No País dos dois Governos onde nenhum permite que o outro governe, o Chega é o pivot essencial ao caos da ingovernabilidade.

O Governo não tem manual de sobrevivência. Ocupa os gabinetes dos Ministérios, mas não está no poder. Parece muito sério e responsável, mas tudo não passa de poses e aparências. O Governo da República gere o dia-a-dia com o rigor forense de um trabalhador precário. Com um contrato com os portugueses a termo certo, mas sem a certeza do termo, o Governo exibe uma completa ausência de iniciativa política, demonstra uma lentidão exasperante nas propostas que não existem, revela que está mais atento ao relógio de ponto da Legislatura do que aos problemas do País.

Minoritário como nenhum outro, o Governo expõe aos portugueses uma reinterpretação do provincianismo sem devolver qualquer contributo à paróquia nacional. Falta rasgo, coragem, imaginação, falta tudo aquilo que a política deve ser, sobra tudo aquilo que política não é. E a política não é o debate em circuito fechado sobre revanchismos e ressentimentos. E se dominam os revanchismos e os ressentimentos o Governo não está a fazer nada para além de pensar no próximo contrato a prazo estabelecido em eleições antecipadas.

Há uma espécie de “física da lamentação” no Primeiro-Ministro. Fala pouco, diz menos ainda, declara o óbvio, decreta o seguro de vida político e expõe-se como candidato a vítima. Julga que o silêncio é símbolo de autoridade, mas esquece que o silêncio também é síndrome da mediocridade. O Governo não abriu as hostilidades políticas com uma ou duas propostas que revelassem uma visão para o País. Nem por sombras e bem pelo contrário. O Primeiro-Ministro não é liberal nem social-democrata nem conservador nem se coloca à direita nem ao centro. O Primeiro-Ministro ocupa o cargo com todas as doutrinas possíveis a pensar sempre no dia seguinte. O tempo político deste Governo é o tempo político de uma eleição.

Para tornar o ambiente político mais insuportável, surgem imediatamente os lugares comuns da política nacional. O estado calamitoso das finanças públicas, a desorganização da administração pública, os dossiês parados, as decisões nebulosas, a irresponsabilidade do Governo anterior que vendeu um País paraíso e que deixa um Portugal inferno.

Para tornar o ambiente político mais insuportável, surgem imediatamente os lugares comuns da política nacional. O estado calamitoso das finanças públicas, a desorganização da administração pública, os dossiês parados, as decisões nebulosas, a irresponsabilidade do Governo anterior que vendeu um País paraíso e que deixa um Portugal inferno.

Na conferência inferno do Portugal contemporâneo existe um País parado e adiado que continua perpetuamente à espera de um grande líder. Os estadistas não existem na actual geração de políticos e a política é este jogo atroz e repugnante onde se transpira ambição, cinismo, hipocrisia. O domínio da máquina do Estado, a distribuição dos “empregos públicos”, a solução política tradicional de um caciquismo pós-moderno como método de governação. Cada partido é um átomo político de causas sem consequências, mas recusam o mergulho na profundidade da matéria política. O estilo leve, imprevisível, errático, fútil, de um Presidente da República que afirma que se sente bem entre os jovens é bem o símbolo de uma República decrépita. Podemos afirmar com propriedade que o País está ingovernável.

O súbito e acelerado aumento da componente parlamentarista da República está a revelar o pior da cultura política portuguesa. A pulverização em vez do pluralismo, o sectarismo no lugar das novas ideias políticas, a visão de que a política é a destruição do adversário e não a afirmação de uma qualidade política, tudo resulta num País que se deslaça por todos os lados entre as declarações de juras eternas e as promessas falsas. Deixou de existir a distinção entre o poder efectivo, o poder alternativo, o poder iminente. Os portugueses têm apenas direito aos poderes fácticos que integram as clientelas e excluem o País.

Se Portugal precisa de dois para dançar um tango político, o País precisa apenas de um para estabelecer uma “tanga política”. Não é apenas a revisitação do infeliz slogan do “País de tanga” por parte do Governo, mas sobretudo a nova atitude de um PS oportunista, cínico, ofendido no seu entendimento exclusivo e dominante, que se dedica ao exercício parlamentar do calculismo hipócrita e de curto prazo. O Secretário-Geral do PS é uma negação do PS fundador da Democracia, insensível à ética republicana, educado nos jogos de salão dos corredores da política partidária onde tudo é troca e contra troca para tudo acabar com o PS no poder e o País devolvido a um jogo viciado de soma nula. Este é um PS sem memória onde só o PS é o partido natural do Governo. O PS está transformado num partido superficial e deslumbrado com o espelho de Narciso.

No País dos dois Governos onde nenhum permite que o outro governe, o Chega é o pivot essencial ao caos da ingovernabilidade. O Chega é o “insecto da estação”, voando politicamente por entre a “podridão do regime”. Enquanto o Chega voa, o PS é o compasso da República em declínio. E o Governo é o “idiota útil” que aguarda pela decapitação enquanto finge que governa. Vermelho e Verde.

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