Editorial

O mundo está a mudar. Outra vez

Perante a dimensão da crise de saúde pública e as suas consequências económicas e financeiras, a resposta precisa de ser absoluta. Aprendemos alguma coisa com a crise de 2008?

24 horas é uma eternidade, sobretudo quando o que está em causa é um problema de saúde pública com a gravidade daquele que mundo enfrenta hoje, o novo coronavírus Covid-19, e o risco de saúde pública e os efeitos económicos e financeiro mais graves do que aqueles que se viveram com a falência do Lehman Brothers se não houver uma resposta decisiva dos poderes públicos.

Quando o euro estava à beira do precipício, o presidente do BCE salvou-o com uma declaração, a de que o banco central faria tudo o que fosse preciso para salvaguardar a moeda única. Mas na altura, do outro lado, estavam investidores racionais, que, perante essa declaração, recuaram. Agora, o novo coronavírus Covid-19 não quer saber de declarações, não ouve nem fala, passa de pessoa para pessoa de uma forma acelerada. E por isso desta vez não chegam palavras para evitar um caos global, idêntico àquele que se vive, por estes dias, em Itália, um país fechado para obras. Já morreram mais de 600 pessoas, já sabemos todos os efeitos de um surto descontrolado.

Do ponto de vista das medidas de contenção, já há informação suficiente, e riscos suficientemente espalhados, para a tomada de decisões drásticas, como a antecipação das férias escolares, por exemplo.

Como escreve o Ricardo Arroja no ECO, que pode ler aqui na íntegra, não sei se já estaremos mesmo a correr atrás do vírus ou a fugir dele. Mas aquele cenário de um milhão de portugueses contaminado pelo novo coronavírus começa a ser mais realista do que parecia, as probabilidades de isso vir mesmo a acontecer aumentam a cada 24 horas. É por isso que, como também escreve Ricardo Santos aqui no ECO, é preciso olhar para isto como um período de guerra, e atuar em conformidade. Mesmo sendo eu, por princípio e feitio, contra medidas de limitação da liberdade de forma coerciva. Sim, é um dilema moral ao qual, perante a realidade, não consigo responder com um “sim” ou um “não”.

Desta vez, ao contrário de 2008, não há falta de liquidez nos mercados, por isso, a resposta a esta crise de saúde pública está mais nas mãos dos Governos e menos das dos bancos centrais (embora esta manhã o Banco de Inglaterra tenha seguido a Fed e baixou os juros em 50 pontos base). O que os bancos centrais podem fazer, e o BCE em particular, é outro tipo de intervenção, regulatório, que permita que os bancos concedam moratórias aos clientes em dificuldade sem que isso afete os rácios de capital, ou a necessidade de reforço do capital por aumento do malparado. Já não seria pouco.

Do lado dos Governos, quais devem ser as prioridades? Investir nos sistema de saúde para conter e combater o coronavírus, por um lado, e impedir que um problema que é conjuntural se transforme num problema estrutural, por exemplo através de apoios à tesouraria e a flexibilidade laboral (o que está a ser feito em Portugal). E à medida que as horas passam, e os riscos se agravam, é possível pensar em outras soluções, igualmente drásticas, à medida dos tempos que vivemos: O Governo pode suspender — não é perdoar — os pagamentos, até parcialmente, de contribuições fiscais e sociais das empresas.

Última nota (desconfio que amanhã haverá mais): Cada país pode e deve fazer por si, mas esta crise exige uma resposta global, e coordenada. No caso europeu, no mínimo ao nível da União Europeia, e mais cedo do que tarde.

“Assim, se em 2010 o mundo mudou, e houve imaginação suficiente para impedir a desagregação do euro, porque não há agora a mesma imaginação para reduzir ao máximo as consequências de uma crise como esta? Quantas mais semanas terão que passar para o mundo (voltar a) mudar?”, questiona Ricardo Santos aqui no ECO. Eu também.

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