Pacto da Indústria Limpa: uma oportunidade única para as empresas portuguesas

  • Bruno Pereira da Silva
  • 12:04

Este pacto é muito mais do que uma meta ambiental: é uma janela de oportunidade para transformar profundamente o tecido industrial nacional.

A União Europeia lançou o Clean Industrial Deal (Pacto da Indústria Limpa), um plano estratégico para acelerar a descarbonização da indústria europeia e reforçar a sua competitividade a nível global. Para Portugal, este pacto é muito mais do que uma meta ambiental: é uma janela de oportunidade para transformar profundamente o tecido industrial nacional — modernizar processos, reduzir custos energéticos, atrair investimento e tornar-se mais competitivo num mercado cada vez mais exigente.

Um dos grandes entraves ao crescimento da indústria portuguesa tem sido o elevado custo da energia. Este novo plano europeu propõe medidas concretas para reduzir os preços da eletricidade, como a revisão da carga fiscal sobre a energia e a promoção da eletrificação dos processos industriais. Portugal, que já lidera em fontes renováveis como a energia eólica e solar, pode tirar proveito imediato destas reformas, tornando a eletricidade mais acessível às empresas e reduzindo a dependência de combustíveis fósseis.

Além disso, o Pacto da Indústria Limpa prevê a melhoria das infraestruturas energéticas — incluindo armazenamento e distribuição de energia renovável — o que poderá beneficiar diretamente os clusters industriais portugueses, tornando-os mais eficientes e preparados para os desafios futuros.

Com mais de 100 mil milhões de euros previstos em financiamento europeu, o plano aposta na criação de novos instrumentos, como o Banco de Descarbonização Industrial e a expansão do programa InvestEU. No entanto, para que estes recursos tenham impacto real em Portugal, é crucial garantir que cheguem às pequenas e médias empresas (PMEs) — o verdadeiro motor da nossa economia.

E aqui reside um dos principais desafios: sem acesso ágil e descomplicado a este financiamento, muitas empresas correm o risco de ficar para trás na transição energética. É aqui que o Estado português deve atuar com rapidez, criando mecanismos eficazes de canalização de fundos, simplificação de processos e apoio técnico às empresas.

A redução da dependência de matérias-primas críticas e a aposta numa economia circular robusta abrem novas perspetivas para setores tradicionais da indústria portuguesa, como o têxtil, o automóvel, a construção ou as embalagens sustentáveis. Estes setores, ao adaptarem-se às exigências ambientais do mercado europeu, poderão ganhar acesso preferencial a cadeias de fornecimento mais resilientes e sustentáveis.

Além disso, áreas emergentes como o hidrogénio verde e os biopolímeros colocam Portugal numa posição estratégica para desenvolver tecnologias limpas e inovadoras — com impacto direto na criação de valor e no posicionamento do país como hub de inovação sustentável.

Nem tudo será fácil. Indústrias com elevado consumo energético, como o cimento ou o papel, terão de fazer investimentos significativos para reduzir as suas emissões. Isso poderá levar a ajustes no emprego, exigindo políticas públicas de requalificação profissional e reconversão industrial para evitar perdas sociais no processo.

No entanto, o risco de não agir é maior: ficar à margem da transformação verde da economia europeia significa perder competitividade, atratividade para o investimento estrangeiro e acesso a mercados regulados cada vez mais exigentes. Mas, com visão estratégica e ação coordenada entre o Governo, o setor empresarial e os centros de inovação, Portugal tem tudo para se afirmar como um líder europeu na indústria sustentável e competitiva do futuro.

  • Bruno Pereira da Silva
  • Diretor de Relações Públicas e Sustentabilidade, PIEP – Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros

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