
Gerações com futuro: o verdadeiro desafio das empresas familiares
Alinhar a presença de múltiplas gerações exige escuta ativa, respeito pelas diferenças e a criação de espaços de partilha.
Muito se tem escrito sobre as empresas familiares e as famílias empresárias: que são avessas à mudança, conservadoras nas decisões e que resistem a modas e tendências passageiras. Mas quem as conhece por dentro sabe que são, na verdade, laboratórios vivos de inovação, onde se pensa o longo prazo, com os pés bem assentes no presente.
São estas empresas que mais investem, que mais geram emprego, que se comprometem com o país e com a sustentabilidade. A sua força não vem apenas dos números — vem das famílias que as sustentam, das gerações que se sucedem e das pontes que constroem entre o ontem e o amanhã.
O grande desafio hoje nas empresas familiares em Portugal é gerir a convivência de várias gerações. E este não é um tema menor. As novas gerações chegam com expectativas distintas: querem propósito, equilíbrio, agilidade e, muitas vezes, uma redefinição do papel da empresa na sociedade. O risco não está no choque de visões — esse é inevitável e até desejável. O risco está na ausência de estruturas que permitam um diálogo produtivo entre quem chega e quem já cá está.
É aqui que o protocolo familiar assume um papel de enorme valor. Não se trata de um manual de regras fixas, mas de um pacto entre gerações. Define princípios de governação, formas de entrada e saída da empresa, critérios de remuneração ajustados a diferentes fases da vida, e, sobretudo, mecanismos de resolução de conflitos. É um exercício de maturidade coletiva que permite olhar para o negócio com a clareza de quem quer construir — e não apenas usufruir.
Alinhar a presença de múltiplas gerações exige escuta ativa, respeito pelas diferenças e a criação de espaços de partilha. Não podemos pedir aos mais velhos que abandonem a sua visão — afinal, foi ela que trouxe a empresa até aqui. Mas também não podemos pedir aos mais novos que se limitem a repetir modelos ultrapassados. É neste equilíbrio dinâmico que vive o verdadeiro espírito de continuidade.
A coabitação de gerações é uma vantagem competitiva! Traz a sabedoria do tempo e a energia da inovação. A visão de longo prazo e a capacidade de adaptação. A ligação emocional ao passado e a ousadia de reimaginar o futuro. Remunerar essas diferenças, reconhecendo estágios distintos de contribuição e compromisso, é uma arte. Mas é também uma necessidade para manter a motivação e o alinhamento de todos.
Gerir uma empresa familiar não é gerir um negócio como os outros. É gerir um legado que se recebeu, com a responsabilidade de o entregar, melhorado, a quem vem a seguir. São os D. Quixotes dos tempos modernos que, sem terem de pregar aos moinhos de vento, o fazem todos os dias, entre decisões difíceis e sonhos persistentes. E é por isso que, para as empresas familiares, construir o futuro é mais do que um objetivo: é um desígnio.
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