
Kite Masai
Qual é coisa, qual é ela?
Usa sandálias de plástico dos anos oitenta, uma faca de mato, óculos de sol fluorescentes, perneiras de missanga, panos à Tarzan, um pau comprido para se encostar quando está de pé e um saco de lavandaria com bugiganga variada para vender a quem não quer comprar?
Dou umas pistas. Não caçam leões, caçam turistas. Não saltam, perseguem, não são pastores, são vendedores, não são demais, são demasiados… e são Masai!
Oh doce ignorância. Aqueles postais africanos pintados, onde épicos e arrogantes guerreiros faziam cara seria em raras aparições. Em Zanzibar é impossível vir à praia e não dar um bacalhau a pelo menos dez Masai. É o ritual de passagem do viajante. Não é ver quem salta mais alto. Mas ver quem foge mais rápido.
E assim aprendemos a falar Swahili. Que é como quem diz, a responder à lenga lenga “Mambo, Jambo, Karibu, Rafiki, Hakuna Matata. See shop?” Com “Hapana Assante” (Não obrigada). Que pela reacção insistente deles, este “não obrigada” deve soar mais a “por favor obriga-me” que a “Nem obrigada!”.
Tirando o factor comercial. Os Masai são lindos. Altos, esguios e sorridentes, cheios de nomes hiper-Masai que já aprendi a reconhecer pela cor dos óculos. O Daniel é amarelo, o Beneth é cor-de-rosa, o Laurent verde alface, o Thomas azul-cueca. São conhecidos como Beach Boys e surf não é com eles.
Zanzibar está no Top 10 dos destinos de Lua-de-Mar. É aqui que as noivas vêm mostrar os últimos kilos perdidos, antes de os ganharem em dobro. Também é aqui que os noivos aprendem que não é fácil fotografar as noivas em bikini por mais magras que estejam. Há praias para quem quer ver o nascer-do-sol, Paje, Jambiani, Bwejuu e para quem quer ver o pôr do sol Kendwa e Nungwi.
De resto, tudo é feito para turista gastar. Ali está a mesa posta dentro de água para comer a lagosta suada, além o safari aquático para abusar dos golfinhos, acolá a volta de barco à vela tradicional (Dhow), aqui um restaurante inteiro dentro de água, amanhã a aula de Kite Surf, depois o mergulho nos corais, por fim o cocktail ao pôr-do-sol, sem esquecer as massagens a quatro mãos e os cocos fresquinhos para beber enquanto se tira uma fotografia.
Ai, se ao menos o meu namorado não estivesse farto de me tirar fotografias. E agora? A quem é que eu peço?
“Hei, pretty lady, mambo, jambo, its me Daniel-Masai, now u see shop?”
“No Daniel, not again… I don’t wanna see shop.” I want to take a picture. “Hey, do you take pictures?” Como é que se dizia? Ah, piga picha?
E o Daniel-Masai afasta o escudinho de pele de Impala e saca de um I-Phone de última geração. “Hakuna Matata”, diz ele todo sorridente.
Os amiguinhos-masai aproximam-se de mim e fazem pose de guerreiro. “Oh meu deus, nem acredito que estou a ser iniciada no ritual ancestral da tomada da fotografia”.
O Daniel diz “olha o passarinho” em Swahili e os outros dois começam aos saltinhos, “yo, yo, yo” dizem eles e eu começo a acompanhar, bem concentrada. Eles olham para mim e desatam à gargalhada “Estes brancos devem ser loucos”. E click! Fiquei com esta cara.
Pelos vistos não é só no Quénia que o Masai mara!
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