Editorial

As três perguntas a que Ramalho tem de responder

O presidente do Novo Banco regressa esta terça-feira ao Parlamento, e das suas respostas resultará a utilidade ou inutilidade desta audição.

António Ramalho volta esta terça-feira ao Parlamento para responder, desta vez, aos deputados sobre a gestão do Novo Banco desde que é presidente, em 2016, e as “pequenas desconformidades” — um eufemismo do gestor para as 140 falhas identificadas pela Deloitte — na gestão de crédito. Há muitas perguntas a fazer ao presidente do Novo Banco, e aqui no ECO identificámos cinco, mas há duas que, sem resposta, tornarão esta audição irrelevante.

  1. Como é que o Novo Banco passou uma sucessão de exercícios com as contas aprovadas, desde logo pelas sucessivas administrações, pelos auditores e supervisores, para chegar a 2017, 2018 e 2019 a vender ativos a um valor claramente abaixo do que estava contabilizado no balanço?
  2. Quem são os devedores que geraram os mais de quatro mil milhões de euros de perdas que decorrem de negócios até 2014 e que se materializaram nos anos seguintes?

Qualquer delas dava uma audição parlamentar, e mais umas quantas entrevistas, para que o presidente do Novo Banco nos explique, como se tivéssemos quatro anos, o que se passou no Novo Banco e quem é que beneficiou de empréstimos e não os pagou (e quais as razões, porque também é preciso perceber que cada crédito, a sua reestruturação e incumprimento são um caso próprio). Não, não é aceitável o argumento do sigilo bancário, a proteção do infrator, para manter o segredo de quem não pagou, mas também para se conhecer quem é que aprovou, não só os créditos como as sucessivas reestruturações.

Era bom que a audição ultrapassasse a discussão política e partidária e se concentrasse no essencial, mas talvez seja pedir demais. No modelo de governação do Novo Banco, nos mecanismos de controlo do Estado na venda de ativos tóxicos, no contrato de venda, nas contas artificiais e na lista de devedores. Mas o que ouvimos nos últimos meses sobre o Novo Banco de todos os decisores políticos, incluindo António Costa, Rui Rio e Marcelo Rebelo de Sousa, não antecipa nada de bom. Apesar da história do Novo Banco já ser velha, apesar de se saber desde que o Novo Banco foi vendido ao Lone Star que a garantia pública de 3,9 mil milhões vai ser utilizada na totalidade (ao contrário do que nos vendiam em 2017, a nós, contribuintes, e aos outros bancos, que têm de pagar o Fundo de Resolução).

E sobra a última pergunta, a decisiva, especialmente quando se vê o que se passa na banca europeia: O Novo Banco é viável quando terminar o recurso à garantia pública, que ainda tem 900 milhões de euros disponíveis (e serão usados na totalidade, claro)? É que uma resposta negativa ou mesmo de dúvida só pode significar que se perderam anos e muito dinheiro para acabar a fazer o que vai suceder mais cedo do que tarde, uma fusão com outro banco do sistema.

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