Transformação Digital: Desafios e Oportunidades na Era da Inovação Tecnológica

  • Vincent Van de Winckel
  • 17 Julho 2024

O consultor da indústria seguradora Vincent Van de Winckel explica que a modernização tecnológica nas companhias já não é uma opção e vai refletir sobre os caminhos que devem seguir.

A transformação digital do setor de seguros começou com a introdução de sistemas de TI e mainframes na segunda metade do século XX. Então, porque é que este tema se tornou tão relevante nos últimos anos e o que está a impulsionar esta tendência? Porque é que o setor de seguros embarcou na jornada de transformação digital mais tarde do que outras indústrias? Qual é o principal foco da indústria agora?

Embora seja verdade que a indústria nunca parou a sua transformação digital, foi a aceleração do ritmo com que a sociedade se tornou mais digital que deixou os seguros para trás. À medida que a web evoluiu da versão 1.0 – caracterizada por dados e motores de busca – para a versão 2.0 – onde a internet portátil impulsionou as redes sociais e tornou a partilha de dados e as interações digitais a norma – os seguros permaneceram estagnados por muito tempo. O que explica que, embora outros negócios físicos tenham tornado os seus produtos e serviços mais disponíveis e convenientes para os consumidores online, a indústria de serviços financeiros tenha demorado mais?

O primeiro fator é a natureza do negócio, que eleva as barreiras de entrada para novos entrantes. Comparado com outros, o setor de serviços financeiros requer mais capital, é mais regulado e necessita de investimentos significativos em TI para funcionar. Em segundo lugar, a complexidade, a arquitetura e a idade da infraestrutura de TI instalada dos incumbentes num determinado mercado são semelhantes, tal como a dificuldade percebida de transformá-la. Um terceiro motivo que retardou a necessidade percebida da indústria de se adaptar são produtos menos padronizados e mais complicados que os consumidores têm mais dificuldade em comparar e substituir. Finalmente, tendo poucos pontos de contacto com os seus clientes, as seguradoras tradicionais não sentiram a urgência de digitalizar ou tornar as interações com os clientes mais convenientes.

O aparecimento progressivo e mais frequente de empresas tecnológicas com soluções que abrangem todas as etapas da cadeia de valor dos seguros mudou esse status quo. Procurando preencher a lacuna deixada pelos players tradicionais que não tinham uma proposta de valor satisfatória para os consumidores modernos em busca de conveniência e novos produtos, as neo seguradoras e insurtechs – como Lemonade, Getsafe, Bought By Many, Wakam ou Wefox – surgiram usando a nova tecnologia disponível e cresceram fortemente.

Determinantes da transformação digital no setor de seguros – A imagem destaca as fases de evolução com setas indicando a progressão e inclui contextos importantes como elevadas barreiras à entrada, infraestruturas complexas e antigas, poucos pontos de contato com os clientes, concorrência com insurtechs e a necessidade de escolher soluções de TI modernas.

Para enfrentar esta concorrência crescente com capacidades de subscrição de risco, os operadores tradicionais começaram a adquirir e a fazer parcerias com start-ups inovadoras que ofereciam a tecnologia e o know-how que lhes faltava para proporcionar aos clientes a experiência de utilizador que eles esperavam também dos seguradores.

No entanto, transformar tecnologias obsoletas tem os seus limites e torna difícil satisfazer às expectativas dos clientes modernos. Conectar-se com fornecedores de informações de terceiros ou com tecnologias insurtech de ponta torna-se um grande problema com sistemas legados. O esforço em termos de tempo, pessoal e dinheiro, para manter e desenvolver sistemas obsoletos que utilizam linguagens, bases de dados e arquiteturas desatualizadas aumentou drasticamente para muitas empresas.

Embora parte deste esforço – também chamado de dívida técnica (technical debt) – seja inevitável, passa de um tópico importante para um urgente quando impacta negativamente o balanço corporativo. Quando os sistemas são fechados, incapazes de se conectar a tecnologias inovadoras e os seguradores constroem “remendos” ineficientes que dão a aparência de normalidade, a dívida técnica transforma os sistemas legados no principal fator que limita a velocidade e a capacidade da transformação digital dos incumbentes.

Como as seguradoras agora percebem, os componentes fundamentais do Sistema de Administração de Apólices de ontem – arquitetura, stack tecnológico e funcionalidades – contribuem para a redução da flexibilidade, escalabilidade e prontidão digital.

Para contornar essa limitação e avançar com sucesso na sua necessária jornada de transformação digital, os seguradores com sistemas legados estão agora focados em escolher uma solução de TI moderna que seja adequada para a sua empresa.

Abraçar um processo de modernização e adoção de uma nova plataforma de seguros, porém, é um momento raro na vida de uma organização. É provável que poucas ou nenhumas das pessoas numa determinada seguradora já o tenha feito antes, na sua empresa atual ou em qualquer outra. Como proceder e selecionar o novo sistema central que eventualmente impactará e condicionará o sucesso da empresa, a curto e médio prazo, pode parecer assustador. Mas não deveria ser!

Os tempos modernos exigem soluções modernas e uma nova abordagem para a seleção de sistemas centrais

Os incumbentes precisam de plataformas abertas e flexíveis com as capacidades necessárias para responder às expectativas dos clientes de hoje e de amanhã. Sendo o imediatismo a regra, o tempo está contado. As seguradoras precisam de alinhar a qualidade da sua oferta de serviços rapidamente ou correm o risco de perder clientes para os seus concorrentes mais digitais. As metodologias ágeis combinadas com a modularidade das plataformas modernas de seguros tornaram obsoletos os longos processos tradicionais de seleção e implementação.

Frequentemente confrontado com empresas e CIOs em busca de orientação, quis destacar alguns fatores chaves do processo de transformação das seguradoras que passa, inexoravelmente, pela modernização do sistema central.

Abordarei os fatores externos e internos que pressionam as seguradoras para modernizarem os sistemas core. Explicarei os benefícios da adoção de plataformas modernas de gestão e procurarei dar pistas para a escolha do sistema adequado à seguradora. Por último, os caminhos para a troca de sistema não sendo todos iguais, farei referência a uma estratégia que vise uma renovação progressiva da infraestrutura tecnológica, resultando num ROI de curto prazo.

NOTA: Este artigo é o 1º de uma série da autoria de Vincent Van de Winckel a publicar ao longo dos próximos meses.

  • Vincent Van de Winckel
  • Consultant & TDI Ambassador for Europe

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