
Riscos e Estratégias de Curto e Longo Prazo
Helena Chaves Anjos descreve e explica como cenários macroeconómicos e tendências de longo prazo definem decisões de gestão de riscos.
O setor segurador enfrenta atualmente um contexto de elevada complexidade e incerteza, no qual tendências macroeconómicas, demográficas, tecnológicas e ambientais transformam riscos em oportunidades estratégicas. A resiliência das seguradoras depende cada vez mais da capacidade de antecipar estas alterações estruturais e de integrar cenários de curto, médio e longo prazo nas decisões de governação e nos seus modelos de risco.
Apesar da resiliência observada no primeiro semestre de 2025, os cenários macroeconómicos projetados pela OCDE1, no seu relatório intercalar de setembro, “Encontrar o equilíbrio certo em tempos de incerteza”, apresentado em Paris a 23 de setembro, sinalizam um abrandamento do crescimento global e riscos geopolíticos persistentes. O crescimento manteve-se mais resiliente do que o esperado, especialmente em muitos mercados emergentes e nos Estados Unidos, com a produção industrial e o comércio impulsionados por antecipações de aumentos tarifários.
No entanto, os riscos negativos aumentaram, incluindo o impacto de tarifas mais altas e a persistente incerteza política, que podem afetar investimento e comércio, reforçando a necessidade de decisões estratégicas robustas no setor privado e de reformas no setor público. Estas tendências macroeconómicas, embora assimétricas entre economias avançadas e emergentes, constituem uma base de reflexão estratégica para o setor segurador, no que respeita à avaliação de riscos e oportunidades.
O crescimento económico mais moderado, a pressão sobre a inflação e a volatilidade nos mercados financeiros exigem que as seguradoras alinhem a gestão de risco com a estratégia de negócio, ponderando os impactos em produtos e serviços nos vários ramos — Vida, Saúde e Não Vida. A transição energética e as alterações climáticas acrescentam uma dimensão adicional, com efeitos complexos sobre sinistralidade, rendibilidade e solvência, enquanto o envelhecimento populacional e as transformações demográficas reforçam a necessidade de produtos e modelos adaptados a horizontes de risco de muito longo prazo.
Num plano mais operacional, a integração de cenários macroeconómicos, adversos mas plausíveis, de longo prazo nos modelos de risco permite às seguradoras simular diferentes trajetórias de mercado, avaliar vulnerabilidades e testar a robustez das decisões estratégicas, de médio prazo, perante múltiplos desfechos possíveis. Este exercício não se limita a técnicas financeiras avançadas, mas traduz-se em informação útil para a governação de riscos e sua supervisão: desde diversificação de produtos, decisões de alocação de capital, definição de prémios, políticas de provisões e estratégias de cobertura de riscos. A combinação de visão estratégica e análise de cenários torna-se, portanto, um instrumento essencial para assegurar a estabilidade financeira e a sustentabilidade do negócio e a proteção dos clientes.
A tecnologia e a inovação desempenham papel transversal neste contexto. O uso de inteligência artificial, análise avançada de dados e digitalização de processos permite às seguradoras antecipar padrões de sinistralidade, otimizar produtos e serviços, e aumentar a eficiência operacional. Contudo, a inovação exige uma atenção redobrada da supervisão humana dos riscos prudenciais, garantindo que os novos instrumentos e modelos internos de gestão de riscos respeitam requisitos regulatórios, de transparência, explicabilidade e auditabilidade, que reforcem a confiança do mercado e credibilidade do setor financeiro.
Nesse sentido, a governação e a supervisão prudencial assumem um papel central. Uma boa governação, suportada por modelos sólidos de articulação e coordenação de sistemas complexos de informação, gestão de risco e níveis de supervisão, reforça significativamente a resiliência institucional, especialmente quando cenários estratégicos de longo prazo estão integrados nos processos de decisão. A antecipação destes riscos estruturais — climáticos, demográficos e tecnológicos — vai além da exigência regulatória, configurando-se como uma prática de gestão sã e prudente, que protege simultaneamente o negócio e os clientes.
Em síntese, o setor segurador enfrenta desafios múltiplos, contudo, a resposta estratégica passa pela gestão de risco robusta e governação prudencial, no âmbito da análise de cenários de curto, médio e de longo prazo, antecipar tendências macroeconómicas, integrar riscos emergentes e adaptar a inovação tecnológica de forma estruturada constitui a base para decisões informadas, atempadas e antecipatórias, capazes de sustentar a resiliência e competitividade das seguradoras num ambiente económico em transformação.
A reflexão estratégica e a abordagem estruturada no que respeita a cenários macroeconómicos, e aos riscos e oportunidades estruturais deve, portanto, ser contínua e incorporada nos processos de decisão, reforçando a confiança dos vários stakeholders e a capacidade do setor para enfrentar desafios futuros com robustez e previsibilidade.
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