Iliteracia e Radicalismo Climático. Os Limites da Luta Pelo Planeta

  • Ricardo Nunes
  • 19 Outubro 2023

Nas últimas semanas em Portugal, testemunhámos a face sombria da luta pelo planeta. Exemplos claros de ações que prejudicam a sociedade, sem nada acrescentarem à luta por um planeta melhor.

Os movimentos de reivindicação por um planeta mais sustentável, liderados em grande parte por jovens ativistas, ganharam destaque nas últimas décadas. Inicialmente, essas manifestações surgiram de forma espontânea e desorganizada, mas ao longo do tempo, entidades mais bem organizadas, com acesso a maior financiamento, como o Greenpeace e a WWF passaram a liderar essas iniciativas.

Em 2018, o movimento Fridays For Future, liderado por Greta Thunberg, financiado por grupos económicos importantes e com o apoio de influentes entidades políticas e sociais, desempenhou um papel crucial na luta por um planeta mais sustentável (e habitável). Essas iniciativas, que contam com ampla cobertura mediática, são essenciais para consciencializar os decisores políticos sobre as preocupações e exigências da juventude.

No entanto, existe um limite fundamental, e até é simples, citando o filósofo inglês Herbert Spencer: “A liberdade de cada indivíduo termina onde começa a liberdade do outro“.

Esse princípio é a base das sociedades modernas e desenvolvidas, permitindo a coexistência de diferentes culturas e nações num planeta que pertence a todos nós. Numa análise simplista, poder-se-ia até dizer que muitos conflitos recentes têm a sua origem na violação desse princípio de liberdade.

Infelizmente, nas últimas semanas em Portugal, testemunhámos a face sombria da luta pelo planeta e pelo clima. Ataques com tinta a ministros do governo, bloqueios de estradas que afetaram a rotina de milhares de pessoas, vandalismo em obras de arte e em edifícios de empresas de energia que são garante de milhares de empregos, são exemplos claros de ações que prejudicam a sociedade, sem nada acrescentarem à luta por um planeta melhor.

Pelo contrário, este radicalismo e vandalismo ideológico, apenas faz com que a população e a sociedade civil se afastem cada vez mais das reivindicações destas associações. Não perceber isto, é não perceber nada.

O Estado, como guardião dos direitos e garantias dos cidadãos, deve agir com firmeza e “mão pesada” contra qualquer ação que ameace esses direitos, ou corremos o risco de banalizá-los.

E já que falamos em compreender, existem algumas particularidades que devem ser explicadas pelas entidades competentes, de forma pedagógica, mas também preventiva, a todos aqueles que de forma radical tentam impor a sua verdade:

  • Ao dia de hoje, a nossa sociedade não pode depender exclusivamente de energias renováveis devido à complexidade técnica e logística envolvida. A transição energética levará anos para ser efetivamente implementada.
  • O gás satural, pelas suas características na segurança de abastecimento e na dificuldade de substituição, será uma tecnologia de transição necessária e indispensável por muitos anos no mix energético.
  • Uma transição desta magnitude, terá sempre um custo elevado (seja direto ou indireto) para todos os consumidores e/ou contribuintes. A partir de certa altura, alguns destes custos poderão revelar-se um investimento, mas com recursos financeiros limitados, é necessário garantirmos que as famílias e as empresas chegam “vivas” a 2050.
  • As tecnologias renováveis precisam de tempo para atingir um estado de maturidade e de desenvolvimento, que garanta plena segurança de abastecimento e menor volatilidade, e assim possamos acelerar na sua introdução como é desejo de todos.
  • O sucesso da transição energética depende também que a eletrificação desempenhe um papel mais relevante nos próximos anos, e esse é um desafio considerável.
  • Diferentes países terão abordagens e ritmos distintos na transição energética, devido a diferenças geográficas, financeiras, logísticas e operacionais. Mesmo dentro da União Europeia, haverá caminhos diferentes a ser percorridos por cada país.

Todos os radicalismos são maus conselheiros sejam eles de origem verde, preto ou castanho. As grandes transições devem ser feitas com critério técnico associado, e não adianta invadir a liberdade dos outros, porque neste processo, não ganha quem grita mais alto.

No final devemos unir-nos todos pelo maior desafio das nossas vidas, que é deixar um planeta melhor do que nos deixaram a nós, mas devemos fazê-lo sempre, mas sempre como uma sociedade organizada, respeitadora e consciente que os tempos contam e devem ser respeitados.

(Este espaço de opinião é pessoal, não vinculando as entidades com as quais o autor tem relação profissional ou associativa)

  • Ricardo Nunes
  • Economista, Chief Strategy Officer do OMIP, membro do Observatório de Energia da Sedes

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