Construir um mundo melhor e descarbonizado implica melhorar a eficiência energética de todos os edifícios: novos e antigos

  • Victor Moure
  • 17 Outubro 2021

A inovação digital, combinada com a transição para uma maior eletrificação, pode ser a chave para deter as alterações climáticas.

O desperdício de energia está a acontecer em nosso redor, para onde quer que olhemos, e a contribuir significativamente para as alterações climáticas. Lutar contra este inimigo invisível parece quase impossível – a menos que o tornemos visível. A inovação digital, combinada com a transição para uma maior eletrificação, pode ser a chave para deter as alterações climáticas, permitindo-nos ver e medir o nosso impacto para que possamos reconhecê-lo e reduzi-lo.

Ironicamente, a adoção do digital é também um dos maiores obstáculos à ação climática: uma certa confusão sobre em que investir faz com que muitas empresas pareçam estar perante “rinocerontes cinzentos”. Este é um termo cunhado por Michelle Wucker para designar os eventos que conseguimos prever, mas que nada fazemos para evitar – riscos de alta probabilidade e grande impacto, que reconhecemos e avaliamos, mas ignoramos até que “explodem”. Por outro lado, para enfrentarmos verdadeiramente as alterações climáticas, é necessário que os CEO das empresas se envolvam ativamente e liderem a mudança – porque só podemos levar a cabo transformações de grande monta com conhecimento profundo sobre o que estamos a fazer.

Contudo, as soluções já existem. Pensemos sobre os elementos que mais contribuem para
o problema: os edifícios são responsáveis por quase um terço das emissões de CO2 à escala mundial – um número que sobe para quase 40% se considerarmos também a sua construção. Nos países em desenvolvimento, as casas estão prestes a tornar-se na maior fonte única de emissões de gases de efeito de estufa.

A solução passa por construir melhor os novos edifícios desde o princípio, e por renovar os existentes para que se tornem mais energeticamente eficientes. Estimamos que atualmente 82% dos mecanismos capazes de reduzir o desperdício de energia nos edifícios esteja por explorar – mas como podemos saber o que é um “bom” mecanismo?

Uma mudança positiva não será possível sem que elevemos alguns dos padrões e regulamentações existentes, acelerando a sua implementação e aumentando a exigência.

Adoção mais rápida de padrões para novos edifícios

O objetivo mais imediato passa por garantir que todos os novos edifícios cumprem as normas governamentais e são, por defeito, neutros em carbono, energeticamente eficientes e centrado nas pessoas.

No entanto, embora haja cada vez mais soluções inteligentes, sustentáveis e eficientes do ponto de vista energético em novos edifícios, o progresso continua a ser lento.

Felizmente, muitos países estão a adotar normas mais rígidas. Na Europa, a Diretiva do
Desempenho Energético dos Edifícios (EPBD) exige que todos os edifícios construídos a partir de 2021 tenham necessidades energéticas quase nulas (Nearly Zero Energy Buildings – NZEB). Em Portugal, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), estão também a ser implementadas iniciativas como a segunda fase do Programa Edifícios Mais Sustentáveis. A sustentabilidade é um dos pilares do programa nacional de recuperação económica pós-pandemia, e também uma das bandeiras do Governo, que tem estabelecido compromissos com a transição energética – como a meta de que, até 2030, 80% da energia utilizada no país provenha de fontes renováveis.

Mais eficiência energética nos edifícios existentes

O software e as tecnologias conectadas e inteligentes de hoje em dia – que funcionam
como o cérebro e o sistema nervoso de um edifício – são capazes de controlar o seu
“esqueleto” e, em última análise, determinar o quão inteligente e eficiente pode ser em
termos de energia. Estas ferramentas podem ser implementadas não só em edifícios novos, como também em edifícios construídos noutros séculos – uma notícia positiva, uma vez que se estima que 85% a 95% dos edifícios atuais ainda vão existir em 2050.

Renovar edifícios também pode ser uma vitória em termos de retorno do investimento.
Estima-se que o ROI médio em retrofits digitais seja de apenas 1-3 anos, em comparação com os 10 anos necessários para alterações físicas, como por exemplo para melhorar o isolamento. Geralmente regista-se uma redução de 30% na utilização de energia, e semelhante nos custos operacionais, como resultado direto da implementação de tecnologias de smart building – que contribuem para melhorar a sustentabilidade e eficiência energética dos edifícios e permite que giram a sua própria energia através de energia solar e microgrids, e a utilizem depois em operações críticas.

A eficiência energética é a forma mais barata e acessível de reduzir a procura de energia e
as emissões de CO2. Até 2035, a Agência Internacional de Energia estima que se investirão anualmente 550 mil milhões de dólares em soluções de eficiência energética. Até ao
momento, os governos europeus prometeram aplicar $57 mil milhões em medidas
relacionadas – o que representa 86% dos estímulos anunciados a nível mundial para o
financiamento da eficiência. Temos de aproveitar ao máximo este investimento e assegurar-nos de que os benefícios da eficiência energética se tornam claros tanto para as empresas como para os consumidores.

Melhores padrões de tecnologia

A verdade é que, quando se trata de criar um ambiente que promova a adoção mais ampla das tecnologias de construção de Smart Homes sustentáveis, as empresas estão em primeiro plano.

A sustentabilidade só sairá inequivocamente vencedora quando todas as tecnologias
inteligentes conectadas à IoT num edifício – desde sistemas AVAC a tomadas inteligentes e
sistemas de segurança – puderem ser controladas através de software e soluções digitais
de ponta, e forem alimentadas por eletricidade verde. Só então os edifícios serão capazes
de alcançar níveis superiores de eficiência energética, de alimentar as suas próprias
necessidades através da geração local de energia renovável, e de descarbonizar os seus
sistemas de climatização – permitindo também que os utilizadores carreguem os seus
veículos elétricos. Tudo isto de forma sustentável e responsável para com o meio ambiente.

A eficiência energética e eletricidade limpa são essenciais para combater o
aquecimento global

Somos a primeira geração que realmente compreende todas as implicações das alterações climáticas – e talvez a última capaz de fazer alguma diferença. Armados com conhecimento
e tecnologia, devemos agir rapidamente para evitar um futuro catastrófico.

O primeiro passo é ser mais eficientes na forma como consumimos energia e afastar os
combustíveis fósseis dos locais onde não precisam de estar – as nossas casas e escritórios, automóveis, transportes públicos e cidades.

Elevar os padrões dos ambientes urbanos e da tecnologia significa que alcançaremos também melhores padrões de vida para todos – assegurando ao mesmo tempo mais saúde para o planeta. As soluções digitais e a eletricidade limpa são a maneira certa de lá chegar.

  • Victor Moure
  • Country Manager Portugal, Schneider Electric

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