Excesso de conflitos, escassez de fundos

Como País, não podemos deixar cair empresas saudáveis por causa de estrangulamentos de tesouraria assacáveis a atrasos nos pagamentos dos incentivos devidos e prometidos por parte do Estado.

Numa fase em que o mundo se encontra imerso e envolvido numa série de guerras e de conflitos militares de cariz regional e, alguns, com potencial de escalar para uma dimensão mundial, é importante ter se sempre presente a matriz de riscos que uma situação desta natureza tão complexa acarreta para a economia e para o investimento.

Assim sendo, importa que em relação a cada mercado em que se está presente e em relação a cada ativo onde se está investido, se esteja particularmente vigilante no que respeita ao curso dos acontecimentos procurando responder às seguintes interrogações (e evitando ao máximo os “ângulos mortos” no que toca a informação):

Há indícios de que o conflito tende a prolongar se no tempo ou no espaço? Há risco de envolvimento de novos protagonistas? Há possibilidade de serem “acendidos” ainda mais focos de conflito para se cavalgar oportunisticamente uma situação já de si perigosa e volátil? A intensificação do conflito em causa interessa a partes terceiras? As partes beligerantes têm apoio local? As partes envolvidas têm lideranças suficientemente fortes para poderem negociar condições para a resolução, ou pelo menos o congelamento, do conflito? Existe, ou há necessidade, de apoio popular e recursos logísticos e económicos para se prolongar o conflito?

A um nível individual, as empresas devem ainda questionar se se conseguem responsabilizar se pela segurança dos seus quadros no terreno, se as cadeias logísticas permitem-lhes operar em níveis aceitáveis, se existe algum risco reputacional perante os seus diversos stakeholders por continuar a operar nesses mercados, etc.

Das respostas a estas questões, que muitas vezes é difícil ou mesmo impossível obter, dependerão muitas das decisões quanto à manutenção de determinados investimentos em determinados países ou mercados.

Outro aspeto a ter em atenção nestes próximos meses é acompanhar se estamos perante focos de conflito isolados (por maior alinhamento que exista entre intervenientes comuns em alguns desses pontos), ou se estamos a assistir a uma ameaça global e articulada que visa fazer implodir uma determinada ordem mundial em que tem assente a paz (a possível pelo menos, mas mesmo assim e felizmente relativamente generalizada) e o desenvolvimento do mundo nestas décadas.

Se estivermos perante o primeiro cenário, então o ano que nos espera pode acabar melhor do que se inicia, os focos de guerra podem ter soluções autónomas (mesmo que a ritmos diversos e em momentos distintos), e a economia tenderá então a recuperar após esta fase mais aguda.

Uma coisa, porém, é certa: Depois da pandemia e depois do ressurgimento da inflação, o estalar destas guerras (envolvendo beligerantes de calibre muito elevado), vai necessariamente condicionar toda a evolução da economia mundial nos próximos meses obrigando a enormes doses de prudência nas estimativas e de cautela nas decisões.

Passando a um segundo ponto, e como se o anterior não bastasse, as empresas portuguesas têm se queixado quanto a pagamentos de incentivos em atraso sobre os quais não lhes é dada suficiente explicação e muito menos perspetivas, concretas e fiáveis, da respetiva regularização.

Numa fase em que as nossas empresas já vinham sendo confrontadas com desafios muito exigentes e complexos derivados de o mundo e os mercados estarem especialmente voláteis (e depois de elas terem sobrevivido a custo ao enorme esforço que tiveram de fazer durante a pandemia para protegerem o emprego e segurarem as suas encomendas) num enquadramento de falta de investimento público, de falência operacional do Estado, de disparo da inflação e dos custos de produção e financeiros, da falta de uma política nacional para atração e retenção de talento, de uma carga fiscal asfixiante acompanhada por uma burocracia desestimulante, estes estrangulamentos adicionais de tesouraria derivados dos pagamentos no âmbito dos vários Programas de Incentivos são graves, incompreensíveis e inaceitáveis.

Como País, não podemos deixar cair empresas saudáveis (e que geram emprego critico de alto valor acrescentado) por causa de estrangulamentos de tesouraria assacáveis a atrasos nos pagamentos dos incentivos devidos e prometidos por parte do Estado.

Como economia, não podemos deixar morrer, implodir ou descalcificar projetos estratégicos e estruturais por falta de resposta dos Organismos Públicos.

Como europeus, não podemos perder este comboio, único numa geração e para uma geração, por falta de agilidade e de respostas em tempo útil do Estado às empresas e aos investidores.

As empresas não querem nem justificações nem promessas: querem compromissos, execução e resultados. Urgentemente.

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