“Super 7” e “5 fabulosas”. As cotadas eleitas pelos analistas na Europa

Com as "Sete Magníficas" dos EUA em evidência, os analistas estão a olhar para a Europa. Depois das GRANOLAS do Goldman, o Citi recomenda as "Super 7" e o Deutsche Bank propõe as "Cinco Fabulosas".

As ações europeias superaram recentemente o pico do início de 2022 e estão a negociar em máximos históricos, mas a evolução positiva esconde um desempenho bem inferior às pares norte-americanas. A tendência tem sido crónica nos últimos 20 anos, período em que nos Estados Unidos emergiram uma série de gigantes tecnológicas que apresentam atualmente um valor incomparável com as maiores cotadas europeias.

Apanhar a capitalização bolsista das cotadas norte-americanas parece uma tarefa hercúlea, para não dizer impossível no futuro mais próximo. Mas copiar o desempenho bolsista das grandes tecnológicas norte-americanas é algo que está mais ao alcance das grandes cotadas europeias, o que pode ajudar a fechar o fosso cavado nos últimos anos entre as bolsas do velho continente e Wall Street.

Alphabet, Amazon, Apple, Meta Platforms, Microsoft, Nvidia e Tesla são conhecidas pelas “Sete Magníficas” devido aos desempenhos exuberantes que alcançaram desde o início de 2023, à boleia da euforia com a Inteligência Artificial e também uma evolução muito positiva dos resultados. Estas sete cotadas concentraram os ganhos em Wall Street como não se via (pelo menos) há 40 anos.

E na Europa, haverá um grupo de empresas campeãs que possa rivalizar com as “Sete Magnificas”, alcançando mesmo ganhos superiores? Se há analistas que continuam a preferir as ações norte-americanas, também são cada vez mais os que defendem a atratividade relativa das ações europeias.

Logo no início da pandemia, o Goldman Sachs destacou um grupo de 11 cotadas que cunhou de GRANOLAS após juntar as primeiras letras do nome de cada uma: GlaxoSmithKline (GSK), Roche, ASML, Nestlé, Novartis, Novo Nordisk, L’Oreal, LVMH, Astrazeneca, SAP e Sanofi. O banco norte-americano voltou recentemente a recomendar estas empresas, destacando o desempenho a médio prazo superior às Sete Magníficas, a fraca dependência da débil economia europeia, avaliações mais atrativas e a evolução estável dos resultados.

As nossas ‘Super 7’ europeias estão mais baratas do que as ‘Sete Magníficas’, oferecem margens igualmente atrativas e registam um desempenho 70% inferior desde o início de 2023, o que deixa espaço para ‘catch-up’. No curto prazo, consideramos que há espaço para recuperação nas ‘Super 7’ europeias, uma vez que em 2023 o mercado não se estreitou na Europa como aconteceu nos Estados Unidos.

Beata Manthey, Head of European Equity Strategy

Citi recomenda as “Super 7”

O Goldman Sachs foi pouco original a selecionar as GRANOLAS. Limitou-se a escolher as 11 cotadas europeias que, nos primeiros meses de 2020, apresentavam a capitalização bolsista mais elevada. Num estudo publicado no final de fevereiro, o Citigroup optou por uma abordagem diferente, tendo chegado a um grupo distinto de sete cotadas europeias que considera terem os argumentos para um desempenho superior em bolsa e ao nível do que está a ser registado pelas “Sete Magníficas”.

Novo Nordisk, ASML, LVMH, SAP, Schneider, Richemont e Ferrari são as cotadas eleitas, num grupo que o Citigroup cunhou de “Super 7” e considera ter características paralelas com as “Sete Magníficas”. O banco escolheu companhias de capitalização elevada, com margens altas, crescimento sólido dos lucros por ação e uma atividade dominante e por isso com grande capacidade de proteger margens, quotas de mercado e outras ameaças.

As “Super 7” representam cerca de 14% da capitalização bolsista do índice MSCI Europe, contribuindo para cerca de 6% dos lucros. Enquanto o grupo das cotadas norte-americanas representam apenas um setor de um país, as “Super 7” têm três companhias de bens de luxo, duas tecnológicas, uma de engenharia elétrica e uma farmacêutica. Todas são multinacionais e com forte presença internacional, sendo oriundas da França (duas), Dinamarca, Países Baixos, Itália, Alemanha e Suíça.

As nossas ‘Super 7’ europeias estão mais baratas do que as ‘Sete Magníficas’, oferecem margens igualmente atrativas e registam um desempenho 70% inferior desde o início de 2023, o que deixa espaço para catch-up”, ou seja, alcançar ganhos idênticos aos registados pelas grandes tecnológicas norte-americanas, refere o research do Citigroup, a que o ECO teve acesso.

A Head of European Equity Strategy do Citi Research assinala, em declarações por escrito ao ECO, que “no curto prazo, consideramos que há espaço para recuperação nas ‘Super 7’ europeias, uma vez que em 2023 o mercado não se estreitou na Europa como aconteceu nos Estados Unidos”.

Beata Manthey destaca que o “mercado acionista europeu é muito mais cíclico do que o norte-americano”, com o índice europeu a ter apenas 15% da sua capitalização no ‘cluster’ das empresas de crescimento, bem abaixo dos 50% registados nos EUA, tornando “mais desafiante para a Europa alcançar um desempenho superior aos EUA quando os mercados concentram os ganhos num número mais escasso de empresas”. A líder da unidade de research do Citi na Europa salienta que “é mais fácil quando a valorização dos mercados é generalizada, como pensamos que será o caso no médio prazo”.

As “Super 7” representaram cerca de 20% dos ganhos alcançados pelas bolsas europeias em 2023, mas no acumulado deste ano o peso dispara para 65%. Se este nível de concentração persistir, este grupo de cotadas de maior dimensão tem caminho aberto para marcar ganhos superiores, tal como aconteceu no mercado norte-americano. Se os ganhos forem mais generalizados, como se verificou no quarto trimestre de 2023, as “Super 7” também estão bem posicionadas para retornos atrativos.

O Citigroup destaca assim a vantagem de apostar nas “Super 7”. Num mercado em que persista um elevado nível de concentração, estes “pesos pesados” devem beneficiar pelo facto de apresentarem “características fundamentais similares” às “Sete Magníficas” e terem registado retornos mais baixos em 2023.

Num ambiente de mercado de ganhos generalizados, em que o Citigroup aposta numa perspetiva de médio prazo, as ações europeias têm condições para um desempenho superior às pares norte-americanas. “Se persistir a concentração de ganhos num número reduzido de empresas, o mercado europeu pode seguir uma trajetória similar à ocorrida nos Estados Unidos, com a aposta preferencial em cotadas de elevada capitalização bolsista”, refere o Citigroup.

Enquanto as ‘Sete Magníficas’ vencem com um forte desempenho histórico no crescimento de resultados e evolução em bolsa, as ‘Cinco Fabulosas’ conseguem convencer com um melhor perfil de risco.

Analistas do Deutsche Bank

Deutsche Bank sugere as “Cinco Fabulosas”

Confirmando que está na moda dar um nome a grupos de empresas preferidas, o Deutsche Bank encontrou um conjunto diferente de cotadas europeias atrativas. Num research publicado a 12 de março, o banco de investimento alemão “apresenta” as “Cinco Fabulosas”. Tal como o Goldman Sachs, o Deutsche Bank selecionou as cinco companhias com maior valor de mercado: Novo Nordisk, LVMH, ASML, Nestlé e L’Oreal, comparando-as com as cotadas em destaque em Wall Street.

“Os dois grupos têm forças e fraquezas. Enquanto as ‘Sete Magníficas’ vencem com um forte desempenho histórico no crescimento de resultados e evolução em bolsa, as ‘Cinco Fabulosas’ conseguem convencer com um melhor perfil de risco”, referem os analistas do Deutsche Bank, assinalando que este grupo “possibilita o acesso a empresas europeias líderes globais nas suas indústrias”.

Na comparação entre os dois grupos, o Deutsche Bank conclui que as “Sete Magníficas” vencem no desempenho em bolsa, crescimento dos resultados e competências específicas. As “Cinco Fabulosas” ganham na “versatilidade” e “risco”, enquanto nas avaliações e dimensão existe um empate. “As ‘Sete Magníficas’ são muito maiores. A Nvidia sozinha supera a capitalização conjunta das ‘Cinco Fabulosas’. Mas os dois grupos oferecem uma liquidez e dimensão suficientes para a maioria dos investidores”, explicam.

O grupo de cotadas dos EUA valoriza 2.259% desde o início de 2014 (228% para o S&P500), enquanto as maiores empresas europeias valorizam 638% no mesmo período (Stoxx600 ganha 108%). As “Sete Magníficas” apresentam um crescimento próximo de 400% nos lucros agregados dos últimos 10 anos, mais do dobro do registado pelas “Cinco Fabulosas”, mas no período a cinco anos a diferença é mais ténue.


Na frente das avaliações, os dois grupos transacionam em bolsa com uma cotação que corresponde a pouco mais de 30 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses. O Deutsche Bank destaca que a maior parte das cotadas das duas regiões negoceiam com múltiplos inferiores à média dos últimos 10 anos, sugerindo por isso que estão mais baratas em termos históricos.

Perspetivas positivas para as bolsas

Sendo a dimensão um fator crucial para Goldman, Citi e Deutsche Bank selecionarem as cotadas europeias em destaque, não admira que várias companhias façam o pleno nas três listas. Novo Nordisk, LVMH e ASML são escolhas unânimes, tendo a particularidade de representarem três setores bem distintos: saúde, luxo e tecnologia.

Apesar de os índices acionistas estarem a negociar em máximos, o Citigroup mantém uma perspetiva positiva para as bolsas, com destaque para as ações europeias. “As empresas de crescimento europeias transacionam com desconto de 30% face às pares norte-americanas, o que abre margem para uma recuperação”, defende a unidade de research do banco, salientado que nos últimos 10 anos este desconto médio foi de 15%.

O Citi perspetiva uma liderança do mercado europeu no aumento generalizado dos lucros das empresas, beneficiando com o “melhor equilíbrio entre riscos macroeconómicos e dinâmicas de início de ciclo” que está a ser sinalizado pelos indicadores avançados e deverá acelerar com o corte das taxas de juro.

Para os investidores preocupados com o nível elevado das avaliações a que transacionam as ações, o Citigroup reconhece que “parecem caras, sobretudo nos Estados Unidos”. Tendo em conta as perspetivas de lucros para os próximos 12 meses, as “Sete Magníficas” transacionam com um prémio de 65% face às companhias que integram o índice S&P500 e 20% face às europeias “Super 7”.

Contudo, o Citigroup salienta que estas avaliações são “potencialmente justificáveis” tendo em conta as perspetivas de forte crescimento dos resultados. Os lucros por ação das “Sete Magníficas” devem aumentar 25%, o que compara com 12% no S&P500. Já os resultados líquidos das Super 7 devem crescer 15%, também mais do dobro do previsto para o índice Stoxx600 (7%).

Em termos globais, o Citigroup prevê um aumento de 9% nos lucros, com o ambiente de mercado a favorecer a aposta em mercados cíclicos. “As regiões fora dos Estados Unidos devem tirar maior partido deste tema, reforçando a nossa decisão de atribuir uma recomendação de overweight” (sobreponderar) as ações da Europa Continental num “contexto global”.

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Wall Street ofusca ganhos das bolsas europeias

A supremacia das bolsas norte-americanas face às europeias tem sido evidente nos últimos 20 anos, sobretudo nos momentos de alta dos mercados acionistas globais. Depois de ganhos muito expressivos em 2023, os índices de Wall Street voltam a registar valorizações superiores este ano. Nos últimos nove anos, apenas em 2022 o Stoxx600 apresentou um desempenho mais favorável do que o S&P500, sendo que nesse ano os dois índices marcaram perdas de dois dígitos.

Alargando aos últimos 20 anos, o Stoxx600 levou a melhor face ao S&P500 em apenas seis anos. Desde o final de 2004, o índice europeu duplicou de valor, enquanto a cotação do índice norte-americano aumentou mais de quatro vezes.

A ascensão das grandes tecnológicas deram um contributo decisivo para que esta diferença se tivesse alargado nas últimas duas décadas. A Microsoft é atualmente a cotada mais valiosa do mundo, com um valor de mercado acima de 3 biliões de dólares, que é superior à capitalização bolsista de todas as companhias cotadas na bolsa alemã.

É também superior ao valor conjunto das “Super 7”, uma diferença que o Citigroup vê margem para estreitar nos próximos tempos, por considerar que estas cotadas têm atributos e características que as podem colocar no encalce dos ganhos magníficos registados em Wall Street.

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