Dia Mundial da Poupança: O mundo parou, e a poupança?
Nelson Machado, Membro da Comissão Executiva do Grupo Ageas Portugal, relaciona níveis de poupança e literacia financeira e recomenda aproveitar o impulso aforrador que a pandemia despertou.
Entre padrões de consumo, estilos de vida, mentalidade e formas de trabalho, tudo mudou, inclusivamente as taxas de poupança dos portugueses que se viu a duplicar em período de pandemia. De facto, dados dão-nos conta que a poupança dos portugueses subiu de 7,4% para 14,2%, atingindo valores que já não eram vistos há quase 20 anos, num momento em que as restrições impostas levaram os portugueses a diminuir o seu nível de consumo aumentando, por consequência, os montantes aplicados nos depósitos a prazo e à ordem.
Facilmente conseguimos entender estes resultados quando, no Observatório de Tendências liderado pelo Grupo Ageas Portugal e Eurogroup Consulting, de 2020, assistimos a 45% dos inquiridos a admitir alterações nos seus hábitos de consumo, com as categorias de alimentação e saúde a liderar os aumentos de consumo revelando a preocupação com o bem-estar pessoal.
No entanto, e apesar destes níveis de poupança serem maiores, embora muito provavelmente devido a efeitos conjunturais e com um risco elevado de voltarem aos níveis anteriores, sabemos que a sua rentabilidade é praticamente nula. Será esta realidade reflexo dos baixos níveis de literacia financeira em Portugal e do receio, entendível mas desadequado, de ter algum, pouco e ajustado, risco para ter retornos positivos e interessantes?
De acordo com o recente relatório divulgado pelo Banco de Portugal, assistimos a uma problemática na compreensão de conceitos financeiros, com uma grande incidência em questões sobre juros simples e juros compostos, avaliação do grau de risco dos depósitos a prazo, e no conceito de ‘spread’, com os jovens a apresentar um índice de literacia financeira global um pouco inferior ao dos restantes entrevistados. Por esse motivo, é fundamental sublinhar a importância de desenvolver projetos de literacia financeira para este público, sensibilizando-os para a necessidade da poupança, preparação para o futuro e gestão financeira de forma eficaz.
Esta realidade pode colocar em risco o futuro económico de Portugal, fazendo-nos questionar inclusivamente se dentro de tempos voltaremos aos níveis baixos de poupança que registávamos em tempos pré-pandémicos.
A verdade é que a literacia financeira caminha de mãos dadas com a poupança e quanto maior os níveis de conhecimento de conceitos e opções, maior será a rentabilidade. É inegável que efetuar planos de poupança desde cedo ajuda a uma melhor gestão e monitorização das contas, e que a crise sanitária e económica influenciou o consumo, hábitos de vida e de trabalho de cada um. Mas também influenciou as prioridades. Se há uns tempos a poupança para a reforma fazia parte das principais preocupações, hoje em dia vemos objetivos de poupança diferenciados.
De acordo com o mesmo relatório divulgado pelo Banco de Portugal, 49,8% dos inquiridos fazem poupança para fazer face a despesas imprevistas; 15,4% para despesas futuras não regulares, como férias ou viagens, e apenas 9,5% dos entrevistados poupam para a reforma, sendo certo que é esta poupança de longo prazo que pode verdadeiramente proteger as famílias e o país. Seja qual for o objetivo da poupança, existe a certeza de que a sua aplicação teve alterações, provavelmente motivadas pela incerteza do regresso à normalidade.
Ainda de acordo com o referido Observatório de Tendências do Grupo Ageas Portugal e Eurogroup Consulting, apesar da ambiguidade de sentimentos no que respeita a pós-pandemia, dividindo entre aquilo que são os sentimentos de esperança e os de ausência de transformações sociais, é imprescindível ter uma abordagem integrada com impacto na sociedade, colmatando os gaps existentes no que respeita à literacia financeira, promovendo uma ação eficaz em quem está disposto a poupar, e em quem efetivamente poupa.
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