Estimular a saída de jovens e atrai-los fortalece Portugal

A saída de jovens portugueses para fora é um fator de desenvolvimento individual importante que deve ser estimulado mas acompanhado de incentivos atraentes e bem comunicados ao regresso a Portugal.

“Portugal tem uma taxa de emigração das mais elevadas da Europa e uma das mais altas do mundo” avançava um semanário há uns dias, tendo em conta que “mais de 850 mil jovens entre os 15 e os 39 anos vivem fora do País, 30% dos nascidos em Portugal no período”, citando dados do Observatório da Emigração. Muitos meios de comunicação fizeram eco da notícia e vários partidos ergueram-se alarmados a gritar que estamos a perder a geração mais bem preparada, que investimos neles fortunas e agora vão criar riqueza fora, por isso que temos de os reter e que a sangria tem de parar e já.

O que se passou com esta notícia é mais uma falácia de tantas que nos têm atirado à cara, a rebaixar Portugal e alarmar as pessoas, uns para agarrar audiência, outros para sugar votos.

Primeiro, é normal termos uma taxa de saída elevada – o grau de preparação de jovens em Portugal é comparativamente superior à potência da economia nacional, em número e qualidade média.

Segundo, a taxa de saída de jovens baixou muito desde 2013 – hoje há mais argumentos para ficar porque se foram desenvolvendo novas oportunidades de emprego e de empreendedorismo – a Fábrica de Unicórnios de Lisboa lançada por Carlos Moedas é um pequeno exemplo.

Terceiro, um jovem tem sempre um espírito de aventura e uma fome de viver, aprender, trabalhar e divertir-se no seio de novas culturas, novos padrões sociais, novas línguas ou novos amigos. Sabem que isso os enriquece como pessoas e profissionais e têm razão. E não é tanto Portugal que não cria as oportunidades para ficarem, é o reconhecimento que os jovens portugueses recebem noutros países porque no quadro dos seus peers europeus têm uma qualidade uma disciplina e uma ambição acima da média. Fui muitos anos Sócio de algumas das maiores consultoras de Alta Direção em Portugal e todos os meses “perdia” um consultor ou um Manager para um escritório da Firma noutro país, e o contrário não acontecia.

Temos assim de ver a saída como parte natural do processo educativo, e isso acontece na generalidade dois países da UE. Estes jovens vão tornar-se pessoas mais confiantes, mais cultas, mais completas e mais felizes. E estão desejosos de sair, têm condições para vencer — e no nosso caso o ADN português não vive sem Mundo, está no nosso sangue não resistir à aventura das novas paragens como tão bem demonstrámos ao longo da nossa História.

Tenho falado de saída e evitado a palavra Emigração. Esta tem uma carga emocional forte em Portugal e aplicado a este caso é injusta, é retorcida, é mais uma acha para o falso alarme que nos querem vender recordando a carga terrível que ficou do êxodo dos anos 60 para França, Suíça, Luxemburgo ou Alemanha. Mas não, aqui não há camponeses incultos e descalços a passar a fronteira na serra à noite com as suas malas de cartão. Há licenciados e doutorados de queixo erguido a começar carreiras auspiciosas em grandes empresas internacionais. Isto é uma saída, não é “Emigração” muito menos um “êxodo”.

Por todas as razões expostas a saída dos jovens não deve ser travada, mas sim incentivada. Mas atenção não podemos ser ingénuos e perder estes jovens, é preciso conseguir que regressem felizes e sua própria vontade. Se os incentivamos a sair do País temos de ter logo nesse momento soluções para os atrair a voltar. Esta consciência existe, as soluções estão pensadas – incentivos fiscais, suporte familiar ou apoio a acesso a habitação – e a sua execução não é impossível nem complexa, basta o que não houve até agora : vontade.

Serviu o que fica dito como um contexto para o que se passa no universo de grupos familiares, onde a aplicação deste tema aos futuros acionistas e líderes da Família é determinante para a sua competitividade e mesmo sobrevivência. Com base em exemplos de empresas que a ARBORIS conhece vemos que há uma grande heterogeneidade de atuação no que toca à exposição internacional da próxima geração por parte dos acionistas no poder.

Muitos grupos familiares perceberam a riqueza que estar fora um tempo, a estudar e a trabalhar, pode trazer aos seus jovens futuros acionistas: vencer no ambiente exigente de uma formação pós-graduação de superior qualidade ou de uma empresa de alto gabarito, criar relações pessoais de diferentes culturas, estar a viver por sua conta e ganhar conhecimento e confiança com uma mente mais aberta. E obviamente têm tudo montado para o regresso, não que seja um dado adquirido, mas irão garantir que as condições para regresso e ingresso no Grupo serão irrecusáveis – o desafio do legado, as condições salariais e a qualidade de vida. Afinal o que pode ser melhor do que viver com a sua jovem família em Portugal?

Mas outros, ou por circunstâncias familiares adversas, por insegurança em perder os filhos ou por uma mentalidade limitada, não oferecem esta oportunidade aos seus futuros acionistas. E o que se passa? Das duas uma — os jovens optam por outra carreira e não querem saber da preservação do legado, ou ficam gestores naturalmente limitados e piores do que se podia contratar no mercado. O mais grave, neste último caso e falo de experiência própria da ARBORIS, é que estes jovens ficam tristes, complexados, menos preparados e isso ressente-se no seu desempenho no Grupo. Todos perdem, isto não devia acontecer, mas acontece.

Em suma, a saída de jovens portugueses para fora durante um tempo é um fator de estímulo e de desenvolvimento individual importante e deve ser incentivado, tendo naturalmente de ser acompanhado de incentivos atraentes e bem comunicados ao seu regresso. Não é intelectualmente honesto nem responsável que os media ou os políticos inibam esta situação virtuosa com argumentos superficiais e sensacionalistas. Se isto é verdade em geral, ainda o é mais nos grupos familiares cujo futuro obviamente se joga na nova geração. Por isso é essencial que ela seja preparada e estimulada com uma rica experiência fora e ter à sua espera uma posição atraente com liberdade para pôr em prática a riqueza que traz consigo.

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