E quando a organização necessita dispensar profissionais

  • Cristina Azevedo
  • 14:00

É crucial estabelecer um plano de trabalho para a conquista de um novo emprego e manter foco, disciplina e resiliência nesta missão.

Num mundo em constante e acelerada transformação, são cada vez mais frequentes as mudanças na estrutura das empresas decorrentes do necessário alinhamento da estratégia a novas realidades/necessidades do negócio.

Estas mudanças (reorganizações, downsizings, fusões, aquisições…) envolvem muitas vezes a necessidade de dispensar profissionais que contribuíram positivamente para a organização, muitas vezes por longos períodos de tempo, com uma carreira de sucesso e um percurso recheado de desafios e reconhecimento.

Como consultora de outplacement com uma vasta experiência no acompanhamento de profissionais que se veem “a braços” com a necessidade de uma transição de carreira “imposta”, gostaria de partilhar convosco o lado do profissional dispensado.

Sermos confrontados com uma decisão deste teor por parte da empresa a quem “demos tudo” é uma notícia avassaladora, que “nos tira o chão” e para a qual nunca estamos verdadeiramente preparados numa sociedade em que a nossa identidade está ainda muito ligada ao que fazemos e o sucesso profissional assume particular importância em termos individuais e coletivos. É uma passagem abrupta do sentimento de sermos “imprescindíveis” a passarmos a “descartáveis” causadora de stress a todos os envolvidos.

Subitamente, passamos de dias preenchidos com solicitações constantes, desafios, sentido de pertença, sentido de realização, reconhecimento, certezas e orgulho em nós próprios, para dias de vazio e incerteza.

E apesar de estes processos serem cada vez mais vulgares e todos sabermos que nos pode acontecer a nós, somos humanos e quando passamos pela situação na primeira pessoa não somos imunes ao forte impacto emocional que estas situações envolvem. Torna-se necessário processar os sentimentos de rejeição, injustiça, dor e fracasso, aceitar o que aconteceu e encontrar a motivação e força para a ação.

Há muito a preparar: identificar as nossas competências e fatores diferenciadores, analisar tendências e oportunidades, definir posicionamento e objetivos, preparar as ferramentas de comunicação alinhadas aos objetivos de carreira e abordar o mercado preparando cada ação estrategicamente.

Constatamos que há muito a aprender para se ser bem-sucedido nesta procura de novo emprego num mercado competitivo em que também as ferramentas e estratégias de pesquisa de emprego estão em mudança. Tomamos consciência que somos melhores a trabalhar do que a “vender” aquilo que fizemos e somos capazes de fazer e o quanto temos que focar na consciência do que temos para “oferecer” ao mercado e na forma adequada de o comunicar com impacto.

É um momento de oportunidade para investirmos em nós, desenvolver competências técnicas e de gestão de carreira. Ouço tantas vezes os profissionais que acompanho em outplacement dizerem: “este programa devia ser proporcionado também no início da carreira”. Mas é também um momento em que nos arrependemos de não ter alimentado uma rede de contactos ampla e sólida, de não temos desenvolvido competências que não sendo necessárias para o sucesso em funções anteriores são relevantes no mercado atual, de termos rejeitado a oportunidade de conhecer oportunidades para a qual fomos contactados no passado. É necessário aceitar, aprender com o processo e focar no futuro.

É crucial estabelecer um plano de trabalho para a conquista de um novo emprego e manter foco, disciplina e resiliência nesta missão, assumindo o controlo dos fatores que podemos controlar e tomando consciência e aceitando os que não podemos controlar.

Em simultâneo, é muito importante cuidarmos de nós próprios, cultivar relações significativas e desenvolver atividades que proporcionem prazer.

Nesta transição “imposta”, o caminho também pode passar por criar um negócio próprio ou, dependendo da faixa etária e da carreira contributiva iniciar uma reforma antecipada. Se o objetivo é criar um negócio há que definir a atividade a desenvolver alinhada com os nossos interesses e competências, desenvolver o Plano de Negócio e analisar a viabilidade económica do projeto. Se o objetivo é a transição para uma reforma antecipada, o foco é planear uma reforma em que haja propósito e sentido de realização pessoal.

Estas “mudanças impostas” tiram-nos da zona de conforto, “obrigam-nos” a explorar novas alternativas e fazem-nos parar e muitas vezes ressignificar o nosso propósito na vida, o equilíbrio pessoal-profissional e o rumo que queremos dar à nossa jornada quebrando um ciclo em que a rotina e as necessidades das empresas em que trabalhamos “ditam” o caminho.

Muitas vezes mudam a nossa vida para melhor, mas o balanço só pode ser feito e só é verdadeiramente sentido quando estamos efetivamente na nova etapa. Até lá há um caminho a fazer, com desafios e oportunidades. Manter uma atitude positiva e desenvolver ações estratégicas e estruturadas faz a diferença!

  • Cristina Azevedo
  • Diretora delegação Porto LHH | DBM Portugal

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

E quando a organização necessita dispensar profissionais

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião