Os BRICs, a China e a escassez de talento

Todos os meses destacarei três assuntos para escalpelizar pela via de um rol sintético de questões que me ocorrem colocar ao observar a natureza da sua dinâmica e o sentido da sua evolução.

A convite do António Costa e do ECO, passo a partilhar mensalmente umas breves notas sobre alguns temas geopolíticos e geoeconómicos que me parece ser importante os decisores (empresariais e políticos) terem presente na sua busca permanente, e cada vez mais complexa, de tentarem descodificar o presente e de anteciparem o futuro.

Com esse escopo em mente, partilharei assim e nesta coluna algumas breves notas sobre as dinâmicas e os vetores estratégicos que penso estarem a influenciar o andamento da economia ou que têm o potencial de a impactar.

Como não pretendo ter respostas para as complexas questões de natureza sistémica que se levantam à economia global nestes tempos tão exigentes quanto voláteis, abordarei os tópicos escolhidos mensalmente pelo prisma das interrogações que os mesmos nos levantam deixando as respostas ao próprio futuro.

Todos os meses destacarei, assim, três assuntos para escalpelizar pela via de um rol sintético de questões que me ocorrem colocar ao observar a natureza da sua dinâmica e o sentido da sua evolução.

Começo com os seguintes macro temas para os quais me parece importante tentarmos interpretar o seu sentido e procurarmos estimar o seu alcance: O redesenho dos BRICs, o abrandamento da China e a escassez de Talento.

1. O redesenho dos BRIC’s

Quanto ao redesenho do perímetro dos BRICs (pela via do seu alargamento), vai ser certamente interessante de perscrutar nos próximos anos alguns aspetos vitais desta recente e interessante alteração, nomeadamente:

Se os seus Membros conseguirão criar de facto uma agenda coletiva para além do alinhamento dos seus interesses individuais, ou seja, se estaremos perante uma alavanca estratégica de afirmação do Sul Global com algumas potências do hemisfério norte ou o que os move é mais uma agenda anti ocidental, e nomeadamente anti americana, caso em que o interesse geral mundial estaria comprometido.

Também será interessante de se observar quão longe conseguirá ir a suposta “infraestruturação institucional” desta nova realidade: terá folego para implementar uma moeda própria como pensam, e desejam alguns (e que me parece claramente utópico)? Terá balanço para capacitar (e imunizar) um Banco de Desenvolvimento robusto? Terá força para levantar economias com dimensão tão diversa e em fases do seu desenvolvimento tão distintas? Terá capacidade para conciliar regimes políticos de natureza tão díspar e mesmo antagónica que por isso encerram rivalidades tão complexas no seu seio?

Aguardemos.

2. O abrandamento da China

Quanto à China, todo o mundo observa com enorme atenção e equivalente preocupação o andamento da sua economia que parece estar a complicar-se. Assim, nos próximos meses será critico tentar aquilatar o seguinte:

Será que o impacto da crise no mercado imobiliário chinês (curioso como a China na última década se transfigurou de uma economia mais virada para o setor industrial e para a frente exportadora num modelo mais assente no setor da construção e mais focado no mercado interno) se vai acentuar ou diluir? E, no caso de se agravar, irá contaminar o resto da economia? Qual será o impacto de tal crise nos grandes grupos privados chineses e na classe média que começou a despontar estes anos? Como se irá compensar a quebra nos mercados tradicionais de exportação dos produtos chineses numa fase de agravamento das tensões entre as duas hiperpotências com a desvitalização do investimento externo (nomeadamente o que era assegurado pelas empresas americanas e que tinha particular valor acrescentado em termos financeiros e na inovação tecnológica? Por fim e do ponto de vista demográfico, como pensará a China assegurar absorver a combinação do abrandamento do crescimento da sua população jovem com a perda de competitividade à medida que se afirma e reforça uma classe média nomeadamente de caráter urbano?

Acompanhemos.

3. A escassez de Talento

Por fim, deixo uma terceira nota neste primeiro artigo desta série sobre um tema que preocupa a esmagadora maioria das empresas que têm atividade em Portugal: A escassez de Talento.

Parece me indiscutível, e generalizado, o naipe de preocupações mais recorrentes das empresas quanto ao nosso País: fiscalidade excessiva, burocracia teimosa, produtividade e competitividade insuficientes, escala ainda tímida do nosso tecido empresarial, falta de mais grandes empresas e de maiores grupos económicos, justiça lenta, divida excessiva, demora na implementação de reformas estruturais, degradação de algum serviço público, desqualificação da Administração Pública, desconfiança escusada em relação ao setor privado, contaminação ideológica da agenda governamental, atraso no lançamento de investimentos estruturais, etc.

Há, no entanto, um aspeto particular que atravessa todos os setores, afeta quase todas as empresas e que preocupa a esmagadora parte dos decisores: a escassez de Talento.

Parece me, assim, essencial mobilizar nos, enquanto sociedade e enquanto País, para percebermos como podemos, em tempo útil, gerar e conservar mais Talento (sem o qual não é possível gerar crescimento sustentável e a respetiva mobilidade social).

Seria assim importante tanto os responsáveis políticos, como os associativos e empresariais, terem respostas, articuladas e sintonizadas de preferência, para a maneira como nos propomos aumentar a “proposta de valor” nacional para atrair mais Talento: como é possível dar melhor perspetiva de futuro aos nossos jovens? Como é possível inverter o declínio demográfico? Como é possível pagar melhores salários e cobrar menos impostos? Como é possível oferecer melhores desafios profissionais no comparativo com as alternativas no exterior? Como é possível reforçar a dimensão da empregabilidade na aposta feita nos cursos e na formação que são ministrados quer em sede de sistema de educação quer em âmbito de soluções de qualificação? Como é possível construir uma estratégia nacional de forma estruturada e arrojada para trazer Talento de fora?

Da resposta a estas questões depende muito do nosso futuro.

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