Chineses já encaixaram mais de 1,8 mil milhões com dividendos da EDP

A EDP vai distribuir 750 milhões de euros aos acionistas. Para Pequim seguem 165,8 milhões, possibilitando à China Three Gorges recuperar mais de dois terços do investimento efetuado em 2011.

A China Three Gorges (CTG) recebe, a partir desta quarta-feira, mais 165,8 milhões de euros em dividendos da Energias de Portugal (EDP), naquele que será o “cheque” mais avultado desde que os chineses ganharam a última fase de privatização da elétrica portuguesa no final de 2011.

Desde então, a empresa estatal chinesa já encaixou 1.818 milhões de euros com a remuneração aos acionistas da EDP, uma soma que representa mais de dois terços (68%) do investimento que realizou há mais de 11 anos para comprar 21,35% do capital da maior cotada portuguesa.

A CTG pagou 2.693 milhões de euros em novembro de 2011 para assumir o estatuto de maior acionista da EDP. Apesar de ter reduzido a posição no capital ao longo dos últimos anos, sobretudo depois do falhanço da oferta pública de aquisição (OPA), a empresa chinesa participou nos dois últimos aumentos de capital, pelo que detém hoje um maior número de ações.

Controla atualmente 872.818.863 ações, acima das 780.633.782 adquiridas ao Estado português em 2011, pelo que o encaixe com dividendos é agora superior. Em 2012, primeiro ano em que recebeu dividendos da EDP, a CTG encaixou 144,4 milhões de euros, menos 21,4 milhões de euros do que o cheque que segue esta quarta-feira para Pequim. Isto apesar de na altura controlar 21,35% do capital, contra os atuais 20,86%.

Além dos dividendos representarem uma importante remuneração do investimento na EDP, a CTG tem aproveitado a distribuição de lucros da elétrica para comprar ações da cotada portuguesa. Basta ver que os dividendos que vai agora receber representam uma fatia substancial do investimento de 209,5 milhões de euros que a companhia chinesa efetuou no aumento de capital que a EDP concretizou este ano.

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Uma história de altos e baixos

Se os primeiros tempos de presença da CTG no capital da EDP foram marcados pela estabilidade, o mesmo não se pode dizer dos anos mais recentes, em que a posição acionista sofreu alterações constantes, com os altos e baixos a refletirem a estratégia de Pequim para a elétrica nacional.

O primeiro reforço de posição aconteceu em 2017, mais de cinco anos depois do investimento inicial. A CTG adquiriu mais de 70 milhões de ações por 208 milhões de euros, passando nessa altura a controlar 23,3% do capital. Era o prenúncio do que se seguiria no ano seguinte, com os chineses a lançarem uma OPA sobre a EDP em 2018 que iria resultar num fracasso.

Em 2020 efetuou o primeiro desinvestimento na EDP, com a venda de 1,8% do capital por 208 milhões de euros. Foi a primeira redução de participação, que iria culminar no início de 2021 com a venda de mais 100 milhões de ações por 534 milhões de euros.

Pelo meio, a CTG participou no aumento de capital da EDP para financiar o crescimento em Espanha (investimento de 230 milhões de euros) e outra empresa chinesa de capitais públicos saiu do capital da elétrica nacional. A CNIC vendeu perto de 5% do capital no final de 2020, desfazendo-se de uma posição que tinha começado a construir em 2015.

Esta participação acionista rendeu 124,2 milhões de euros em dividendos da EDP, o que somando à remuneração da CTG, eleva o encaixe das empresas de capitais públicos chinesas com dividendos da EDP para perto da fasquia dos 2 mil milhões de euros em pouco mais de dez anos.

A posição da CTG atingiu nessa altura o peso mais reduzido na EDP (em torno de 19%), mas os chineses reforçaram no início de 2022 para reconquistarem o patamar dos 20%. O aumento de capital deste ano e mais compras de ações em bolsa, realizadas entretanto, levaram a que a CTG detenha atualmente o maior número de ações da EDP de sempre.

Valor da posição sobe para 4,3 mil milhões

Além dos dividendos, os chineses também têm beneficiado com o bom desempenho das ações da EDP. Apesar de ter pagado um prémio de 40% para vencer a privatização, não foi preciso esperar muito tempo para ver as ações acima do valor investido.

Desde o final de 2011, as ações da EDP mais do que duplicaram de valor, sendo que os anos mais positivos surgiram durante da OPA da CTG, uma operação onde os chineses saíram derrotados, mas que contribuiu de forma decisiva para valorizar a sua participação na EDP.

Ao transacionar acima dos cinco euros, a EDP não negoceia muito longe dos máximos históricos que atingiu no início de 2021. As 872,8 milhões de ações detidas pela CTG estão atualmente avaliadas em 4.364 milhões de euros.

O valor da posição não é diretamente comparável (a cotação ajustou devido aos dois aumentos de capital e pelo meio houve reforços e reduções de posições impossíveis de quantificar), mas é bem superior ao valor que a CTG pagou em 2011 (2.693 milhões de euros).

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Só 8% dos dividendos ficam em Portugal

A EDP é de longe a cotada portuguesa que distribui mais dividendos aos acionistas. Apesar de o valor por ação ter ficado estável nos últimos anos (18,5 cêntimos até 2016 e 19 cêntimos desde 2017), os aumentos de capital ditaram um aumento do valor total.

Excluindo as ações próprias, a EDP vai entregar esta quarta-feira um total de 750 milhões de euros aos seus acionistas, acima dos 695 milhões de euros antes de 2020. Além dos 165,8 milhões de euros que vão para Pequim, a esmagadora maioria deste dinheiro irá para fora do país.

De acordo com o relatório e contas da EDP, apenas 8% do capital da elétrica é detida por acionistas portugueses, pelo que no país ficarão apenas 60 milhões de euros. Estes dados mostram que no capital da EDP restam muito poucos dos investidores que participaram nas históricas fases de privatização da elétrica e que marcaram o início do capitalismo popular em Portugal. Atualmente, apenas 5% do capital da EDP é detido por acionistas particulares.

A soma é idêntica à que vai ser recebida por acionistas de nacionalidade espanhola. A Opiddum, detida pelo banco espanhol Liberbank e pelo empresário Fernando Masaveu Herrero, é um acionista de longa data da EDP, sendo que este ano vai receber mais 54 milhões de euros em dividendos. Um montante semelhante ao que vai ser encaixado pelo BlackRock, outro dos acionistas mais antigos da elétrica.

O fundo de pensões do Canadá, com 5,6% do capital, fecha o lote de acionistas com participações qualificadas na EDP, empresa que tem uma base de acionistas cada vez mais diversificada e constituída por investidores institucionais. Excluindo Portugal e Espanha, os acionistas de países da União Europeia e Reino Unido encaixam um terço dos dividendos.

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Apesar de estável nos últimos anos, a EDP tem uma política de remuneração aos acionistas considerada atrativa, com uma rendibilidade anual (dividend yield) em torno de 4%. A empresa tem o compromisso de pagar um dividendo mínimo de 19 cêntimos, sendo que a fasquia subirá para 20 cêntimos em 2026.

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