Comunicação é Inovação

  • Guilherme Castanheira
  • 26 Janeiro 2021

Para Guilherme Castanheira, mediador de seguros, CEO da Loja Fidelidade em Santa Comba Dão, a diferença entre uma seguradora tradicional e uma insurtech é a comunicação. Uma arcaica, outra inovadora.

Não é novidade que a indústria seguradora possui um modelo de negócios conservador, pouco apetite por risco, falta de profissionais especializados, tecnologicamente pouco inovador, lento na transformação, entre outros por-maiores que fazem esta indústria pouco atraente. Basta ver a penetração de seguros não-obrigatórios no mercado português, baixíssimo, e a culpa não é só das estruturas comerciais.

Enquanto profissional de seguros procuro, para além da prestação do serviço, tentar inovar em todos os pontos acima indicados, e encontro algumas dificuldades em comunicar ideias concretas para problemas concretos, tanto com os meus pares, como com responsáveis hierárquicos ou até com segurados. A uniformização de produtos obriga a que o prémio seja o principal meio de comunicação.

Não há nenhum problema na linguagem que a indústria seguradora utiliza. Aliás, é sua, só sua e de mais ninguém, é hermética, portanto!

Todas as tribos possuem linguagem própria, do desporto às artes, a linguagem faz parte do entendimento que sustenta a própria entidade individual e coletiva. Se acham que a linguagem seguradora é difícil de transmitir além-fronteiras, experimentem dialogar com a tribo do marketing.

Toda a atividade do homem é por si só uma forma de linguagem. Apesar de existir universalidade na natureza seguradora, existe um regionalismo arcaico na sua reprodução e, por conseguinte, na comunicação exercida.

Existe claramente uma distinção entre aquilo que é o sistema e o ambiente, sendo que o sistema não consegue comunicar com o ambiente.

Construímos plataformas assentes numa linguagem complexa com o intuito de comunicar melhor, mas este paradoxo não nos aproxima, antes nos desloca.

A atividade seguradora é especialista em risco, vive do risco, mas não sabe comunicar o risco e não o sabe comunicar porque não o entende.

Entender o risco é entender o habitat e pessoas, o ambiente. A diferença entre uma seguradora tradicional e uma insurtech não é o modelo de negócios ou a tecnologia inerente ao projeto, mas sim a comunicação. A ausência da espontaneidade no discurso segurador, permite que não se desenvolva uma linguagem natural assente nos princípios da experiência e do empírico, porque a transformação ou inovação passa por saber comunicar. A comunicação cria afinidade, mas comunicar através de uma linguagem arcaica, em sistema, leva-nos ao estado de uma incerteza da comunicação.

Ora, é precisamente nesta experiência comunicacional que falhamos e ao falhar migramos de um espaço de incertezas para inseguranças da comunicação.

As insurtechs aparentam inovação tecnológica, mas na realidade estão a comunicar sob a forma de interpretação de signos baseados na experiência humana. Quando olhamos para uma Lemonade, tudo nos parece simples e atraente. No entanto, não há vantagens competitivas em usarmos a mesma tecnologia, estes mecanismos facilitadores serão isso mesmo, facilitadores, mas residirá na experiência do testemunho da experiência comunicacional a credibilidade do projeto. A evolução da indústria seguradora acabará por chegar através de quem transmite a experiência, de quem comunica melhor.

Só conseguiremos ultrapassar esta ditadura tecnológica se negarmos o inumano e nos voltarmos para o humano.

Não há inovação sem comunicação da mesma maneira que não há conhecimento sem informação. Uma indústria especialista em risco deve ser especialista em pessoas, porque comunicação é inovação.

  • Guilherme Castanheira
  • Mediador de seguros, responsável da Loja Fidelidade Santa Comba Dão

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