
Lições do segundo leilão do Banco Europeu de Hidrogénio e a nova geração de leilões
O segundo leilão (IF24) confirma a crescente competitividade do mercado europeu de hidrogénio e apresenta dados particularmente interessantes em torno da aceleração da transformação industrial.
Os resultados do segundo leilão do Banco Europeu de Hidrogénio (IF24), divulgados no passado mês de maio, marcam mais um momento decisivo no esforço da União Europeia para concretizar a respetiva estratégia em torno do vetor Hidrogénio.
Com 992 milhões de euros atribuídos a 15 projetos, em todo o Espaço Económico Europeu, tendo por base verbas provenientes do Sistema de Comércio de Licenças de Emissão da UE (CELE), o 2.º Leilão (IF24) confirma a crescente competitividade do mercado europeu de Hidrogénio, enquanto apresenta dados particularmente interessantes em torno da aceleração da transformação industrial europeia.
Pricing e Maturidade de Mercado
No 2.º Leilão (IF24), os promotores solicitaram prémios fixos entre 0,20€ e 0,60€ por kg de hidrogénio renovável, com a maioria das propostas abaixo dos 0,50€/kg.
Este intervalo de preços reflete de perto os resultados do leilão-piloto do ano passado (IF23), onde as propostas vencedoras variaram entre 0,37€ e 0,48€/kg.
No segmento marítimo, os prémios situaram-se entre 0,45€ e 1,88€/kg, com os três projetos vencedores localizados na Noruega.
Independentemente de os valores em causa refletirem, seguramente, a ancoragem dos respetivos promotores a outro tipo de apoios (compatíveis com o regime de Auxílios de Estado) ou referenciais de mercado, não deixa de estar em causa um sinal particularmente positivo sobre a evolução da maturidade de mercado e, não menos importante, dos atuais níveis de aversão ao risco.
De todo o modo, convirá não ignorar os efeitos que, de entre outros, a inflação nas cadeias de abastecimento ou os atrasos em licenciamentos poderão ter para o alcance deste tipo de decisões de investimento.
Escala, Impacto e Estratégia Industrial
Em conjunto, os projetos selecionados no 2.º Leilão (IF24) pretendem produzir 2,2 milhões de toneladas de hidrogénio renovável ao longo de dez anos, evitando a emissão de aproximadamente 15 milhões de toneladas de CO₂.
De acordo com dados da Comissão Europeia, num cenário-base em que todos os projetos elegíveis atinjam a decisão final de investimento, a capacidade eletrolítica instalada na Europa poderá praticamente duplicar, passando de 2,7 GW para 5 GW – um passo muito significativo rumo à meta da UE de aproximadamente 20 milhões de toneladas de hidrogénio renovável consumido até 2030 (mesmo considerando que cerca de metade poderá ter por base importações).
Mais uma vez, olhando para os resultados do 2.ª Leilão (IF24), constata-se que a forte concorrência induziu a agressividade nos preços, reforçando a expectativa de que os consumidores finais (bem como os demais elementos da cadeia de valor) assumam cada vez mais uma expectativa de repartição de custos – como é, de alguma forma, preconizado por instrumentos como a Diretiva Europeia das Energias Renováveis (RED III).
Perspetivas Futuras: IF25 e a Nova Geração de Leilões
O próximo leilão (IF25), anunciado no âmbito do Clean Industrial Deal da UE, representa a evolução seguinte dos mecanismos de apoio ao hidrogénio na União Europeia.
Enquanto o IF24 se concentrou na produção de hidrogénio renovável – tal como já havia sucedido com o Leilão-Piloto (IF23) – o IF25 irá alargar o âmbito do Banco Europeu de Hidrogénio, incluindo um “Leilão de Calor” dedicado, com um orçamento de até 1000 milhões de Euros.
Este novo Leilão (IF25) tem por objeto a descarbonização dos processos industriais ancorados em calor – um dos setores mais difíceis de descarbonizar – apoiando, em especial, tecnologias como bombas de calor, caldeiras elétricas, aquecimento por resistência e indução, bem como soluções de calor renovável, como solar térmico e geotermia.
As lições do 2.ª Leilão do Banco Europeu de Hidrogénio (IF24) – forte disciplina de custos e agressividade de pricing, enfoque industrial e maior alinhamento político-regulatório – são sinais encorajadores de que a União Europeia está no caminho certo para acelerar a implementação de tecnologias de baixo carbono e progredir, de forma paulatina e segura, para uma posição de relevo na economia global do Hidrogénio.
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