Editorial

Uma geringonça em Lisboa e o alojamento local

Os vereadores do PS/Livre forçaram a suspensão do alojamento local em Lisboa. Criaram uma renda para investidores e grupos hoteleiros e parecem querer reeditar o princípio de 'perder é ganhar'.

A esquerda na Câmara de Lisboa transformou-se no melhor aliado dos investidores que têm alojamento local e nos grupos de hotelaria. Não acredita? Acredite. A Câmara de Lisboa aprovou esta quarta-feira uma proposta dos vereadores eleitos pela coligação PS/Livre para a “suspensão imediata” de novos registos de alojamento local na capital até à entrada em vigor da alteração ao regulamento municipal desta atividade. Contra a vontade do presidente da Câmara, Carlos Moedas, que já classificou a decisão de um erro. Poderia acrescentar um erro histórico.

Primeiro, a ironia que, provavelmente, os vereadores de esquerda não atingirão. Sempre com o discurso fácil das rendas e do capital, são, com esta decisão, os melhores amigos de quem investiu na última década no alojamento local em Lisboa, e também dos grupos empresariais hoteleiros. Estão a criar rendas ao investimento, rendas garantidas, a diminuir a concorrência e a tornar ainda mais caro ‘entrar’ nos locais mais procurados de Lisboa. É, diria, uma ironia que revela sobretudo ignorância.

Depois, é uma decisão que também prejudica quem está mais vulnerável nesta crise. “A suspensão imediata de novos registos de alojamento local que hoje [esta quarta-feira] os partidos de esquerda e a vereadora independente aprovaram revela um sinal muito negativo para o turismo, para a economia local e, acima de tudo, para milhares de famílias que veem aqui um entrave aos seus rendimentos”, afirmou Carlos Moedas. Não seria necessário dizer mais nada, está tudo dito.

A especialização da economia portuguesa é a que é. A recuperação da economia portuguesa não se fará sem turistas, e sem oferta turística, sobretudo a mais cara, que traz turistas com capacidade de compra. A suspensão dos novos registos de alojamento local é particularmente gravosa para as zonas de Lisboa que cresciam no período pré-pandemia com estes investimentos. E é também para quem olhava para o alojamento local como um pequeno negócio que lhe traria mais rendimento, como no passado investiria numa loja de bairro.

Portugal precisa de menos Estado e de melhor Estado, os portugueses precisam de autonomia e de liberdade de decisão, valores que foram comprimidos nos dois últimos anos por causa da pandemia e, por vezes, para lá da legalidade. Esta decisão faz temer o pior, uma cada vez maior intrusão nas decisões individuais, uma limitação à liberdade de investimento e de rendimento, e um país que é cada vez mais apenas para ricos.

Nota final: Carlos Moedas ganhou há poucas semanas as eleições para a Câmara de Lisboa, mas parece que o PS quer repetir o modelo de geringonça de 2015. Perde, mas ganha. É um sinal para as legislativas?

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