“O mal de Portugal é a falta de ambição”. Isto não é um diagnóstico, é uma descrição. Procuremos a origem dessa aparente falta de ambição nas estruturas de poder e nas instituições que as suportam.

Ambição: “grande desejo de alcançar ou atingir algo” (dicionário online Priberam). “O mal de Portugal é a falta de ambição”. Assim falam Luís Marques Mendes, o Presidente e a generalidade dos “bem-sucedidos”. Mas isto não é um diagnóstico nem uma receita. É uma mera descrição que pouco adianta.

Falta ambição para quê? Para mudar de emprego, de casa, de cidade ou de país? Para exigir melhores condições de trabalho e maiores salários? Para fazer crescer uma empresa e explorar novos mercados? Para inovar? Para empreender? Para desenhar e executar estratégias ousadas? Para mudar de vida?

E quais os loci dessa falta de ambição? Os trabalhadores? Os jovens? Os investigadores? Os funcionários públicos? Os diretores gerais? Os reformados? As elites? Os gestores? Os capitalistas? Os governantes? Os políticos?

E mesmo que exista falta de ambição para fazer algo que não se sabe bem o quê por parte de quem não se identifica bem, será isto uma causa primeira, um atavismo do país e das suas gentes ou, pelo contrário, é uma resultante endógena? Será que por serem mais ambiciosos do que os portugueses que os dinamarqueses têm empresas como a Maersk, Novo Nordisk, Carlsberg ou Vestas? Ou um PIB per capita 1,72 vezes maior que o português?

Concordo que existe uma falta de ambição mais ou menos generalizada. Ressalvaria, contudo, que alguns dos aspetos mais aprazíveis do nosso país – o ar calmo e relaxado que se respira, “hakuna matata”, se preferirmos – derivam precisamente de uma falta de ambição. Chama-se a isto “satisficing” por oposição a “optimizing”: procurar resultados meramente adequados mesmo que subótimos.

Não sei a causa. Mas de uma coisa tenho certeza: não provem de nenhum atavismo nacional. Os milhares de jovens que emigram (como aqueles que o fizeram nos anos 60 do século passado) são disso a prova. Podem ter desistido do país, mas não da ambição de uma vida boa. Também o provam os unicórnios nascidos em Portugal ou uma mão cheia de empresas que, não sendo líderes, são atores importantes na cena internacional.

Disse que não sabia a causa do sentimento de que nos falta ambição. Não sei, mas suspeito. Desde a grande (única?) manifestação de ambição nacional que foram os descobrimentos (totalmente top-down), todo o desenvolvimento do país se processou à sombra do estado e dos que vivem das rendas assim geradas. A salvaguarda dessas rendas, gerou estruturas de poder social e instituições terrivelmente castradoras da iniciativa e, por isso da ambição. Gerou a sensação de que nada vale a pena porque ganham sempre os mesmos

Apontamentos

Se sinto é porque é

Ao contrário que de alguns dizem, não chega alguém sentir-se vítima de racismo para que este tenha existido. O racismo não tem características quânticas em que as propriedades de uma coisa dependem da interação com um sistema exterior (“observador”) e, portanto, são apenas relativas a esse sistema. (Sempre que leio o Carlos Rovelli dá-me para isto.)

E a comissão pariu um rato

Segui com razoável atenção a CPI à gestão política da TAP. Aprendi pouco: os perigos de um exercício informal e lasso da gestão política, e o pântano resultante de tutelar uma empresa, que opera como se privada fosse, com o enquadramento das empresas públicas. Por esclarecer: porque é que o SIS decidiu agir no caso do computador de Frederico Pinheiro. De resto, apenas que Galamba é um desastre político e de relações públicas e que Pedro Nuno Santos será o próximo secretário geral do PS.

Rankings

Tem razão o ministro João Costa: os rankings das escolas secundárias são uma operação comercial. O principal determinante do sucesso académico – assim o demonstram todos os estudos – é o nível socioeconómico e educacional da família (e, para os mais jovens, sobretudo da mãe).

Vergonha

Comemoram-se seis anos da tragédia de Pedrógão. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa curvaram-se perante a memória das vítimas. A probabilidade da tragédia se repetir não se reduziu!

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