da tabela. É mais a questão dos temporários e o que está a acontecer na gestão destes contratos [que nos preocupa]. Perdemos muito tempo no processo de seleção e se uma pessoa não se adaptar [às funções], ao fim de oito ou nove meses já tenho de lhe estar a dar sinal que ‘não vai ser’.
É uma preocupação que se está a levantar. Não temos problemas com a fiscalização; vemos é a legislação laboral a apertar. Vamos ver o que vai acontecer. Quando olho para a empresa não vejo um stress, ainda não é um problema. Mas já estamos na fase do ‘ainda’.
A legislação laboral torna difícil trabalhar em grandes empresas em que temos variações de mercado a que temos de responder. (…) A lei tem vindo a apertar e a dificultar. É quase preciso fazer um tratado para justificar uma posição [temporária].
A falta de mão-de-obra é uma queixa recorrente no setor industrial. Sentem isso também nesta fábrica?
Claramente estamos em competição com outras empresas, que se têm vindo a estabelecer aqui à volta. Estamos a competir pelos mesmos recursos. Continuo a não ter grande dificuldade em ter pessoas, continuamos a ser atrativos. Não é um problema, mas é outra preocupação. Chegámos a ter 3.000 pessoas em carteira a pedir para entrar para empresa; hoje tenho 300 currículos. A habitação é um problema em todo o lado e o país precisa de mais casas a serem construídas, senão vai haver dificuldade para as pessoas se mexerem de um lado para o outro. Os preços têm vindo a crescer exponencialmente.
Em Famalicão estão a surgir novas ofertas na educação que têm conseguido trazer famílias para aqui. Havia um conjunto de escolas profissionais em falta, que neste momento estão a dar vazão a um conjunto de miúdos que nos aparecem agora com formação, que antes vinham como operadores não especializados. Isso está a dar-nos a oportunidade de recrutar técnicos já diretamente. O futuro desta empresa passa pela automação em muitas áreas e os nossos operadores vão ter de saber gerir autómatos, e não tanto estarem a fazer um conjunto de componentes dentro da fábrica. E temos de nos preparar para isso.
Falou há pouco da questão concorrencial e isso também tem um efeito de pressão sobre os salários, além da resposta à inflação.
A inflação obrigou-nos a fazer algumas coisas com que não estávamos a contar. Fizemos aí umas intervenções quando foi necessário. Neste cenário inflacionista fizemos dois pagamentos de prémios especiais a meio do ano passado, para ajudar. Pontualmente e depois ao nível dos aumentos salariais que fizemos. Não divulgámos [o valor], mas foram substanciais. Cobre tudo [perda do poder de compra]? Não, não cobre 100%. Mas também nos últimos 15 anos estamos muito acima de qualquer posição [face à tabela do setor].
Quer ao nível dos quadros, quer dos operadores, qualquer um está bem acima de qualquer tabela dos contratos coletivos. E depois temos os pacotes de benefícios, que incluem os seguros de saúde, um 15º mês, os prémios de produção.
Mas sentimos a pressão por causa do salário mínimo. As pessoas antes relacionavam o salário delas com o salário mínimo e o diferencial está mais curto, mas é porque o salário mínimo tem estado a subir aos quilos. Estamos a manter-nos afastados, mas proporcionalmente já não é o que era há dez anos. Os salários nacionais vão acabar por subir. Aplaudimos isso, mas no final todos vamos ter de pagar isto de alguma forma.
Acha incorreta a estratégia quando ao ritmo de subida do salário mínimo?
Não vou dizer se é correta ou incorreta. É a estratégia que existe, que respeitamos e vamos descolando. Vamos fazendo o nosso caminho e garantindo que não somos palco para que outros digam: ‘vamos lá buscar [trabalhadores] porque eles estão a pagar mal’. Aqui não. Podem vir cá buscá-los, mas vão ter de pagar o que nós pagamos e aí é que dificultamos a vida aos outros. Vamos perdendo [funcionários], mas em termos de flutuação são 0,7% ou 0,8%. Os que perdemos são sobretudo para fora do país. Internamente só por vezes para as novas tecnológicas, mas não é significativo.
Estão a sentir de alguma forma os efeitos da subida das taxas de juro?
Nada. As taxas de juro não nos afetam. Não peço dinheiro emprestado ao banco. As taxas de juro é mais um problema ao nível pessoal, que depois se transfere cá para dentro, mas é por outras questões.
Dentro de um mês vai ser apresentada a proposta de Orçamento do Estado para 2024. Se fosse ministro da Economia, que medidas é que não podiam falhar?
Sou engenheiro químico, graças a Deus [risos]. Não estou na política, não quero ser político e afasto-me dos políticos. De economia não percebo nada. Diria que devíamos olhar para aquilo que as empresas e as pessoas estão a pagar de impostos em Portugal. Seria mais produtivo fazer alterações nestes impostos todos, que são contraproducentes.
Alguma coisa tem de ser feito a nível dos impostos. Vemos as coisas a crescerem de um lado e o Estado a arrecadar a parte toda do outro. Não estamos a dar capacidade económica às pessoas para fazerem face àquilo que a vida está a custar. Por vezes, o abaixamento dos impostos e a fiscalização correta [são uma melhor opção política].
O que quer dizer com a fiscalização correta?
[Pausa]. A Covid-19 fechou muitas empresas fantasmas, que não existiam. Nunca pagaram impostos e depois reclamavam que não recebiam incentivos. É muito complicado estar a falar destas coisas. Não vejo uma fiscalização efetiva. Fazem-se muitas leis em Portugal, para tudo e mais alguma coisa, mais do que noutros países. Mas depois falta a fiscalização prática, a implementação. Adoro o pragmatismo alemão.
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“Se estivéssemos à espera dos incentivos do Estado para investir, já tínhamos fechado portas”
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