
O que está a revolucionar o emprego na logística e transporte?
A digitalização, a sustentabilidade e a flexibilidade laboral são alguns dos fatores que estão a redefinir as práticas tradicionais.
O setor da logística e dos transportes está a atravessar uma transformação significativa ao nível da dimensão dos Recursos Humanos (RH), impulsionada por novas tendências que moldam a atração, retenção e gestão do talento. A digitalização, a sustentabilidade e a flexibilidade laboral são alguns dos fatores que estão a redefinir as práticas tradicionais, exigindo às empresas uma maior adaptação para permanecerem competitivas num mercado cada vez mais exigente, onde as expectativas dos trabalhadores são também cada vez mais elevadas. Olhemos para cada um deles.
Começando pela digitalização e pela automação, estes representam dois dos principais motores desta mudança de paradigma. A implementação da inteligência artificial e análise de dados tem vindo a otimizar os processos logísticos, tornando essencial a formação contínua dos colaboradores, para que se adaptem às novas tecnologias. De acordo com o estudo “Workforce of the Future 2024” da Adecco, apenas 14% dos profissionais portugueses receberam formação sobre a aplicação da inteligência artificial no trabalho, face a 25% a nível global, e apenas 3% estão tecnicamente preparados para prosperar num mercado automatizado – um dado que revela uma lacuna preocupante e um caminho claro a seguir.
Paralelamente, a sustentabilidade ganhou também uma grande relevância no campo dos RH, com os trabalhadores e potenciais candidatos a valorizarem cada vez mais empresas que adotam práticas ambientais e sociais responsáveis. Com a União Europeia a estabelecer metas ambiciosas para a neutralidade carbónica até 2050, as empresas de logística estão a adaptar a sua atividade, através da otimização de rotas para reduzir emissões e da utilização de veículos elétricos (só para dar alguns).
Mas para conseguirem estar à altura das expectativas do setor, sobretudo dos possíveis talentos, esse compromisso tem de estar na génese daquilo que a empresa é, daquilo que representa e, no final do dia, daquilo que faz. Isto, claro, não apenas na ótica ambiental, mas também na dimensão social e de governance. A componente social exige, hoje, mais do que o cumprimento mínimo legal.
Políticas de inclusão, igualdade salarial, segurança no trabalho e conciliação entre vida pessoal e profissional são hoje fatores-chave para uma cultura organizacional atrativa. A governance, por sua vez, exige estruturas éticas, transparentes e responsáveis. As empresas que apostam em códigos de conduta, em lideranças com responsabilização e em práticas anticorrupção, estão mais bem posicionadas para atrair os melhores profissionais. Em conjunto, estes pilares ESG (ambiental, social e de governance) são hoje um fator competitivo incontornável.
Não obstante este cenário potencialmente favorável, existem ainda alguns desafios a ter em conta, tais como a flexibilidade laboral, que se tem tornado um fator determinante na retenção de talentos. Embora a maioria das funções no setor exija trabalho físico e presencial, para posições administrativas a possibilidade de horários ajustáveis e modelos híbridos de trabalho pode ser um fator diferenciador na atração de profissionais. Adicionalmente, o bem-estar dos colaboradores está a ganhar ainda mais protagonismo, com um número crescente de iniciativas focadas na saúde física e mental, reconhecendo o impacto direto na produtividade e satisfação no trabalho.
De acordo com o estudo “Escassez de Talento 2024” da ManpowerGroup, 81% dos empregadores portugueses enfrentam dificuldades em contratar trabalhadores adequados, colocando Portugal como o quinto país do mundo com mais dificuldades em recrutar. Esta escassez é particularmente notória em funções do setor logístico, pois este crescimento ao ser acompanhado pela disponibilidade de profissionais qualificados cria um desfasamento entre a procura e a oferta de trabalho.
A crescente dificuldade em atrair e reter talentos tem levado as empresas a reestruturarem as suas estratégias de recrutamento, investindo em formação, employer branding e políticas mais inclusivas e flexíveis. O trabalho físico e os horários exigentes afastam muitos candidatos, sobretudo jovens qualificados que procuram carreiras menos desgastantes, uma realidade que tem sido agravada por uma menor disponibilidade de trabalhadores, como pela concorrência de outros setores com melhores condições de trabalho.
Sem esquecer que este ponto se torna ainda mais evidente em períodos sazonais, como no Natal e Black Friday, onde a necessidade de reforço da equipa aumenta significativamente. A contratação de trabalhadores temporários exige processos de recrutamento ágeis e eficientes, além de programas de formação que garantam uma rápida adaptação às funções. Nessa medida, criar oportunidades de progressão profissional para estes colaboradores pode ser uma solução para minimizar o impacto da rotatividade, além de assegurar às empresas um banco de talentos pronto para futuras necessidades.
O futuro dos RH no setor da logística depende da capacidade das empresas de conseguir equilibrar inovação e gestão estratégica de pessoas. A adoção de novas tecnologias, a implementação de práticas sustentáveis e a promoção de um ambiente de trabalho mais flexível e inclusivo são fatores essenciais para responder aos desafios da escassez de talentos. As organizações que conseguirem alinhar estas mudanças com uma política eficaz de valorização dos colaboradores estarão mais bem posicionadas para garantir um crescimento sustentável e uma força de trabalho mais motivada e produtiva.
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