Construir uma Cultura de Inovação Sustentável

  • Tiago do Couto Venâncio
  • 13 Fevereiro 2024

Tiago do Couto Venâncio, CEO da Aegon Santander, vai mais à frente na definição de uma cultura de empresa em que a procura da inovação seja uma essência, não uma moda.

No panorama contemporâneo das empresas, sucumbir às soluções rápidas e às tendências efémeras pode parecer sedutor na busca pela inovação. Contudo ter em conta que fomentar uma cultura de inovação sustentável é substancialmente mais valioso do que seguir modas passageiras.

Frequentemente, a inovação é comparada a dietas da moda. Aquelas que trazem consigo promessas de resultados imediatos, mas não duradouros. Analogamente, no universo corporativo, observamos estratégias similares, alocação de equipas com foco pontual e efémero, numa espécie de “dieta sem gordura e açucares”, ou a incessante reestruturação da organização, reminiscente de treinos de alta intensidade. No entanto, a verdadeira inovação requer abordagens mais profundas e duradouras.

Acredito que uma inovação eficaz necessita de uma abordagem estruturada, abrangente e coesa que equilibre inovação e eficiência, bem como exploração e produtividade, crucial num mundo interligado, globalizado e digital.

Inovação versus Eficiência – A competição por atenção e recursos é intensa. As startups tecnológicas com alcance global têm desafiado gigantes estabelecidos. Como competir com empresas que não possuem ativos físicos tradicionais? A resposta é: mentalidade inovadora.

DNA de Inovação – para incutir um DNA de inovação, identifico uma abordagem tripartida que integra infraestrutura (centro de inovação), cultura (ambiente que apoia a inovação) e ferramentas e frameworks que desafiam o status quo:

  • A infraestrutura de inovação é a parte mais fácil da equação. Os centros de inovação são responsáveis por questionar a todo o tempo como é que as mudanças no mercado podem afetar significativamente a participação da Empresa neste;
  • Cultura, o verdadeiro desafio reside em criar uma fórmula replicável e sustentável, uma mentalidade de inovação que reconhece e permeia toda uma Equipa. É necessário deixar nascer e fluir um processo caótico e desordenado, contrário à busca de eficiência e eficácia tão enraizada nas grandes organizações. É vital uma cultura que apoie a natureza exploratória e a incerteza da inovação;
  • Conexão entre Infraestrutura e Cultura é feita com técnicas como design thinking, a metodologia Lean, o Scrum ou outras que apoiem o ultrapassar limites e o desenvolver de novas propostas de valor;
  • Uma estratégia de inovação sustentável envolve combinar os três elementos num ecossistema onde é necessário aprender a viver com a incerteza, com flexibilidade e a apoiar ambientes que se soltem do status quo;

Sempre prezei pela inovação e pela compreensão profunda das necessidades dos consumidores. Contudo, é também fundamental distinguir entre conhecer profundamente o que o consumidor deseja e ser dependente de constantes inquéritos sobre as suas vontades. Lembro-me de uma história inspiradora de Steve Jobs, que ecoa esta filosofia. Durante um retiro com a equipe do Macintosh original, um membro da equipa questionou se deveriam realizar um estudo de mercado para entender o que o consumidor realmente queria. A resposta imediata de Steve Jobs foi um categórico “Não”. Ele acreditava que os consumidores não sabem o que querem até que lhes seja apresentado, citando Henry Ford, que uma vez disse: “Se eu tivesse questionado os clientes sobre o que eles queriam, estes teriam respondido um cavalo mais rápido”.

Esta abordagem não significa ignorar as necessidades do cliente, mas sim compreendê-las de uma maneira mais intuitiva e profunda. A chave para o sucesso não está em ser fundamentalista de “focus groups”, mas em desenvolver uma compreensão intuitiva dos desejos ainda não formulados dos consumidores. Este processo requer uma mistura de intuição, instinto e uma disposição para liderar tendências, em vez de seguir instruções.

Vincar um DNA de inovação nas organizações não pode ser movido por modas. As soluções são complexas e diversificadas, refletindo o mundo em que vivemos. Embora a inovação disruptiva seja um tema frequente, a maioria das inovações são incrementais, com uma ilustração divertida recordemos que a evolução da “Roda” quadrada para a “roda” triangular permitiu retirar um solavanco.

  • Tiago do Couto Venâncio
  • CEO Aegon Santander Portugal Seguros

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