Parar de crescer é começar a morrer

A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala.

Quando o autor e pintor norte-americano William S. Burroughs (1914 – 1997) escreveu “When you stop growing you start dying” não fazia ideia do impacto que uma frase tão simples e óbvia viria a ter. Fez nascer um novo conceito que passámos a ouvir sob tantas formas diferentes ao longo da nossa vida e que se assumiu como um dos pilares fundamentais da gestão moderna e da própria macroeconomia. Há dez anos, o então Presidente Executivo da Mota-Engil, Gonçalo Moura Martins, tomava o caso da sua empresa para frisar a importância do crescimento de Portugal: “Se uma empresa não cresce, definha e morre. Acontece o mesmo com as sociedades”.

Da nossa experiência de trabalho diária com líderes de empresas de grande ou média dimensão por todo o País testemunhamos uma opinião unânime: crescer é mais do que um objetivo, é um desígnio essencial. A alternativa de “definhar ou morrer” está completamente imbuída no espírito destes empresários. Não é assim na Alemanha, no Reino Unido ou em Espanha onde encontramos empresas tradicionais florescentes para quem o mercado doméstico chega, mas não é o nosso caso. Em Portugal, quando uma empresa nasce, se especializa numa determinada gama de produtos ou serviços, se desenvolve e cresce de geração em geração mais cedo do que mais tarde bate com a cabeça no teto – numa economia de reduzida dimensão como Portugal a internacionalização é essencial para se continuar a crescer ou mesmo para marcar uma posição e ganhar experiência logo desde o início. De facto, quanto mais cedo se começar mais depressa se ganha o hábito de sair da zona de conforto, se vencem os receios dos riscos naturais que sempre se correm e se aprende a gerir num contexto de maior diversidade, exigência e complexidade.

A bibliografia empresarial de académicos e consultores de todas as cores transborda de regras, princípios e modelos de como internacionalizar. Não é esse o tema que aqui nos interessa mas é necessário clarificar alguns conceitos. Primeiro, a internacionalização de uma empresa assume-se como o processo de expansão do seu negócio para além do mercado doméstico que estabelece a sua presença em mercados internacionais. Segundo, a internacionalização abrange níveis muito diferentes – desde a exportação mais básica através do envio de contentores de produtos sem adaptação ao gosto local até ao estabelecimento (ou compra) de empresas completas ancorando uma presença estrutural com condições para oferecer à casa mãe horizontes de crescimento muito mais sólidos do que a básica exportação de contentores. Contudo, o processo passa regra geral por uma evolução que se faz naturalmente passo a passo – começando pela exportação básica, passando depois à exportação com parceiros locais estabelecidos e produtos customizados, seguida da montagem dum outpost comercial no mercado e, se de facto o potencial o justificar, avançar com a compra ou a montagem de uma empresa integrada própria no mercado.

Portugal é um mercado muito pequeno, mas cada moeda tem um reverso. Possui gerações de empresários ambiciosos e sem medo de correr riscos calculados que criaram grupos empresariais de classe mundial nos seus setores. À laia de visualizarmos melhores práticas, é incontornável citar aqui alguns desses grupos.

NORS, Mota-Engil, Amorim ou Sogrape estão no patamar superior – o mercado doméstico já foi há muito ultrapassado por uma autêntica presença de escala mundial, com destaque para a liderança global da NORS na comercialização de veículos pesados e do Grupo Amorim em produtos de cortiça. Ambos avançaram por crescimento orgânico e só depois inorgânico. O Grupo Jerónimo Martins tem avançado passo a passo de forma segura atingindo uma enorme escala internacional com apenas dois mercados. Luís Simões e Tecnimede atingiram a liderança em mercados selecionados – respetivamente Espanha e Marrocos, em ambos os casos por crescimento orgânico. VICAIMA, ARSOPI, The Navigator Company e Logoplaste são protagonistas nos seus setores em toda a Europa e há muito que exportam mais de 90% da produção.

Não era justo fechar esta lista sem falar no pequeno, mas extraordinário, exemplo da incursão do Mundo Fantástico da Sardinha Portuguesa no coração de Nova Iorque o ano passado, uma jogada de ousadia e visão que dificilmente encontra paralelo em Portugal. Espero que o seu sucesso inspire tantas grandes marcas portuguesas já de si distintivas e cujos acionistas ainda estão com medo de as colocar nas maiores cidades mundiais. São dezenas de marcas, todos sabemos quais são, deixo votos para que a coragem apareça para que o seu potencial se concretize.

A terminar, é devida uma palavra de reconhecimento e estímulo às centenas de médias empresas nacionais completamente ancoradas em mercados externos em setores como têxtil, vestuário, calçado, vidro, moldes ou componentes automóveis. E uma chamada de atenção: A internacionalização só contribui a sério para o fortalecimento, a valorização e a preservação a longo prazo do capital acionista se as empresas tiverem escala. Dos que não se lancem a sério, com coragem, em processos de crescimento ambiciosos não vai rezar a História, nem sequer no mercado doméstico.

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