
E no dia 19 de maio, a vida continua
Os líderes políticos querem basicamente entreter o povo, e talvez considerem que os portugueses não são capazes de avaliar as propostas para o país -- ou sabem que o que têm para dizer não muda nada.
A saúde de André Ventura e o anúncio do anúncio de Gouveia e Melo às presidenciais foram os temas mais relevantes da segunda semana de campanha para as legislativas, a dias as eleições, o que é bem sinónimo da pobreza política a que fomos condenados. Os líderes políticos querem basicamente entreter o povo, e talvez considerem que os portugueses não são capazes de avaliar as propostas para o país — ou verdadeiramente sabem que o que têm para dizer não muda nada.
A campanha eleitoral para estas legislativas tem sido de uma pobreza mesmo confrangedora. O primeiro-ministro e candidato da AD mergulha e joga vólei na praia, o secretário geral do PS anda de mota, os dois percorrem os talk shows das televisões e programas de humor. E, pelo meio, arruadas e carne assada. Nada contra, se houvesse mais, se tivessem aceitado o escrutínio dos jornalistas em entrevistas com critérios editoriais, se se tivessem esforçado mesmo por apresentar as propostas e os programas que têm para o país. E se não fossem os debates, então teria sido mesmo um deserto.
O contexto destas eleições já não é o mais favorável, os portugueses estão cansados destes mini-ciclos eleitorais, mas os líderes políticos não ajudam, pelo contrário. E a comunicação social, também não.
Vamos aos primeiros, os políticos. Já percebemos que Montenegro não gosta particularmente de jornalistas, e não é apenas por causa do caso Spinumviva. Não gosta de perguntas que incomodam, conseguiu chegar ao fim de uma campanha eleitoral sem prestar contas numa única entrevista, e não venha falar da agenda frenética da campanha, afinal arranjou tempo para receber em São Bento o humorista Guilherme Geirinhas (como candidato da AD, coisa estranha e que passou como se fosse normal), jogar golfe e aprender o tradicional ‘pedra, papel ou tesoura’. Pedro Nuno Santos, esse, seguiu a mesma cartilha, a mesma rota, os mesmos programas, e o momento alto foi o encontro com Lili Caneças — ainda assim aceitou o convite do ECO para apresentar o seu programa e visão numa conferência no período de pré-campanha, e sujeitar-se a perguntas numa mini-entrevista ao vivo, coisa que Montenegro recusou).
Entretenimento puro. E três ou quatro ideias muito simples e repetidas à exaustão. Montenegro é o alfa e omega da AD, nada mais parece existir, nem políticas nem pessoas. A ‘montenegrização’ levada ao extremo pelo próprio. Pedro Nuno Santos atira contra uma suposta coligação radical da AD com a IL e põe em causa, todos os dias, a idoneidade do primeiro-ministro. E ambos defendem ser a garantia de estabilidade. Já não é tempo de propostas, mas realmente nunca foi.
E os segundos? Os meios de comunicação social, os jornalistas, também têm de fazer uma auto avaliação. A responsabilidade não é apenas dos políticos, daqueles que dizem que a comunicação social é muito importante para as democracias mas, depois, preferem a segurança das redes sociais (depois, não se queixem do populismo, estão a contribuir ativamente para isso). Quando aceitámos, como regra, fazer notícias, sem qualquer sentido crítico, a partir das declarações escritas numa qualquer rede social, também não estamos a cumprir o nosso papel. Quando há mais comentário do que notícias, quando ‘it’s all about the show’, quando decidimos participar no circo, não nos podemos queixar muito dos políticos.
Depois desta campanha, os indefetíveis vão votar no partido com a mesma convicção com que vão ao estádio, e os outros vão escolher o mal menor. Tendo em conta o que nos dizem as sondagens, existe uma forte probabilidade de tudo continuar na mesma, no mesmo impasse. E no dia 19 de maio, a vida continua.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
E no dia 19 de maio, a vida continua
{{ noCommentsLabel }}