Diversificação como garante da transição e segurança energética

  • António Albuquerque
  • 14 Julho 2021

A eletrificação vai estar presente, mas também todas as outras fontes de energia, como os biocombustíveis, no curto-prazo, os combustíveis sintéticos e o hidrogénio no médio-prazo.

Os últimos acontecimentos nos Estados Unidos da América – o apagão no Estado do Texas e o mais recente ataque informático ao maior sistema de oleodutos para produtos petrolíferos refinados – fazem ressaltar os problemas que resultam da falta de diversificação das fontes de energia e/ou das redes de distribuição, expedição e fornecimento.

Sem querer empregar disfemismos, o primeiro caso arrasta-nos para a discussão sobre a capacidade, ou falta dela, de se garantir o acesso à energia em situações extremas num cenário de total eletrificação da economia. Aquela situação parece ter sido o exemplo do que pode acontecer com a sobrecarga de uma infraestrutura, que levou a uma situação inolvidável, não pelas melhores razões. O segundo acontecimento, pela mesma razão, falta de diversificação ou opções alternativas, acabou por mostrar o quão importante é assegurar a segurança energética de um país.

A segurança energética, numa definição simples – mas não simplista -, diz respeito à disponibilidade de energia para servir a procura, num determinado local e espaço, pelo que seria incauto dissocia-la da(s) fonte(s) de energia(s). A dependência energética, independentemente da fonte de energia, já evidenciou, num passado mais longínquo, a sua relevância. Na década de 1970, com o embargo petrolífero imposto pelos principais produtores de hidrocarbonetos, existiu a necessidade de obviar, pela primeira vez, reservas estratégicas com o desiderato de reduzir essa dependência e garantir a segurança energética das populações.

Em Portugal, com a construção do Parque de Armazenagem de Sines, contribuímos para a diversificação de infraestruturas que garantem a segurança energética e a melhoria das condições de distribuição de combustíveis líquidos no País. A unidade de Sines – com uma capacidade instalada de 100 milhões de litros, para gasóleo e biocombustíveis – para além de reforçar a capacidade de armazenagem do país, permitir a ligação ao porto de Sines e ser mais uma opção na distribuição à zona de maior consumo do país (área metropolitana de Lisboa), através da ligação ao Parque da CLC em Aveiras, é paradigmática em relação ao itinerário da transição energética. Acreditamos que esta deve ser gradual e criteriosa, aproveitar as infraestruturas existentes e não negligenciar nenhuma fonte de energia.

Na última Conferência da APETRO – energia em evolução, Combustíveis do futuro, que reuniu vários especialistas, de diferentes quadrantes, ficou explícito que devemos gizar projetos sem coartar nenhuma fonte de energia, nem tecnologia, pois todas elas são importantes para a descarbonização. A complementaridade deverá ser a palavra de ordem. A eletrificação vai estar presente, mas também todas as outras fontes de energia, como os biocombustíveis, no curto-prazo, os combustíveis sintéticos e o hidrogénio no médio-prazo.

Apenas será possível salvaguardar a necessidade energética da sociedade, a tal procura num determinado tempo e lugar, se diversificarmos as fontes de energia, potenciarmos as infraestruturas existentes e investirmos em desenvolvimentos tecnológicos em todos os âmbitos e energias. Uma sociedade indigente, no que à energia diz respeito, por causa de uma visão de sentido único, não é segura.

A dependência é um estado de sujeição que reflete e falta de autonomia. Ora, numa das missões mais hercúleas da humanidade – preservar o meio ambiente e combater as alterações climáticas, ao mesmo tempo que se continua a preservar o bem-estar da sociedade – a dependência não pode entrar no léxico.

  • António Albuquerque
  • Diretor da Unidade de Abastecimento, Operação e Logística da Repsol Portuguesa

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