Do or do not: there is no try

  • Maria Figueiredo
  • 2 Novembro 2023

Há que ir aprimorando esta linguagem e métricas, a bem do futuro. Como dizia Master Yoda: "do or do not, there is no try".

Valor. Criar valor. Acrescentar valor. Medir valor. Incentivar a criação de valor.

Para além da polarização que gera falar de ESG hoje em dia, principalmente across the pond, a grande questão que me parece ser a pedra de toque é do valor que o ESG quer traduzir – e que ainda não conseguiu fazer, de forma consensual pelo menos.

Deparei-me com dificuldades ao pensar sobre o tema da criação de sistemas de incentivos para gestores com base em critérios ESG – para ajudar a incentivar a criação de valor para as empresas. Mas qual valor? Como se mede? E como se medem então os passos necessários para que cada um dos decisores e executores de uma empresa se sintam alinhados com essa criação de valor? É crucial tornar o bom desempenho a nível ambiental, social e de bom governo societário numa questão tão pessoal como o bom desempenho financeiro, mas como?

Medimos o valor pelo desempenho financeiro. A vários níveis, mas não vou tornar esta reflexão numa em que os meus filhos rolam os olhos e, desligando a meio, terminam invariavelmente em jeito de desabafo: a mãe é uma chata!

Medimos, de forma normalizada, o desempenho financeiro das empresas. Nele assenta o valor (cotado em bolsa ou não) dessas entidades. Depois falamos também do capital reputacional, da força e do valor da marca. Começamos a entrar nos intangíveis. Numa breve pesquisa sobre avaliação de intangíveis encontro, em duas fontes diferentes, uma diferença de biliões (à americana) de dólares quanto ao valor da marca Coca-Cola. Parece, diz outro artigo, que avaliar uma marca não é uma ciência exata e existe alguma subjetividade. Parece portanto que o tema das dificuldades de avaliação, principalmente de realidades intangíveis ou muito dilatadas no tempo, não é novo e dá azo a diferenças entre fontes seguidas e métodos adotados.

Quando falamos de critérios ESG há que focar. Na verdade, o que me parece é querermos falar sobre critérios para medir a sustentabilidade. Assente no pressuposto que a sustentabilidade é sinónimo de um bom desempenho de uma empresa, inserida na sua comunidade e no mundo, no longo prazo. Sustentabilidade, medida através de critérios ESG ou através de alqueires de outra coisa qualquer, é sinónimo de futuro!

O tema esgota-se na ciência ou também deve tocar em matérias como o valor dos intangíveis (como reputação e marca acima mencionados), que já têm anos de “teorias da medição” ocorridos?

O “E” desta equação parece ser o mais simples, haja vontade. Sabendo o valor do carbono, que se valoriza ou se tributa consoante o caso, será concretizável medir o valor de um menor impacto ambiental. Não só o impulso dos mercados de carbono e o Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) da EU ajudam a formar volume de informação, como a valorização de resíduos e mercado para os mesmos, noutra frente, ajudará. A ciência e a adoção de critérios e medidas com base científica, resolverão esta matéria. Como não sou cientista, fico-me por aqui e a acompanhar com interesse a evolução, especialmente da tributação do carbono e do CBAM, desvendando despudoradamente o meu pendor fiscalista.

Não é que seja difícil criar incentivos baseados nos critérios sociais (“S”) e de bom governo societário (“G”), valorizando aspetos como a ausência de ocorrências ao nível da corrupção e compliance, inquéritos de satisfação de colaboradores, taxas de retenção, número e diversidade de pessoas aos vários níveis, etc. Qual o valor que ser uma empresa familiarmente responsável cria? Exemplificando: sabendo que os primeiros anos de uma criança são fundamentais para a formação da personalidade e mitigar traumas que irão ser determinantes para a sua saúde mental no futuro, que peso relativo atribuir a práticas das empresas que podem contribuir (e muito) para uma sociedade de seres humanos mais funcionais e saudáveis? Touché. Não se trata só do intangível marca ou reputação.

São tempos e discussões interessantíssimas as da sustentabilidade e das suas métricas. Não se pode ficar de fora. Há que ir aprimorando esta linguagem e métricas, a bem do futuro. Como dizia Master Yoda: do or do not, there is no try.

  • Maria Figueiredo
  • Counsel, CMS Portugal

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