Está na altura de destruir a blockchain

Mesmo com tudo o que esta tecnologia tem de bom, os danos ambientais que causa são demasiado elevados. É preciso destruir para reconstruir, com menos especulação e menos destruição.

A blockchain como a conhecemos precisa de ser destruída. As criptomoedas que dela dependem precisam de ser arrastadas para o lixo e os modelos especulativos têm de ser arrasados. Nesta fase, já não é sequer interessante discutir se o consumo energético da bitcoin equivale à Argentina ou a dois portugais ou a outro país qualquer. Interessa que, num momento em que estamos cada vez mais perto de destruir o planeta com os excessos energéticos, nos preocupemos em maximizar uma tecnologia que aumenta a rapidez com que efetuamos essa mesma destruição.

Qualquer tentativa de menorizar este facto é argumentação negacionista que só valida a necessidade de fazer implodir a bitcoin. E tudo isto acontece em nome de quê? De uns quantos capitais que só servem para alimentar mais especulação em mercados anexos. As bitcoin são, tão simplesmente, o maior desperdício de recursos na história da humanidade. Não têm qualquer valor real, não se anexam a qualquer atividade humana nem produzem qualquer bem nem valor. Só consomem energia que está a destruir rapidamente o meio ambiente de que o planeta depende para continuar vivo. Cada euro ganho na atividade especulativa tem custos tremendos para o ambiente. E o problema de base é que este consumo energético não é um defeito casual, é a raiz de todo o sistema blockchain em que se baseia a bitcoin – e esse sistema pressupõe um desperdício brutal, devido ao modelo matemático aplicado.

Uma obra de arte digital, que não é mais do que uma colagem de GIF, acabou de ser leiloada por 69 milhões de dólares. Com o leilão desta peça, atingiu-se o terceiro preço mais elevado para um artista vivo, colocando os gif de Beeple ao nível de Jeff Koons e David Hockney. Isto só foi possível graças aos non-fungible token (NTF), os registos deslocalizados que garantem a autenticidade e propriedade de uma obra digital garantida pela blockchain. Isto tem sido especialmente útil para o registo de produtos digitais que são – ou que passam por – arte, de forma a garantir a sua autenticidade antes de os colocar no mercado. O conceito existe há uma década mais só se popularizou desde 2017, quando o meme de um gato se vendeu por 500 mil euros. São o mesmo registo que está a ser usado pelo fundador do Twitter, Jack Dorsey, para leiloar o tweet original que fundou a rede social; ou por quem anda a comprar e vender dezenas de vídeos de afundanços da NBA por milhões de dólares. Tudo isto é o símbolo do capital especulativo no seu pior: sem a criação de qualquer valor social, promovem-se transações financeiras que alimentam uma estrutura altamente danosa para todo o planeta.

A blockchain é hoje o maior expoente de uma evolução tecnológica virada para a destruição do planeta. Em vez de utilizarmos o conhecimento para garantir a sustentabilidade, estamos alegremente a utilizar a tecnologia para destruir o mundo em que vivemos. E sim, é certo que nem todas as soluções algorítmicas de que depende a blockchain são destrutivas. Mas todo o conceito da bitcoin e do seu capital especulativo são demasiado danosos para poderem continuar a existir.

Após a destruição deste modelo, podemos aproveitar o conceito blockchain para continuar a descentralizar a confiança e garantir a sustentabilidade de soluções que promovem a privacidade – e melhorar muitos sistemas que bem precisam de uma solução destas. Isso será possível com o desenvolvimento de soluções que privilegiem o custo ambiental – e que o incorporem por natureza na sua estrutura. Mas, enquanto este sistema for dominante, o incentivo para a sua substituição simplesmente não está lá.

Um dos maiores concorrentes da Bitcoin, a Etherum, planeia mudar o sistema para um modelo menos dependente do elevado consumo energético, mas não tem data anunciada para o fazer, porque não há incentivo. Esse incentivo só virá da destruição da bitcoin e da responsabilização da blockchain. E, isso sim, é fundamental para que o planeta continue a existir.

Ler mais: Todo o conceito de base blockchain é interessante quanto baste; mas é na Bitcoin que melhor se expressa a ideologia anti-sistema que preside à mesma. O livro Digital Cash conta algumas histórias que se escondem por detrás da criação da ideia das criptomoedas.

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