Descarbonização até 2030: um desafio ou uma miragem?
A colaboração e a digitalização são fundamentais para preparar o caminho para um mundo mais sustentável.
Na tentativa de alcançar um mundo mais sustentável e enfrentar o desafio das alterações climáticas, a descarbonização afigura-se como prioridade máxima na transição para uma economia mais verde. No entanto, de acordo com o nosso estudo The Great Divide on The Path to Net Zero, os progressos estão a ser demasiado lentos e menos de 50% das organizações esperam atingir os seus objetivos até 2030. Um total de 1.400 executivos de todo o mundo acredita que existe uma preocupante falta de alinhamento e uma progressão lenta na transição para um modelo descarbonizado dos sistemas de energia, mobilidade e edifícios.
O estudo sublinha a necessidade de uma ação urgente para evitar as consequências desastrosas da inação e apela ao aproveitamento das tecnologias disponíveis e do potencial da digitalização como alavancas para alcançar uma transição inteligente e sustentável.
Um dos principais desafios neste processo é a energia, uma vez que quase três quartos das emissões globais de gases com efeito de estufa provêm da sua produção, transporte e utilização. A descarbonização do sistema energético mundial exigirá um montante estimado de cerca de 253 biliões de euros para se efetuarem as alterações necessárias na produção, na distribuição e no consumo. As entidades reguladoras, juntamente com os proprietários dos ativos e os investidores, são os responsáveis diretos por impulsionar esta transição, mas as empresas, os políticos e os cidadãos também devem assumir a sua quota-parte de responsabilidade.
Paralelamente, também as cidades desempenham um papel crucial na luta contra as alterações climáticas e, como sabemos, a descarbonização do setor dos transportes deve ser prioritária para reduzir as emissões. Não obstante, existem grandes desafios, especialmente nas cidades do nosso país onde falta uma rede sólida de infraestruturas de carregamento para veículos elétricos, o que dificulta a adoção generalizada de tecnologias mais limpas. Contudo, este é um processo no qual não se pode voltar para trás. A grande maioria dos fabricantes de automóveis assumiu o compromisso de se tornar neutra em termos de carbono até 2050 e alguns irão fazê-lo ainda mais cedo, uma vez que já estão a acelerar a eletrificação das suas fábricas. Mas a mobilidade urbana não engloba apenas o transporte individual e a logística de última milha, sendo absolutamente imprescindível acelerar a descarbonização dos transportes coletivos de passageiros e de mercadorias, sem esquecer os portos integrados em cidades, onde diariamente navios de cruzeiro e de mercadorias continuam a contribuir fortemente para as emissões de Gases de Efeito de Estufa, além do ruído e vibrações induzidos nas populações vizinhas.
O desafio para o setor da mobilidade consiste em transitar para um novo modelo de produção, em que a bateria se torna mais importante do que o motor, e todos os outros componentes devem ficar mais leves. Trata-se de uma necessidade absoluta para uma indústria que é muito importante para o nosso país (11.º maior produtor da Europa de automóveis e 28.º maior do mundo). Para além disso, uma maior eletrificação dos transportes não só contribuirá para reduzir as emissões de CO2, como permitirá diminuir a nossa dependência energética do exterior.
Neste âmbito, também se deram alguns passos regulamentares importantes, como o Despacho nº 5126/2023, de 3 de maio, que determinou a atribuição, durante o ano de 2023, de um incentivo para a instalação de carregadores de veículos elétricos em condomínios.
Pressão crescente
Quanto às empresas, e regressando ao nosso estudo, estas enfrentam uma pressão crescente para descarbonizar os seus modelos de negócio, ativos, infraestruturas e logística. Embora quase metade tenha definido objetivos para as emissões de Âmbito 1 e 2, apenas 40% acreditam que seja provável que cumpram tais objetivos até ao próximo ano e apenas 44% esperam fazê-lo até 2030. A confiança nos objetivos de descarbonização está correlacionada com a confiança nas perspetivas de crescimento da empresa.
Nos edifícios, onde ainda existem barreiras à melhoria da eficiência energética, o foco deve estar nos sistemas de aquecimento e arrefecimento. No entanto, as empresas podem, sem necessidade de grandes investimentos, tirar desde já partido das soluções inovadoras existentes para melhorar o desempenho e a sustentabilidade dos seus ativos. A inteligência artificial, a realidade virtual e aumentada, assim como as redes móveis 5G são tecnologias que ajudam a gerar um impacto significativo na eficiência energética e na produtividade, sem prejudicar o conforto e segurança dos edifícios onde, na prática, passamos cerca de 90% do nosso tempo.
A descarbonização é um desafio global que requer uma ação coletiva e concertada, se tivermos em conta que a procura mundial de energia deverá triplicar até 2050. Embora os progressos sejam demasiado lentos, é essencial que as organizações, os governos e os cidadãos atuem agora para mitigar os efeitos das alterações climáticas. É por isso que a colaboração e a digitalização são fundamentais para preparar o caminho para um mundo mais sustentável. Só através da adoção de tecnologias e estratégias inovadoras poderemos alcançar uma transição bem-sucedida para um maior bem-estar social.
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