Quer humanizar os riscos? Deixe de os arrumar em gavetas

  • Francisca Onofre
  • 21 Setembro 2023

Se continuarmos a olhar os riscos climáticos de modo segmentado, o mapeamento dos riscos pode ficar aquém da realidade.

Hoje, cada vez mais, falamos de riscos e da importância de os conhecermos. Precisamos de os medir, de forma a tomar decisões e medidas de mitigação e adaptação adequadas. No entanto, arrumamos os riscos em gavetas, levando a que, muitas vezes, não exista uma visão holística sobre os mesmos.

A título de exemplo, nos riscos climáticos, quando se aborda a dupla materialidade, apenas temos em conta os riscos que a empresa tem sobre o ambiente e os riscos que as alterações climáticas têm sobre a empresa. Nesta visão segmentada, não enquadramos os riscos sociais, que inevitavelmente se relacionam nesta materialidade.

Esta falta de visão holística, leva a tomadas de decisão precipitadas e “manipuladas” por uma pressão externa de reputação ou de cumprimento regulatório. Se continuarmos a olhar os riscos climáticos de modo segmentado, o mapeamento dos riscos pode ficar aquém da realidade. Isto leva a medidas de adaptação e mitigação insuficientes para colmatar o risco real, podendo, até, desacelerar processos criativos de novas oportunidades.

Assim, ao falarmos de riscos climáticos ou ambientais, devemos cada vez mais adotar uma abordagem holística, em que aos riscos físicos e de transição devemos juntar os riscos sociais. Esta abordagem promove um comportamento mais proativo, em que em vez de tomarmos decisões reativas a pressões, passamos a questionar-nos sobre o processo, isto é, o para quê, porquê e só no fim questionamos o como. Passamos a questionar de modo ativo, e isso leva-nos a respostas e à visão holística referida no início.

Para ilustrar este facto, em vez de nos questionarmos apenas sobre o como vamos reduzir a pegada carbónica, ou que créditos de carbono vamos comprar, passamos a questionar-nos sobre como queremos realizar o processo de descarbonização e que ações devemos tomar para ao longo do processo criarmos externalidades positivas. Ou seja, como podemos através de um processo de descarbonização criar o maior impacto positivo nos nossos stakeholders.

A questão deixa de estar, então, dependente de pressões externas, reputação e cumprimento regulatório, e passa a ser estrutural e de procura de criação do maior valor possível. A externalidade e a ligação ao social, vem criar uma maior sinergia entre os riscos climáticos, ecossistemas e stakeholders.

Se deixarmos de arrumar os riscos em gavetas, se olharmos para os riscos e a dupla materialidade de modo holístico, perceberemos que os riscos sociais fazem parte desta materialidade. Assim, passaremos de uma dupla materialidade, a uma materialidade global, humanizando o problema (o risco).

Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres que detém expertise técnica na área. Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com)

  • Francisca Onofre
  • Direção de Sustentabilidade da Fidelidade

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