A reinvenção da palete: como a tecnologia transforma a cadeia de abastecimento

  • Mike Bowie
  • 11:21

A palete está agora a ser reinventada e vista como um ativo inteligente, que pode ajudar a enfrentar alguns dos desafios mais urgentes na logística atual, como o desperdício, perdas e ineficiência.

Muito se tem falado sobre a transformação da cadeia de abastecimento pela IoT (internet of things, ou internet das coisas), frequentemente através de dispositivos de alta tecnologia ou sistemas automatizados. Mas um dos desenvolvimentos mais interessantes nos últimos anos é a aplicação da IoT a algo muito mais modesto: a palete.

Muitas vezes negligenciada como uma simples ferramenta logística, a palete está agora a ser reinventada e vista como um ativo inteligente – capaz de gerar dados valiosos ao longo de toda a cadeia de abastecimento: onde estão, como se movem, a que condições estão expostas. E quando se multiplica essa visibilidade por milhões de ativos, desbloqueia-se uma camada de inteligência totalmente nova, que pode ajudar a enfrentar alguns dos desafios mais urgentes na logística atual, como o desperdício, perdas, ineficiência e falta de transparência.

No complexo e acelerado panorama da cadeia de abastecimento atual, a visibilidade, a agilidade e a sustentabilidade são mais essenciais do que nunca. As empresas estão sob crescente pressão para satisfazer as crescentes expectativas dos clientes, reduzindo o desperdício, gerindo a volatilidade e mantendo-se competitivas. A inovação digital – particularmente através da IoT – está a desempenhar um papel fundamental para permitir essa mudança.

Mas é importante começar com uma verdade simples: a tecnologia por si só não impulsiona a mudança. São os resultados que esta permite que importam. O verdadeiro poder dos ativos inteligentes, como as paletes habilitadas para IoT, não está nos próprios dispositivos – está na perspicácia que desbloqueiam e nas ações que informam. Um único sensor pode dizer-nos onde está um ativo. Uma rede de paletes inteligentes pode descobrir padrões, prever interrupções e permitir decisões mais estratégicas.

Do dispositivo aos dados e à tomada de decisões

Nos dias de hoje, muitas empresas ainda usam a tecnologia de rastreamento principalmente para se protegerem contra responsabilidades caso algo corra mal. Mas a oportunidade é muito maior: usar esses dados para enfrentar os seus maiores desafios estratégicos – qualidade, custo, eficiência e sustentabilidade. Por exemplo, uma melhor visibilidade pode ajudar a garantir que os produtos sensíveis à temperatura sejam manuseados corretamente. Os dados em tempo real permitem a manutenção preditiva e uma tomada de decisões mais rápida e confiante. Isso, por sua vez, pode melhorar os níveis de serviço, reduzir o capital circulante e evitar interrupções dispendiosas. É aqui que a IoT deixa de ser uma conversa sobre tecnologia e começa a ser uma conversa de negócios.

As paletes inteligentes já estão a ser utilizadas por algumas empresas – seja para diagnósticos direcionados, onde os sensores são aplicados a uma amostra de paletes para investigar problemas conhecidos – como perdas ou atrasos num canal específico; seja para diagnósticos contínuos, analisando a rede regularmente para descobrir ineficiências ocultas ou padrões de movimento incomuns que, de outra forma, passariam despercebidos.

Através de identificadores, torna-se possível rastrear o ciclo de vida de ativos individuais e obter uma compreensão mais profunda de como as mercadorias fluem pelo sistema. Essas ferramentas, combinadas com análises avançadas e aprendizagem automática, estão a ajudar produtores, distribuidores e equipas de logística, a antecipar problemas, melhorar a recuperação de ativos e reduzir perdas – o que, em última análise, reduz o custo de serviço.

Para dar uma ideia da escala: essas paletes inteligentes já estão a gerar mais de mil milhões de pontos de dados a cada ano, disponibilizando informações que são usadas para melhorar tudo, desde a gestão de inventário até à experiência do cliente.

Aumentar o valor dos dados através da colaboração

Esta visibilidade torna-se ainda mais poderosa quando é partilhada. Ao colaborar com parceiros em toda a cadeia de abastecimento, as empresas podem aceder a um cenário mais rico e completo do que está a acontecer – onde ocorrem atrasos, onde o desperdício é gerado, onde os quilómetros vazios podem ser eliminados, entre outros.

As informações partilhadas podem impulsionar a ação conjunta, um maior alinhamento e – talvez o mais importante – benefícios ambientais tangíveis. Por exemplo, a ONU estima que mais de 13% de todos os alimentos são perdidos entre a colheita e a venda a retalho – um número impressionante. Muitas dessas perdas podem ser evitadas com melhor visibilidade e intervenções mais rápidas. As paletes habilitadas para IoT ajudam a reduzir o desperdício, identificando pontos fracos na cadeia de abastecimento, destacando ineficiências e otimizando fluxos.

Os contentores chegaram a tempo de transferir produtos frescos para o transporte? Os frutos estão a ser esmagados ao circularem em autoestradas ou por vias secundárias? As temperatura elevadas estão a dificultar que os veículos se mantenham suficientemente frescos em viagens longas? As paletes inteligentes permitem que as empresas reduzam as emissões de carbono, encurtando os quilómetros de transporte desnecessários, minimizando o tempo de inatividade e melhorando o planeamento de rotas. Em suma, ajudam a criar cadeias de abastecimento mais eficientes e sustentáveis.

Estamos a dar os primeiros passos para compreender como a palete inteligente pode impulsionar uma evolução importante na cadeia de abastecimento. Ela não representa o fim da linha, mas sim o ponto de partida para um sistema mais inteligente, colaborativo e consolidado.

A tendência é que a cadeia de abastecimento seja impulsionada por um fluxo constante de dados, permitindo que as empresas tomem decisões informadas, baseadas em inteligência em tempo real, em vez de intuição ou precedentes. Nesse cenário, os ativos inteligentes serão essenciais.

A IoT não é o futuro da cadeia de abastecimento – é o presente. O desafio agora é passar de aplicações isoladas para sistemas de grande escala que gerem valor partilhado, o que significa construir as capacidades certas, alinhar-se em torno de padrões comuns e promover uma cultura de colaboração orientada por dados. A palete inteligente personifica essa transição: um elemento simples e familiar, agora reinventado com inteligência para impulsionar a cadeia de abastecimento do presente.

  • Mike Bowie
  • Digital Lead, CHEP Europe

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