Xpand IT acaba com estágios. “Não acrescentam valor fundamental numa primeira experiência de emprego”

Tecnológica portuguesa resolveu acabar com estágios, substituindo-os por programa de primeiros empregos. Já recebeu 300 candidaturas. Objetivo é, depois, passar os jovens a efetivos, diz ao ECO.

Em menos de um mês, a Xpand IT recebeu mais de 300 candidaturas ao seu novo programa de primeiros empregos. Em vez de estágios, esta tecnológica portuguesa decidiu passar a oferecer contratos de trabalho aos jovens que terminem o ensino superior. É uma porta de entrada “enriquecedora e desafiante” no mercado, argumenta, em entrevista ao ECO, a talent engagment manager Marta Alegria.

Numa altura em que as empresas portuguesas (incluindo as do setor tecnológico) enfrentam uma crescente escassez de profissionais, e em que a atração e a retenção de talento ganhou ainda mais relevância, a Xpand IT — consultora tecnológica nascida há mais de 20 anos — decidiu acabar com os estágios (curriculares e profissionais) por sentir que não estavam a acrescentar o valor esperado.

Ao ECO, Marta Alegria fala numa “decisão ponderada” e revela que passarão agora a ser disponibilizados contratos a prazo de um ano aos jovens que terminem o curso, a par de mentoria e acompanhamento personalizado.

Já o salário dependerá das características do candidato, mas há uma garantia: será superior ao que teria sido oferecido num estágio, assevera a responsável.

Criada em 2003, a Xpand IT tem hoje 350 trabalhadores em Portugal, na Alemanha e na Croácia. Conta com projetos não só em território nacional, mas também além-fronteiras. Em 2022, faturou 23,3 milhões de euros.

Acabaram com o vosso programa de estágios. Porquê?

Terminar com os estágios na Xpand IT foi uma decisão ponderada e necessária. Já há algum tempo que nos temos vindo a aperceber de que os programas de estágio, sejam eles curriculares ou profissionais, não acrescentam o valor que consideramos ser fundamental numa primeira experiência de emprego. Sentimos que, quando os jovens começam efetivamente a aprender e crescer connosco, é quando o programa termina.

O programa não tinha o valor que pretendiam?

A realidade do [programa de estágios] não nos parece benéfica, nem para a empresa nem para os jovens, que acabam por ter uma primeira experiência de trabalho desenquadrada da realidade laboral. Para além disso, acreditamos que há um compromisso de elevada responsabilidade do nosso lado em garantir uma experiência pedagógica e rica, não só do ponto de vista do trabalho realizado, como também da vivência que acontece no seio das equipas, através da qual os recém-formados aprendem a adequar-se ao local de trabalho. Nos últimos anos, com a descentralização e o sistema híbrido, essa experiência de proximidade é mais desafiante e pouco consistente. Por tudo isto, assumimos a nossa posição de terminar completamente com qualquer tipo de estágio na Xpand IT.

Em alternativa, na Xpand IT a “porta de entrada” passa a ser um programa de contratação de jovens à procura do primeiro emprego. Qual o perfil do jovem que procuram?

Exatamente. De forma a colmatar esta necessidade, lançámos agora para o mercado o nosso “Programa primeiro emprego”. O nosso objetivo é que exista um alinhamento das oportunidades de primeiro emprego às ambições dos jovens que terminaram agora o seu curso na área tecnológica ou que têm até um ano de experiência profissional. Acreditamos que o modelo do “Programa primeiro emprego” é adequado à realidade do trabalho em tecnologia, sendo como que um passaporte para que os jovens iniciem a sua carreira em consultoria de software.

Todos os jovens que entrarem através deste programa vão assinar com a Xpand IT um contrato de um ano. O objetivo é que, passado este tempo, esses candidatos passem para os nossos quadros.

Disse que o modelo é adequado à realidade do setor. Que condições oferecem a esses jovens, em termos contratuais? Oferecem um contrato a termo? Qual o prazo?

Todos os jovens que entrarem através deste programa vão assinar com a Xpand IT um contrato de um ano. O objetivo é que, passado este tempo, e se for essa a vontade de ambas as partes, esses candidatos passem para os nossos quadros. Para além do contrato de um ano, garantimos desde o primeiro dia a integração dos candidatos numa das nossas equipas especializadas, em projetos nacionais e internacionais, com mentoria e um acompanhamento personalizado de forma a ajudá-los e orientá-los na conquista dos seus objetivos – especialmente os mais ambiciosos.

E em termos salariais, quais as condições?

Para este programa não existe um salário base fixo associado, pois essa decisão vai depender do curso e nível de escolaridade dos candidatos e também se já têm algum tipo de experiência ou não, visto que podem ter até um ano de experiência profissional.

Mas oferecem um valor superior ao que garantiam no estágio?

As condições salariais serão superiores às de um estágio. Paralelamente, sabemos também que existem condições que valorizamos e que são transversais a todos os nossos colaboradores, como, por exemplo, seguro de saúde, cartão de refeição, computador portátil, welcome kit, horário de trabalho flexível e a integração em equipas dinâmicas e muito colaborativas. O objetivo deste programa é que não exista qualquer tipo de diferenciação com os colaboradores da Xpand IT, pois todos têm acesso aos mesmos benefícios e comodidades.

Assim como nós sentimos que os estágios não cumprem com as nossas expectativas, queremos pensar que para os jovens também assim o é.

Portanto, pós-programa de primeiro emprego, há perspetiva de integração desses jovens nos quadros, isto é, pretende oferecer contratos sem termo?

Sim, o objetivo é que os jovens entrem para os nossos quadros no final do programa. Se o candidato tiver essa vontade e a experiência tiver corrido bem, e existir também um alinhamento de expectativas, o objetivo principal é formar jovens que queiram crescer connosco e partilhar da nossa paixão pela tecnologia.

Este programa vai diferenciar a Xpand IT de outras consultoras na atração e retenção de talento? De que modo?

A Xpand IT sempre teve um foco muito vincado no público jovem. Todos os anos estamos presentes em feiras universitárias, como a SEI, em Braga, e a SINFO, em Lisboa, o que também acontecerá este ano. Acreditamos que os jovens fazem toda a diferença na cultura e crescimento de uma empresa, porque trazem novas visões e aprendizagens para dentro de nossa casa. Assim como nós sentimos que os estágios não cumprem com as nossas expectativas, queremos pensar que para os jovens também assim o é. Saberem que o seu percurso profissional pode começar numa consultora tecnológica com 20 anos no mercado, com projetos nacionais e internacionais reconhecidos e que lhes oferece contrato de trabalho, mentoria, acompanhamento personalizado e integração desde logo em equipas dinâmicas fará certamente diferença na forma como nos percecionam.

Fala-se muito em escassez de talento, no mercado de trabalho português e, particularmente, em setores como o tecnológico. Têm sentido dificuldade na atração e retenção de talento? Este programa foi pensado também para contrariar essa realidade?

Até aos dias de hoje não sentimos dificuldades em atrair talento. Por exemplo, quando estamos presentes em feiras universitárias temos sempre bastantes jovens interessados em conhecer a Xpand IT e que acabam por nos enviar o seu curriculum e manter contacto connosco. A média de idades dos nossos colaboradores ronda os 30 anos, ou seja, conseguimos entender que de facto apostamos e valorizamos muito o talento jovem.

Existem muitas empresas, muitas oportunidades e desafios e, por isso, reter talento, principalmente na área tecnológica, é um desafio.

E quanto à retenção?

Quanto à retenção de talento, sabemos que é uma realidade com a qual as empresas mais se têm deparado. Existem muitas empresas, muitas oportunidades e desafios e, por isso, reter talento, principalmente na área tecnológica, é um desafio. A verdade é que temos vários colaboradores que estão connosco desde o início da Xpand IT e que foram construindo a sua carreira lado a lado com o crescimento da empresa. Este programa foi inteiramente desenhado para os jovens que partilham da nossa expertise e excelência e que tenham o perfil certo para fazer a diferença nos nossos projetos.

Neste momento, quantos trabalhadores têm, no total, em Portugal?

Neste momento, contamos com mais de 350 colaboradores: em Portugal, onde temos escritórios em Lisboa, Braga e Viana do Castelo, na Alemanha e na Croácia. Temos também escritórios no Reino Unido e Suécia.

Quantos têm contratos sem termo?

Não temos nenhum tipo de estágio a acontecer e os nossos contratos são maioritariamente sem termo para as áreas técnicas. Caso contrário, são sempre de um ano com projeção de continuação na empresa se ambas as partes assim o concordarem.

Lançámos este programa na última semana de dezembro de 2023 e já contamos com mais de 300 candidaturas.

Qual é a vossa perspetiva de contratação para este novo programa? Por exemplo, de quantos jovens estão à procura, no âmbito do programa de primeiros empregos?

Contamos ter bastante adesão especialmente após a nossa ida às feiras universitárias, que é onde temos mais contacto com os jovens que estão a tirar cursos ligados à área de tecnologia ou que estão mesmo a terminar e que vão acabar por ter contacto com o nosso programa. A verdade é que lançámos este programa na última semana de dezembro de 2023 e já contamos com mais de 300 candidaturas.

Referiu várias vezes a vossa presença em feiras universitárias. Este programa também parte dessa experiência?

Este programa foi pensado e desenhado tendo em consideração não apenas o feedback dos jovens, sempre que vamos a feiras universitárias, por exemplo, como também pelo próprio feedback que fomos recolhendo junto das nossas equipas. Construímos o “Programa primeiro emprego” com a garantia de que os jovens vão ter acesso a uma experiência transversal do mundo tecnológico e que vão trabalhar com as stacks mais emergentes e com parceiros de renome no mercado tecnológico. É uma porta de entrada no mercado de trabalho completa, enriquecedora e desafiante.

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