Fosse uma pessoa, o ChatGPT estava em burnout

Foque-se na respiração e “esteja presente no momento” é a recomendação da IA do chatbot da OpenAI. Um bom conselho para quem lidera pessoas neste “momento”.

Desde que nasceu não tem parado. Escreve ensaios, faz exames de Direito – passa, sem grande brilhantismo – e, pasme-se, o ChatGPT até ajuda os CEO em certas tarefas. O entusiasmo em torno da capacidade do chatbot em responder, de forma quase humana, a uma variedade de perguntas tem sido tanto que um inquérito, junto a 4.500 profissionais nos Estados Unidos, revelou que 27% já o usou no seu trabalho. Marketeers (37%), trabalhadores tech (35%) e consultores (30%) estão entre os que mais recorreram a este poderoso chatbot alimentado pela Inteligência Artificial (IA).

Mais, o inquérito, realizado pela Fishbowl, revela ainda que, pelo menos no que toca ao uso, não há aqui nenhum fosso geracional: Geração Z (29%), Geração X (28%) e Millennials (27%) renderam-se às capacidades do ChatGPT, da OpenAI. Há quem acredite que estamos perante um momento game changer no que toca à IA e ao seu impacto no mundo do trabalho e que muitas funções de ‘colarinho branco’ serão eliminadas com a sua disseminação. Em Davos, Mihir Shukla, CEO e fundador da Automation Anywhere, avançou uma estimativa que dá que pensar: entre 15% a 70% de todo o trabalho que fazemos frente a um computador pode ser automatizado. A concretizar-se esta previsão, o mais certo era ser um qualquer ChatGPT a escrever este artigo, a contratar pessoas ou a geri-las. Mas, desconfio que estamos ainda longe de um momento Skynet. Por agora, o ChatGPT parece mais alguém cheio de afazeres em risco de burnout: “ChatGPT is at capacity right now. Get notified when we are back” (O ChatGPT atingiu a sua capacidade máxima. Seja notificado quando estivermos de volta) foi a resposta obtida sempre que o tentamos usar. Com uma recomendação. “Entretanto, continue a focar-se na sua respiração e esteja presente no momento.”

Do chatbot aguardo ainda a notificação, mas o “presente” que temos pela frente é cheio de desafios, como pode atestar qualquer líder de pessoas que tenta navegar nos mares de instabilidade que todos – com maior ou menor grau – antecipamos para 2023. Depois dos turbulentos anos da pandemia, onde todos os modelos de trabalho foram testados, este talvez seja o ano para a prova dos nove: pôr de parte o que não funcionou, afinar o que funcionou menos bem e estabilizar. Pelo menos, é o que defende José Neves, em entrevista à Pessoas. Para o CEO da Farfetch – unicórnio que adotou um modelo híbrido de trabalho, com 60% em regime remoto –, esta não é a hora de avançar com novas experiências, como a semana de quatro dias de trabalho, cujo piloto promovido pelo Governo arranca em junho em Portugal.

Para mais porque os ventos económicos não trazem boas novas, como nos lembra todos os dias a guerra na Ucrânia, as elevadas taxas de inflação que reduziram fortemente o rendimento dos trabalhadores – levando as empresas a avançar com bónus extraordinários para mitigar esse impacto – e os despedimentos de milhares no setor tech. O inverno chegou mesmo ao setor tecnológico. E a ver vamos se não será o ‘ponta de lança’ do que podemos esperar para o resto da economia.

Perante este cenário, pelas empresas não faltarão muitas contas no Excel para testar a capacidade de até onde podem ir para recrutar o talento de que precisam e para manter as pessoas essenciais ao seu negócio, ajudando-as a surfar esta (nova) onda. E a solução não passa apenas por salários mais elevados e benefícios, passa também por lideranças mais próximas, perto do bater do coração das suas pessoas. Mais humanizadas, portanto. “Precisamos de líderes com uma mentalidade e forma de gerir as equipas e o negócio mais humanizada”, defende Steven Braekeveldt, CEO do grupo Ageas Portugal, em entrevista à Pessoas. E não podia concordar mais. Afinal, se se perder esse foco nas pessoas, corremos o risco de chegarmos ao ponto da IA do ChatGPT: atingirmos a capacidade máxima.

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