A longa marcha para o BRITIN

As sondagens mostram que 60% dos inquiridos consideram que o Brexit foi um erro. Este número vai aumentar e, com ele, a pressão interna para que o Reino Unido se volte a juntar-se à UE.

O líder trabalhista inglês, Keir Starmer, prometeu reescrever profundamente o acordo de BREXIT, caso o seu partido ganhe as próximas eleições gerais em 2025. Deve-o, afirma, aos filhos de 12 e 15 anos para que possam ter um futuro que não é pior do que poderia ter sido. Não é ainda claro qual a revisão dos acordos que defende, e todos sabemos que as afirmações dos políticos devem ser descontadas. No entanto, o ter colocado este ponto na agenda é suficiente para, se eu pudesse votar, garantir o meu voto.

Trabalhava em Londres nesse já longínquo junho de 2016 em que o referendo se realizou. No mundo rarefeito da Londres cosmopolita em que circulava, era quase impensável outra escolha que não “remain”. Ainda assim, escolhi passar o dia 23 em Edimburgo para garantir que acordaria, seguramente, na UE.

A campanha mentirosa dos brexiters, liderada por Boris Johnson e Mike Grove, deram razão à desconfiança com que historicamente o liberalismo encara o poder da populaça manipulada por demagogos sem escrúpulos, (e os consequentes esforços liberais para blindar as democracias do excessivo poder das maiorias). Este referendo foi, para mim, o exemplo paradigmático da razão pela qual os liberais se devem opor a referendos: nada do que é verdadeiramente importante se deve decidir de forma primitivamente binária, sem quaisquer nuances e por maiorias de circunstância. Acresce que, neste caso, a via referendária a uma grande injustiça entre gerações: Qual a justiça de o voto de uma eleitora de 65 anos – a quem a pertença à EU poupou de viver num país em declínio – privar um jovem de15 de ter a mesma oportunidade?

Para a UE, a saída do RU foi um mal: tornou-a menos musculada, menos atlântica e menos liberal. Para o RU tem significado anos de estagnação e declínio. Inicialmente, muitos analistas atribuíram o mau desempenho à covid-19 ou ao ajustamento a novas regras de comércio. Algo passageiro, portanto. Embora ainda seja cedo para analisar as consequências de longo prazo, a amostra não sugere algo com a vida curta. Algumas estimativas apontam para uma redução do PIB de 6% e do investimento em 11%, por comparação com o contratual de permanência na EU. O custo de vida, sobretudo nos alimentares, também tem subido mais do que subiria na alternativa. Finalmente, talvez o mais importante no longo prazo (e certamente o mais marcante para quem viveu em Londres pré-Brexit), a redução significativa do peso da imigração europeia.

Não admira que as últimas sondagens mostrem que 60% dos inquiridos considerem que o Brexit foi um erro. Estou convencido que este número não irá senão aumentar e, com ele, a pressão interna para que, de alguma forma, o Reino Unido volte a juntar-set à União Europeia. A Europa deve, então, ser generosa.

Apontamentos

  1. Cada macaco no seu galho. A taxa diretora do BCE aumentou de novo e, com ela, o pesadelo de muitas famílias. Lagarde insinua que os governos devem abster-se de usar os orçamentos para amortecer o choque. Entendo o ponto de vista, mas a recomendação extravasa o seu mandato. Do mesmo modo, os governos extravasam os seus mandatos quanto tentam condicionar a política monetária. A solução é a via orçamental. A consolidação não é um fim em si; destina-se a garantir poder de fogo para quando as circunstâncias o exijam. Este é um destes casos.
  2. No país dos soviets. Se a lei for cumprida as rendas de casa terão aumentos próximos dos 7%. O governo prepara-se para colocar um teto aos aumentos, como fez este ano. É inquestionável que muitos inquilinos (mas não todos indiscriminadamente) carecem de proteção. Mas não é razoável que essa proteção seja a expensas dos senhorios que também sofrem os efeitos da inflação elevada. Uma solução melhor seria recorrer à via orçamental através de, por exemplo, da dedução à coleta das rendas pagas por contribuintes até certo escalão de rendimento.

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