O ano que passou foi positivo para os fundos nacionais, com 87% dos gestores a superarem a inflação. Mas ainda são poucos (menos de um terço) aqueles que conseguem bater o seu índice de referência.
O ano que terminou há poucos dias foi amplamente positivo para as ações, mas não tanto para as obrigações. Enquanto as ações fecharam 2024 com ganhos de quase 27%, segundo o desempenho do índice MSCI World em euros, as obrigações terminaram 2024 com uma rendibilidade média negativa de quase 2%, de acordo com o desempenho do índice Bloomberg Global Aggregate Bond.
Para os fundos de investimento domiciliados em Portugal, apesar da grande maioria ter nos seus portefólios títulos de dívida, os seus gestores foram capazes de contornar a queda das obrigações em 2024 e potenciar nas suas carteiras a exposição a ações e outros ativos que brilharam no ano passado.
É por essa razão que entre os quase 300 fundos nacionais abertos disponíveis aos investidores, apenas 5,7% fecharam 2024 com perdas (na sua maioria fundos imobiliários ou ligados ao setor imobiliário) e com 87% dos fundos nacionais a alcançarem ganhos reais, fechando o ano com uma rendibilidade acima dos 2,4% da taxa de inflação média registada no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Das quase três centenas de fundos abertos domiciliados em Portugal analisados pelo ECO, menos de um terço dos fundos conseguiu bater o seu índice de referência (benchmark) em 2024.
É também importante notar que a performance de ações e obrigações no ano passado vem no seguimento de um ano de 2023 altamente positivo para os dois ativos, e após um 2022 de perdas recorde. Isso faz com que, por exemplo, o fundo Santander Ações América, que investe exclusivamente em ações de empresas dos EUA, apesar de ter voltado a ser o fundo nacional mais rentável do ano com uma valorização de 38% (na classe “C” do fundo), apresente uma rendibilidade anualizada nos últimos três anos até 2024 negativa de 4,5%.
O bom desempenho dos mercados norte-americanos em 2024, que fica espelhado por uma valorização de 23% do índice S&P 500, mas sobretudo pela escalada de quase 30% do tecnológico Nasdaq-100, catapultou naturalmente os fundos nacionais que apostam por terras do Tio Sam para o topo da tabela dos fundos mais rentáveis do ano. Todavia, não é por menos relevante observar que entre os 14 fundos nacionais de ações dos EUA, apenas as três classes do Santander Ações América apresentaram um desempenho acima do seu índice de referência (benchmark).
Entre os fundos de ações, destaque também para o Save & Grow PPR, um plano poupança-reforma (PPR) sob a forma de fundo de investimento gerido pela equipa de Emília Vieira da Casa de Investimentos, que pelo segundo ano consecutivo é o fundo nacional de ações mundiais e o fundo PPR mais rentável do mercado com um desempenho de 23,4% na classe “Founders” e de 23,1% na classe “Prime”.
“O que consideramos que foi determinante em 2024, mas sobretudo o que achamos que é determinante no investimento a longo prazo, é adotar a filosofia de investimento em empresas de qualidade excecional, acompanhar o desempenho e ignorar o ruído de mercado”, refere Emília Vieira ao ECO, notando que a Nvidia voltou a ser o título que mais contribuiu para o desempenho do fundo em 2024, acumulado na carteira do Save & Grow PPR ganhos de 1.230% entre março de 2021, quando compraram as primeiras ações, e dezembro de 2024. Atualmente, a tecnológica pesa cerca de 6% da carteira, apenas superada pela posição e 7,6% da Alphabet.
“Apesar de hoje parecer uma ‘história fácil’, não é de todo o caso. Comprámos depois de um recuo de quase 30% e a Nvidia subiu 203% até ao máximo de 2022. Depois caiu cerca de 60%. Desde esse mínimo, subiu 1.024% até 31 de dezembro de 2024”, revela Emília Vieira, sublinhando que durante estes quase quatro anos houve muitas notícias e opiniões diferentes. “O que fizemos foi manter-nos focados nos resultados que a Nvídia estava a gerar, na força das suas vantagens competitivas e capacidade de produzir resultados, aumentar margens e gerar valor para os acionistas.”
O grande desafio de bater o mercado
A dificuldade da gestão ativa em bater o mercado não se resume aos fundos de ações norte-americanas, apesar de ser das categorias onde isso é mais visível. É transversal a praticamente todas as classes de ativos e estratégias de investimento.
Das quase três centenas de fundos abertos domiciliados em Portugal analisados pelo ECO, menos de um terço conseguiu bater o seu benchmark em 2024, segundo dados da Refinitiv. Em 2023, a taxa de sucesso da gestão de ativos foi ainda mais baixa, com menos de um quarto (cerca de 23%) dos gestores a mostrar-se capaz de alcançar uma rendibilidade superior ao desempenho do seu benchmark.
Apesar desta realidade, há algumas exceções no universo dos fundos nacionais, particularmente na categoria dos fundos de ações portuguesas com quase todos os gestores a serem capazes de oferecer aos seus subscritores ganhos acima dos 3,9% alcançados pelo PSI em 2024, quando contabilizados os dividendos distribuídos pelas empresas. É disso exemplo o Sixty Degrees Ações Portugal, que no ano passado alcançou uma rendibilidade de 9,1% na classe “T”, que o tornam no fundo de ações portuguesas mais rentável do ano.
“A decisão que mais contribuiu para o desempenho do fundo, em 2024, foi o underweight ao grupo EDP (EDP Renováveis e EDP)”, refere Virgílio Garcia, gestor do Sixty Degrees Ações Portugal, ao ECO, sublinhando que, “no início de 2024 eram as empresas que, de acordo com a nossa avaliação fundamental, estavam relativamente mais sobrevalorizadas.” No final do ano passado, ambas as empresas estavam fora do TOP 10 do fundo, com a EDP a ter uma posição de 2,5% da carteira e a EDP Renováveis apenas 1,6%, quando no PSI a família EDP tem um peso de 18,5%.
Porém, nas contas dos subscritores deste fundo de 12,9 milhões de euros, este ganho é muito diluído pela comissão de 5% de subscrição, algo não muito comum entre a generalidade dos fundos de investimento como sucede, por exemplo, com os seus concorrentes GNB Portugal Ações e BPI Portugal, que fecharam 2024 com uma rendibilidade líquida de 7,4% e 5,3%, respetivamente.
Com as ações a brilharem praticamente por todo o mundo novamente em 2024, é natural que também tenham sido os fundos de ações os mais rentáveis do ano. No entanto, no universo das obrigações houve também fundos a brilharem bem alto. Foi o caso do BPI Obrigações de Alto Rendimento Alto Risco que fechou o ano com ganhos de 8,2%, tornando-se no fundo de obrigações mais rentável de 2024 – depois de ter alcançado o mesmo galardão em 2023 com ganhos de 12,5%.
Este fundo de dívida internacional de emitentes empresariais maioritariamente de rating creditício “B” é gerido por Duarte Rodrigues desde 2018 e durante o último ano beneficiou particularmente do abrandamento da inflação e da mudança da política monetária dos principais bancos centrais, cimentada na segunda metade do ano com os cortes das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) e da Reserva Federal norte-americana (Fed).
A maioria dos fundos de investimento imobiliários (59%) revelou-se incapaz de apresentar um desempenho acima das yields oferecida pelos vários segmentos do mercado comercial.
No final do ano, a carteira do BPI Obrigações de Alto Rendimento Alto Risco, que em 2024 celebrou 25 anos de existência, estava maioritariamente concentrada em obrigações com maturidades entre os três e os dez anos de empresas francesas e espanholas.
Outro segmento que também fechou 2024 com ganhos foi o mercado imobiliário, que voltou a registar um crescimento dos preços e das rendas, tanto no mercado residencial como no mercado comercial, onde os fundos de investimento imobiliário investem maioritariamente as poupanças dos seus subscritores.
Segundo dados da consultora Cushman & Wakefield, as yields prime mantiveram-se no ano passado nos 5% em escritórios e nos 5,75% em logística, e contraíram 25 pontos base no comércio de rua (para 4,5%) e em centros comerciais (para 6,25%).
Porém, a maioria dos fundos de investimento imobiliários (59%) revelou-se incapaz de apresentar um desempenho acima das yields oferecida pelos vários segmentos do mercado comercial. Considerando apenas os 24 fundos imobiliários abertos domiciliados em Portugal disponíveis aos pequenos investidores, a rendibilidade mediana destes produtos ficou-se pelos 4,25%.
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Os fundos nacionais que mais deram a ganhar aos investidores em 2024
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