
Com o carro elétrico muda tudo
É fundamental percebermos que esta transição é mais profunda do que pode parecer. O carro não existe isolado, faz parte de um ecossistema e quando alteramos uma "peça do puzzle", todo o resto muda.
Tenho a confirmação que os carros elétricos vieram para ficar quando testemunho o meu pai de 72 anos a adquirir um. Sem consultar ninguém na família, decidiu comprar o seu primeiro carro elétrico, após uma vida inteira a combustão. Gostava de dizer que as suas motivações foram o ambiente ou a redução da sua pegada carbónica, mas não, comprou porque achou o carro bonito.
As marcas finalmente começaram a apostar nos elétricos e o aumento da oferta tornou-os mais apelativos aos olhos do consumidor. Mais escolha, designs mais arrojados e aumento da capacidade de produção e de entrega, são alavancas importantes para o crescimento do mercado.
Houve muito desenvolvimento nos últimos anos e alguns fatores foram cruciais para aumentar a confiança dos consumidores. A maior capacidade das baterias, com consequente melhoria de autonomias. A velocidade de carregamento, que foi acompanhado por postos de cargas com maior potência. Estes elementos foram essenciais para dar mais segurança aos condutores, que em paralelo foram pressionados pelo aumento dos custos dos combustíveis, para abraçarem esta evolução.
Temos assistido a aumentos significativos da quota dos elétricos, os recordes de vendas têm sido sistematicamente batidos e ainda estamos apenas no início de uma grande mudança. É fundamental percebermos que esta transição é mais profunda do que pode parecer. O carro não existe isolado, ele faz parte de um ecossistema e quando alteramos uma “peça do puzzle”, todo o resto muda, ora vejamos:
A fonte de energia.
Não faz sentido trocarmos motores a combustão por motores elétricos e baterias se a energia que formos carregar não for de fontes limpas e renováveis. Esta é uma das alterações no ecossistema: maior produção e consumo de energia de fonte renovável, seja ela solar, eólica ou hídrica. É necessário maior disponibilidade e capacidade para conseguirmos alimentar a necessidade de mobilidade dos novos veículos.
No transporte de mercadorias e passageiros talvez faça sentido a utilização de hidrogénio e a sua produção limpa, é mais uma peça a mexer neste ecossistema.
O armazenamento.
Atualmente ninguém utiliza o depósito a combustão do seu carro como gerador (pelo menos que eu conheça) mas no caso dos elétricos a situação muda de figura. As baterias armazenam energia e podem servir para fornecer energia à rede em caso de pico ou alimentar uma casa — os famosos projetos vehicle-to-grid ou vehicle-to-home.
Mesmo em final de vida a bateria de um veículo elétrico pode ser transformada em bateria estacionária e armazenar energia produzida por painéis solares, por exemplo.
A digitalização.
Muita tecnologia foi desenvolvida nos carros a combustão, mas com os carros eletrificados a digitalização vai acelerar. A Condução autónoma é apenas a mais visível. Com redes 5G e inteligência artificial os nossos carros vão ser computadores com rodas.
Alterações no espaço imobiliário.
O carregamento altera a filosofia de utilização dos espaços. No mínimo vamos estar 15 minutos a carregar o carro e não é de forma inocente que assistimos a alterações nos espaços físicos para acomodar novos cenários de utilização. Basta olhar para as autoestradas e verificar como as áreas de serviço foram convertidas em espaços de trabalho, com WiFi e entradas para carregar o portátil. No meu caso pessoal, quando estou em deslocação e paro para carregar o carro, sei que posso aproveitar essa pausa para ligar o computador e trabalhar remotamente.
Cidades mais clean.
Sem emissões de CO2 e o barulho dos motores, vamos ter cidades com ar menos poluído e menos ruído de fundo. Vários estudos estabelecem uma ligação entre a poluição sonora e diversos problemas de saúde, sejam eles mentais ou, por exemplo, cardiovasculares. Com esta mudança, seguramente as cidades vão ser sítios mais agradáveis para viver e circular. Pelos exemplos listados é fácil perceber que quando decidimos mudar de um carro a combustão para um carro elétrico não estamos apenas a trocar a motorização e a fonte de energia, estamos a influenciar todo um ecossistema.
O futuro será um reflexo das nossas ações no presente. Obrigado pai por com 72 anos, trocares para um elétrico.
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