Claudia Goldin. À frente do seu tempo

  • Mariana Veríssimo
  • 19 Outubro 2023

As contribuições de Claudia Goldin são significativas para a compreensão das questões de desigualdade de género no mercado de trabalho.

Neste ano de 2023, motivada por questões profissionais e por projectos que abracei a nível pessoal, tenho-me dedicado a reflectir sobre temas ESG (Environment, Social and Governance) e, em particular, sobre diversidade e inclusão no contexto do mercado de trabalho. Esta temática enquadrasse mais no pilar do ESG – o Social – que pretende analisar como uma empresa gere e promove a
sua relação com os seus stakeholders (colaboradores, fornecedores, clientes e toda a comunidade em que opera).

Na semana passada foi anunciado o Prémio Nobel da Economia 2023: e a premiada foi a historiadora económica americana, nascida em 1946 – Claudia Dale Goldin. Claudia Goldin é professora de Economia na Universidade de Harvard e foi diretora do programa de
Desenvolvimento da Economia Americana do NBER (National Bureau of Economic Researc) de 1989 a 2017.

Não pude deixar de considerar a escolha deste ano muito merecida e reveladora, por ser – justamente – um prémio atribuído a alguém que, à frente do seu tempo mas ainda reconhecida no seu tempo, fez contribuições significativas no campo da economia e nas questões de igualdade de género.

Goldin dedicou-se ao estudo da história do trabalho feminino nos Estados Unidos tendo documentado a evolução das taxas de participação das mulheres no mercado de trabalho ao longo do tempo e analisado como mudanças nas oportunidades de trabalho e nas políticas influenciaram a trajetória das mulheres.

Claudia Goldin é reconhecida pelo seu trabalho sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres, explorando as razões pelas quais essa disparidade ocorre e propondo soluções para reduzi-la. Ela argumenta que a diferença de salário não é exclusivamente atribuída à discriminação, mas também está relacionada a escolhas ocupacionais e à segregação ocupacional.

Estudou extensivamente a segregação ocupacional, investigando as razões pelas quais certas profissões são predominantemente ocupadas por homens ou mulheres. Ela identifica fatores como estereótipos de género, divisão desproporcional de responsabilidades familiares e normas sociais como determinantes para a segregação ocupacional.

Incontornável neste tema é o dilema enfrentado por muitas mulheres entre construir uma carreira e assumir responsabilidades familiares. Este dilema não foi descurado por Goldin que se dedicou a examinar como a estrutura da força de trabalho e as políticas de licença de maternidade podem influenciar a tomada de decisões das mulheres em relação à família e à carreira.

Sem prejuízo de não se poder comparar a sociedade Americana com a Portuguesa, as contribuições de Claudia Dale Goldin são significativas para a compreensão das questões de desigualdade de género no mercado de trabalho e o seu trabalho tem ajudado a desenhar políticas públicas e a promover a igualdade de género em várias esferas da sociedade.

É curioso que desde 1901 até o ano de 2023, o Prémio Nobel foi concedido a um total de 901 homens, 64 mulheres e 27 organizações (contando aqueles que ganharam vários prémios apenas uma vez cada).

Este prémio Nobel tem o mérito de trazer à superfície temas que afectam a nossa sociedade e onde ainda há muito por fazer, em particular em Portugal, que ocupa a 29.ª posição no ranking global para a igualdade de género (entre 146 países World Economic Forum). O gender pay gap em Portugal é de 11.72%, a percentagem de mulheres nos conselhos de administração é de 31%, e apenas 8% estão em lugares de topo nas empresas.

É por isso vital a criação de condições para que homens e mulheres possam trabalhar de forma igual e ser vistos de forma igual pelas empresas, através do alinhamento de direitos e do incentivo à equidade pela transparência e informação, que deve ser pública.

O ESG tem várias velocidades, consoante a sociedade em que se insere, consoante quem o pensa, quem o aplica. Já todos sabemos. Cada letra representa um pilar e cada pilar congrega mais ou menos apoiantes consoante as diferentes sensibilidades ao tema em particular. Mas uma coisa é certa: Goldin interpreta o presente através das lentes do passado e explora as origens das questões atuais que suscitam preocupação. Devíamos todos aprender com a sua obra e o seu legado, porque sem S não avançamos.

Obrigada Claudia Goldin.

Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detêm expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com

  • Mariana Veríssimo
  • Country Leader da TMF Group em Portugal

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