O que 2022 nos ensinou em relação à energia (e ao clima)

  • Jean-Pascal Tricoire
  • 11 Janeiro 2023

55% das transformações necessárias para atingir os nossos objetivos de neutralidade carbónica passam por mudarmos a forma como utilizamos a energia – o lado da procura da equação energética.

O ano de 2022 ficará registado nos livros de história como um dos mais turbulentos em
várias décadas. Tendo como cenário alguns dos piores eventos climáticos de sempre –
ondas de calor extremas em toda a Europa, o rio Yangtze seco na China, inundações
catastróficas no Paquistão… –, as economias e sociedades em todo o mundo também
enfrentaram perturbações geopolíticas dolorosas e uma crise energética que fez disparar os preços e expôs as dependências da oferta.

No entanto, para quem gosta de ver o copo meio cheio, 2022 também será lembrado como um ponto de viragem, porque a principal causa destas múltiplas crises – principalmente as do clima e de energia – é a mesma: um modelo energético insustentável que depende
fortemente de fontes de energia densas em carbono, como gás, carvão e petróleo, e um
abastecimento limitado por parte de um número reduzido de fornecedores, empurrando os preços da energia até um ponto de sufoco da economia.

Isto significa que a solução também é a mesma: diversificar e descarbonizar as fontes de
energia e capacitar-nos a todos para produzirmos e gerirmos melhor a energia de que
precisamos. O objetivo a médio prazo de alcançar a neutralidade carbónica para combater
as alterações climáticas está totalmente alinhado com o objetivo a curto prazo de conseguir segurança energética.

Tornar as dificuldades de 2022 num catalisador de mudanças positivas

Os eventos de 2022 causaram dor incalculável a milhões de pessoas em todo o mundo,
mas também criaram uma oportunidade que não podemos perder: a de enfrentar as crises
energética e climática em simultâneo.

À medida que os preços da energia dispararam, o “business case” para investir em
tecnologias de baixo carbono nunca foi tão importante, e o retorno nunca foi tão rápido.

Em paralelo, os danos causados ao nosso meio ambiente estão a tornar-se irreparáveis.
Precisamos de criar um novo futuro energético que nos permita prosperar – tanto às
pessoas, como ao planeta.

É necessária uma enorme aceleração no lado da procura da equação energética
Então, o que devemos fazer?

As manchetes dos meios de comunicação e as discussões sobre transição energética em
mesas redondas tendem a focar-se no fornecimento de energia – ou seja, em eliminar
gradualmente a dependência excessiva de combustíveis fósseis e construir mais turbinas
eólicas ou parques solares.

Isto é importante, mas é apenas parte da história. A outra parte tem a ver com a forma
como consumimos energia. De acordo com o Schneider Electric Sustainability Research
Institute, 55% das transformações necessárias para atingir os nossos objetivos de
neutralidade carbónica passam por mudarmos a forma como utilizamos a energia – o lado
da procura da equação energética.

Isto relaciona-se com a eletrificação e a eficiência energética, de forma a reduzir a quantidade de energia que utilizamos ou desperdiçamos. Abordar a questão da eficiência é realmente incontornável – mas esse caminho precisa de começar com os dados. Ao conectarmos tudo o que utiliza energia, desde a iluminação nos nossos prédios de escritórios até às máquinas nas nossas fábricas e os aparelhos de ar condicionado nas nossas casas, podemos medir quanta energia é consumida, quando e onde. Combinar essas informações em camadas com software, Inteligência Artificial (IA) e
análise de dados permite-nos controlar e adaptar a nossa utilização para a máxima
eficiência, diminuindo a procura de energia – em até 30%, em alguns casos.

A outra componente crucial é a eletrificação: é necessário eletrificar a forma como
conduzimos, cozinhamos e aquecemos os nossos edifícios. Substituir o aquecimento a gás
e os carros com motor de combustão por bombas de calor elétricas e veículos elétricos irá
melhorar enormemente a eficiência energética, bem como reduzir as emissões de CO2.

Por outro lado, temos também de olhar para a forma como geramos eletricidade – e este é
um ponto no qual precisamos de ser realistas. Embora a participação das energias
renováveis no mix energético esteja a aumentar rapidamente, os combustíveis fósseis vão
continuar a ser a sua fatia mais relevante durante algum tempo. Não é, simplesmente,
possível abandonar o carvão, o petróleo e o gás da noite para o dia, ou mesmo a médio
prazo.

Podemos, no entanto, trabalhar para os tornar mais limpos – reduzindo o desperdício e
aumentando a eficiência em toda a cadeia de abastecimento, produção e transmissão.

Também podemos mobilizar muito mais pessoas e capacitá-las para tirar maior partido de
tecnologias locais descentralizadas de energia verde, como painéis solares nos telhados,
microgrids ou soluções personalizadas, como armazenar o excesso de calor de um edifício,
resultante dos seus processos de refrigeração, para utilização posterior.

As moradias individuais ou prédios comerciais podem gerar a sua própria eletricidade e
escolher o que fazer com ela: carregar os veículos elétricos ou alimentar a sua utilização
energética, armazená-la para um dia nublado, vendê-la a um vizinho ou à rede elétrica.

Isto contribui para uma maior independência energética também a nível local.
É tempo de acelerar o caminho para um novo cenário de energia. Em conjunto, estas transformação de maior ou menor dimensão podem criar um novo panorama energético – mais digital e elétrico, para maiores eficiência, fiabilidade e resiliência perante o clima externo e os choques geopolíticos como os que vimos em 2022. Acima de tudo, é importante saber que muitas destas ações podem ser levadas a cabo agora mesmo, com as tecnologias que já existem.

É preciso muita gente para isto acontecer; não está apenas nas mãos do setor público e
dos decisores políticos, mas também – de forma crítica – nas das pessoas comuns e das
empresas, grandes e pequenas. Isto não vai acontecer de um dia para o outro; contudo,
quando 2022 termina e 2023 começa, uma coisa é clara: a necessidade de uma ação
rápida e determinada na descarbonização e na segurança energética nunca foi tão grande.
O racional e a justificação de negócios para a mudança também são mais atraentes do que
nunca, porque as ferramentas que podemos implementar para reforçar a nossa segurança
energética e enfrentar as mudanças climáticas são as mesmas. E colocam ao nosso
alcance um futuro em que cada uma das 8 mil milhões de pessoas na Terra possa ter
acesso a energia fiável, acessível, limpa e segura.

  • Jean-Pascal Tricoire
  • CEO & Chairman da Schneider Electric

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